terça-feira, 9 de janeiro de 2018

São precisos “dois meses de chuva como hoje” para acabar com a seca


O ministro do Ambiente afirmou esta terça-feira que só com dois meses seguidos de chuva como a que está a cair hoje é que será possível inverter a situação de seca. O maior problema agora é a Sul, mas as chuvas dos últimos dias já permitirão chegar até Abril "sem sobressaltos".
São precisos "dois meses de chuva como hoje" para acabar com a seca
Reuters

Filomena  Lança Filomena Lança filomenalanca@negocios.pt
09 de janeiro de 2018 às 13:21

As chuvas que estão a cair nos últimos dias deixam algum conforto, mas estão longe de ser suficientes. Para que se inverta a situação de seca que uma parte significativa do país ainda atravessa, seriam precisos "dois meses de chuva como hoje", afirmou esta terça-feira, 9 de Janeiro, o ministro do Ambiente.

Matos Fernandes falava aos jornalistas no final da primeira reunião de concertação social de 2018 que teve como tema o combate à seca. O objectivo foi fazer um balanço das medidas já tomadas pelo Executivo e  que "permitiram que grande parte das culturas tivesse sido levada até ao fim" e, por outro lado, "preparar o melhor possível o próximo ano".

Graças às chuvas de Dezembro e agora deste início de Janeiro, acima do Tejo já não existe seca, mas a Sul esta mantém-se intensa, sobretudo na bacia hidrográfica do Sado, onde  a quantidade de água das barragens "em pouco ultrapassa os 20%", referiu Matos Fernandes. Ainda assim, as reservas que há agora permitirão chegar "até Abril sem sobressaltos". Depois disso, as chuvas de Abril e Maio serão determinantes.

Pouco depois, também à saída da reunião, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa partilhou as preocupações: "A chuva de hoje serve para dar de beber às plantas, mas não é suficiente para achar que a seca é uma situação do passado", avisou.

Agricultores têm de dizer a quantidade de água de que precisam este ano

A sul, Alqueva é a resposta à seca. A barragem "tem uma grande capacidade" e poderá levar a água onde for precisa "desde que de forma programada". Assim, alertou o ministro do Ambiente, já no final de Janeiro os agricultores e associações de regantes "vão ter de dizer a água que precisam". Como esta água é paga, no ano passado ficaram à espera que chovesse e a programação não ocorreu da melhor forma. Para este ano, "no final de Janeiro tem de ficar definida a quantidade de agua a transferir paras as bacias hidrográficas", sublinhou.

Aos consumidores e agricultores, José Matos Fernandes deixou um alerta: daqui para a frente a palavra de ordem tem de ser "adaptar". "Temos mesmo de nos adaptar a um tempo com menos água. Todos nós, consumidores comuns e agricultura, que consome 80% da água. É essencialmente esse o caminho".

E é já no sentido da adaptação às alterações climáticas que vai o plano nacional de regadios preparado pelo Ministério da Agricultura, afirmou, por sua vez, o ministro Capoulas Santos, também em declarações no final da concertação social.

"O Alqueva foi concebido para regar 120 mil hectares e nós vamos acrescentar-lhe mais 50. Por forma a dar respostas de forma sustentada", exemplificou o ministro. Capoulas Santos lembrou mesmo que em 2017 "o ano agrícola foi positivo, ainda que de forma assimétrica" e as explorações agrícolas registaram crescimentos, como "o vinho e o azeite, que no regadio teve aumentos muito grandes de produção porque no regadio foi possível manter toda a campanha de rega até ao fim". A produção agrícola do país aumentou 7%, mas no entanto, houve sectores muito afectados, nomeadamente o do arroz no Vale do Sado e o sector pecuário. "Houve pessoas que foram obrigadas a vender os seus animais" e que tiveram prejuízos difíceis com quantificar, disse o ministro.

Ajudas prometidas não chegam aos agricultores, diz a CAP

"Temos de melhorar as condições de reserva de água para assegura água para o abastecimento urbano e assegurar uma regularidade de abastecimento de água para a agricultura", alertou Eduardo Oliveira e Sousa. E Alqueva não é resposta para tudo, porque "precisamos de soluções para outras zonas como as de Trás-os-Montes, Beira Interior ou zonas do Alentejo onde Alqueva não chega".

Por outro lado, frisou o representante dos agricultores na Concertação Social, "a seca é muito mais do que isso" e há o caso dos produtores pecuários, cujos animais "passaram fome e sede dias a fio".

Houve "pessoas que solicitaram ajuda na Primavera do ano passado e ainda não chegou", denunciou o presidente da CAP. Em 2017, "há 20 e poucos mil euros, de 15 milhões potenciais que foram colocados à disposição dos agricultores. Alguma coisa correu mal", lamentou. "Porque não receberam e porque demora tanto tempo numa situação de emergência? Os agricultores tiveram que vender animais". 

As linhas de crédito anunciadas pelo Governo também não são resposta porque, diz Eduardo Oliveira e Sousa, "nós sabemos o que os bancos fazem com pessoas que têm problemas à sua frente" e "localmente há pessoas que vivem uma tragédia", rematou.

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