sábado, 24 de junho de 2017

Lusiaves oferece trabalho a quem ficou sem emprego em Pedrógão


23 DE JUNHO DE 2017 - 17:40

A empresa está a contratar e vai disponibilizar um autocarro para transportar as pessoas para as unidades onde serão empregadas.

O grupo Lusiaves vai contratar 50 pessoas, com possibilidade de início imediato, para as unidades do grupo situadas na Figueira da Foz e Monte Redondo. Na sequência dos incêndios cerca de 200 pessoas ficaram sem emprego em Pedrógão Grande e, por isso, a Lusiaves vai dar prioridade a esses casos.

Em informação enviada à TSF, o presidente do Grupo Lusiaves, Comendador Avelino Gaspar, vai disponibilizar as 50 vagas e ainda um autocarro para transportar os novos colaboradores.

Os interessados deverão contactar o Grupo Lusiaves para o telefone 244 843 250, para o Centro de Emprego de Pedrógão Grande ou ainda para a Divisão de Assuntos Sociais da Câmara Municipal de Pedrógão.

Navigator e altri oferecem plano de recuperação de infraestruturas


 COMUNICADO
 
A Altri e a The Navigator Company estão a acompanhar de perto, desde o primeiro momento, e a participar no combate à vaga de incêndios, especialmente violenta, que assolou o território português no passado fim-de-semana.
 
Neste momento dramático e de forte comoção nacional, a nossa primeira palavra dirige-se às vítimas do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e aos seus familiares, bem como a todos aqueles que, em condições adversas e com risco da própria vida, se empenham no combate ao fogo.
 
Nesse sentido a Navigator e a Altri decidiram contribuir com um milhão de euros, dos quais meio milhão de euros serão destinados ao fundo especial de apoio às organizações da sociedade civil da região de Pedrógão Grande, constituído pela Fundação Calouste Gulbenkian.
 
Esta contribuição visa ajudar a minimizar as consequências dos incêndios e da tragédia que afetou os municípios de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera.
 
As duas empresas florestais decidiram investir, adicionalmente, meio milhão de euros na recuperação de encostas, linhas de água e infraestruturas florestais, nas zonas afetadas pelos incêndios, conforme um plano técnico com 12 ações, disponibilizando ainda o apoio especializado das suas equipas.

Como lidar com os campos ao abandono?

Estado gasta 11 euros por hectare em prevenção de incêndios. Terrenos rurais pagam menos de um euro de impostos por hectare e 36% dos solos rústicos não têm qualquer exploração.

Portugal tem 2,9 milhões de proprietários de 8,4 milhões de hectares de solos rústicos

"O principal desafio do ordenamento do território é reduzir os danos causados pelo abandono de mais de um terço do solo rústico português", explica o investigador Pedro Bingre do Amaral. "O abandono tem custos", escreveu este professor do Politécnico de Coimbra, há três meses, numa comunicação promovida pelo Conselho Económico e Social.

O custo principal é mesmo o que agora está à vista de todos, depois da tragédia de Pedrógão Grande. Florestas e matos abandonados em regiões chuvosas, seja nos trópicos, seja no Noroeste da Europa, têm uma "dinâmica ecológica" diferente, que permite restaurar espontaneamente a vegetação e limitar os riscos de incêndio. Não é isso que se passa em Portugal, onde um terreno abandonado rapidamente se enche de vegetação "pirófila" (estevas, tojos ou urzes), de "alta inflamabilidade", explica Pedro Bingre. "Abandonar um terreno implica onerar o interesse público", resume o investigador.

Entre 2010 e 2015, arderam, em média, 127 mil hectares por ano, em Portugal. Cerca de metade estavam cobertos "apenas por matos". A maioria destes incêndios começa, precisamente, em zonas abandonadas, pondo em risco, depois, todo o tipo de florestas e mesmo populações. Com isso, "Portugal perde directa ou indirectamente em incêndios florestais perto de mil milhões de euros por ano", mostra Pedro Bingre. Trata-se de uma "situação calamitosa", que exigiria uma resposta eficaz.


Por isso, o investigador tem defendido, há vários anos, uma alteração da legislação em várias frentes. Desde logo, lidando com uma realidade culturalmente enraizada: a do fraccionamento da propriedade. "Em 14 dos 18 distritos do continente", explica, a área média não excede os 0,57 hectares, enquanto nos restantes quatro distritos essa média é de 10,85 hectares. E esta é uma realidade em agravamento constante, com a morte de proprietários que deixam em herança terrenos divididos por herdeiros que já abandonaram a terra ou não a pretendem utilizar economicamente. Muitos terrenos são, por isso, parte de "heranças jacentes", não reclamadas, que ficam num limbo legal, duplamente abandonadas. "Uma solução legal para este imbróglio poderia ser rever a tributação do património de modo a desincentivar o abandono, onerando sobre os proprietários os encargos da prevenção e combate aos incêndios", propõe Pedro Bingre.

Esta medida nunca foi tomada por uma razão fácil de entender: afectaria, calcula o investigador de Coimbra, boa parte dos 2,9 milhões de portugueses que são os proprietários de 8,4 milhões de hectares de solos rústicos, divididos em 11,6 milhões de parcelas. Actualmente, estes pagam de IMI, em média, 0,88 euros. Já o Estado, em 2016, gastou mais de 11 vezes esse valor, por hectare, em prevenção e combate a incêndios: 11,3 euros por hectare.

Por isso, Pedro Bingre defende que os Planos Directores Municipais passem a definir "um uso sílvicola básico e obrigatório" para todos os terrenos. E que os proprietários sejam integrados em "unidades de gestão" que explorem os terrenos ao abandono. Também as leis que regulam as sucessões deviam, defende o investigador, ser melhoradas para definir um prazo para as "heranças jacentes", findo o qual reverteriam para o Estado. Por fim, Pedro Bingre defende ainda que o valor patrimonial tributário dos terrenos passe a ser calculado "em função dos usos potenciais" e não pelo actual "coeficiente de localização", que em última análise agrava o desordenamento ao penalizar mais os terrenos cultivados e ao desonerar os abandonados. "O quadro jurídico da fiscalidade, da propriedade e das sucessões", conclui Pedro Bingre, tendem a "agravar fortemente o problema".

Feira Nacional do Mirtilo - de 29 de junho a 2 de julho em Sever do Vouga

O mirtilo volta a dar o mote para a realização de mais uma Feira Nacional do Mirtilo – a 10.ª – que este ano traz algumas novidades. A Capital do Mirtilo volta a estar em festa de 29 de junho a 2 de julho.



FEIRA NACIONAL DO MIRTILO

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facebook.com/feiradomirtilo

 

 


Bombeiros galegos impedidos de ajudar Portugal. Ministra fala em “excesso de voluntarismo”


20/6/2017, 16:5513.490

Autoridades portuguesas terão impedido 60 bombeiros galegos de entrar no país. A ministra da Administração Interna diz que as ajudas têm de ser "devidamente enquadradas".


Um grupo de 60 bombeiros florestais da Galiza, em Espanha, terá sido impedido pelas autoridades portuguesas de entrar no país, conta o jornal espanhol El Correo Gallego. A ministra da Administração Interna já comentou a situação e justificou-se com a necessidade de"garantir condições de segurança".

Os bombeiros têm de ser devidamente coordenados pelas autoridades nacionais de proteção civil de ambos os países. Tem de ser tudo centralizado e não podemos estar aqui com voluntarismos sob pena dessas pessoas poderem colocar em risco não só a sua vida como as demais. Isto está tudo a ser coordenado pelas autoridades competentes", disse Constança Urbano de Sousa.
O grupo foi formado ao longo da noite de domingo pelo departamento de bombeiros florestais do Ministério do Meio Rural em colaboração com governo regional da Galiza e ter-se-á voluntariado para combater os incêndios na zona de Pedrógão Grande. Os bombeiros galegos estavam munidos de dois camiões cisterna de 30 mil litros.

Foi uma sensação agridoce. Estávamos conscientes da situação que se passava em Portugal, estávamos prontos para intervir e ajudar as pessoas e uma questão burocrática impediu-nos de lutar contra um grave problema que tirou tantas vidas", contou um dos bombeiros ao El Correo Gallego.
De acordo com o jornal, o grupo chegou a Valença do Minho quando foi impedido pelas autoridades portuguesas por não terem "capacidade de receber tanta gente" e não poderem "dar autorização" para dirigir o grupo de bombeiros para a zona do incêndio. As autoridades agradeceram a ajuda e o grupo acabou por voltar para Espanha.

O Observador tentou obter informação junto de fonte do Ministério da Administração Interna mas não obteve resposta até ao momento.

Oitenta bombeiros espanhóis chegam esta terça-feira a Portugal para ajudar no combate ao incêndio de Góis, disse à agência Lusa fonte oficial do Ministério da Administração Interna (MAI). A mesma fonte adiantou que 40 bombeiros da Galiza chegam a Portugal por via terrestre e outros 40 operacionais de várias regiões espanholas por helicóptero.

Segundo o MAI, os bombeiros da Galiza chegam a Portugal com viaturas próprias e vão ser integrados numa coluna nacional. A chegada dos 80 bombeiros espanhóis para combater o incêndio de Góis insere-se no acordo bilateral existente entre Portugal e Espanha.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Downburst foi o fenómeno raro de vento que ajudou a propagar o incêndio, explica o IPMA ao governo


21/6/2017, 19:56

O IPMA considera que a "dinâmica" gerada pela conjugação entre incêndio e instabilidade climatérica, no sábado, em Pedrógão Grande, gerou no terreno condições excecionais para a propagação das chamas.


O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) considera que a "dinâmica" gerada pela conjugação entre incêndio e instabilidade climatérica, no sábado, em Pedrógão Grande, gerou no terreno condições excecionais para a propagação das chamas.

Na carta dirigida ao primeiro-ministro, António Costa, ao qual a agência Lusa teve acesso, o IPMA sustenta também que as suas previsões para a tarde de sábado, na região de Pedrógão Grande, estiveram dentro da margem de erro. Por outro lado, que os seus avisos feitos às populações seguiram as regras fixadas na relação com os serviços de proteção civil.

Estas posições estão assinadas pelo presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda, e surgem na sequência de um pedido de esclarecimento urgente do primeiro-ministro, feito na terça-feira, às previsões e às condições meteorológicas verificadas no sábado à tarde na zona de pinhal do distrito de Leiria, em particular no concelho de Pedrógão Grande.

Esta carta do presidente do IPMA foi já publicada no portal do Governo na Internet, tendo sido também enviada aos diferentes grupos parlamentares.

No que diz respeito às condições que determinaram situações no terreno de excecional gravidade, o IPMA advoga que "foram o resultado da conjugação da dinâmica do próprio incêndio e dos efeitos da instabilidade atmosférica, gerando downburst, ou seja, vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções".


Ilustração da NASA de um downburst. O ar desloca-se de cima para baixo e, ao chegar ao chão, espalha-se em todas as direcções.

Este fenómeno é por vezes confundido com um tornado, e tem um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direções muito diversas", salienta o presidente do IPMA na resposta a António Costa.
De acordo com as informações já recolhidas pelo IPMA, "o desencadeamento e/ou a propagação do incêndio poderá ter sido amplificado pela conjugação dos fatores descritos, e a importância excecionalmente elevada de efeitos locais relacionados com fenómenos de convecção atmosférica associados à humidade muito reduzida, e a dinâmica induzida pelo próprio incêndio".

Esta situação tão complexa e excecional está a ser objeto de um estudo aprofundado", é referido na missiva de Jorge Miguel Miranda, numa alusão a uma comissão entretanto nomeada para apurar em profundidade o que se passou na região de Pedrógão Grande na tarde de sábado.
Em relação às previsões feitas pelo IPMA para a região de Pedrógão Grande para a tarde sábado, na carta dirigida a António Costa sustenta-se que "os valores previstos com quatro dias de antecedência se vieram a confirmar pelos valores medidos, com desvios reduzidos em termos de temperaturas máxima e mínima, humidade relativa e velocidade média do vento".

Segundo os dados do IPMA, no caso da humidade relativa "existe uma variação um pouco mais significativa, se bem que os valores previstos no dia anterior, correspondendo à informação mais relevante, foram ligeiramente inferiores ao observado (14% em vez de 17%). Estas diferenças têm pouco significado físico".

No que diz respeito à velocidade do vento, existe uma variação mais significativa ao longo dos quatro dias anteriores, mas a previsão realizada com 24 horas de antecedência reproduz bem as observações (21 km/h em vez de 18 km/h). Neste sentido, o sistema de previsão meteorológico para as condições de superfície, funcionou de forma correta, dentro de margens de erro expectáveis, definindo o quadro sinóptico de tempo muito quente, com temperaturas máximas muito elevadas, próximas de 40ºC, temperaturas mínimas igualmente elevadas, humidade relativa muito baixa, vento fraco ou moderado nos locais elevados, e condições de instabilidade, com possibilidade de ocorrência de aguaceiros de trovoadas durante a tarde".
Na carta de resposta enviada a António Costa, este instituto adianta, igualmente, que do mesmo modo se "confirma que os níveis de avisos emitidos estavam de acordo com as regras fixadas entre o IPMA e a ANPC (Autoridade Nacional de Proteção Civil)".

Como os deputados resolveram em 75 minutos concluir em 30 dias uma reforma parada há dois meses


21/6/2017, 20:16159
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Apenas numa hora, deputados decidiram aprovar cinco propostas para reforma florestal que estavam à espera no Parlamento há dois meses. Houve dúvidas, mas ninguém quis atrasar o processo.

Houve críticas e muitas dúvidas sobre a conclusão em apenas um mês da reforma florestal, que está a ser preparada desde outubro passado e à espera no Parlamento há dois meses. Mas, numa fase de grande pressão depois do que se passou em Pedrógão Grande, nem os partidos mais hesitantes quiseram ficar com o ónus de travar um processo legislativo que domina a ordem do dia, pelas piores razões. Em 75 minutos de discussão, resumiram a um mês o tempo para dar resposta às propostas que aguardavam aprovação há dois meses. A parte da reforma florestal que depende do Parlamento vai ser aprovada até 19 de julho, custe o que custar.

Foi uma reunião da Comissão de Agricultura com mais atenção mediática do que é comum e com alguma tensão extra entre os deputados. Depois da tragédia de Pedrógão Grande, um dos holofotes voltou-se para o Parlamento, por ter recebido, a meio do mês de abril, cinco propostas do Governo relativas à reforma florestal e até agora nada ter feito. A isso, juntou-se a pressão presidencial, com Marcelo Rebelo de Sousa a pedir, em declarações ao Expresso, que "antes das férias" parlamentares exista um pacote legislativo sobre questões relativas à gestão da floresta (penais e de ordenamento do território). "Sobre tudo, mas tudo é tudo", avisou Marcelo. Já o primeiro-ministro, foi mais compreensivo e, em entrevista à TVI, disse que não ia "pedir à Assembleia da República que faça uma reforma destas em cima do joelho". Mas no balanço entre os dois, o Parlamento foi pelo apelo do Presidente.

17h15 – Na discussão, esta quarta-feira na comissão parlamentar, o PS propôs que se constituísse um grupo de trabalho, com "o foco neste debate legislativo" e com diplomas aprovados até dia 19 de julho, dia do último plenário de votações, como tinha avançado o Observador. O Bloco de Esquerda queria chegar à votação no mesmo dia, embora com todo o processo a decorrer na comissão, em vez de ser num grupo de trabalho.



Até à decisão, houve uma discussão intensa, com os sociais-democratas a recusarem "ceder à pressão mediática. A reforma que aqui está em discussão é uma das maiores reformas que se vai discutir nesta legislatura", alertava o deputado Maurício Marques, do PSD. Juntava-se a deputada Patrícia Fonseca, do CDS, que considerou "lamentável que agora se venha legislar à pressa sobre um assunto desta ordem de importância para o país". Legislar "à pressa", disse ainda, "não vai trazer de volta a vidas das 64 pessoas que morreram em Pedrógão e nem vai resolver os problemas estruturais da nossa floresta".

No PCP, o deputado João Ramos dizia que "o primeiro objetivo não é despachar rápido": "Se estiver em causa a eficácia do processo legislativo, devemos pensar sobre o que estamos a fazer". Nos Verdes, Heloísa Apolónia dizia que o processo legislativo "não pode ser enviado para as calendas, deve ser trabalhado com a urgência que o país pede. Mas o pior que podemos fazer é construir processos legislativos em cima do joelho", avisava.

Apesar de todas estas declarações, os que levantaram dúvidas sobre os riscos de acelerar o processo afirmaram que não queriam ser um bloqueio.

Do outro lado, no Bloco, Carlos Matias argumentava que "ninguém vai perceber que se passe mais uma sessão legislativa sem a Assembleia da República tomar decisões. Percebemos que é um calendário apertado mas estamos disponíveis para dar o nosso melhor". O deputado também acrescentava que "os cinco diplomas do Governo são conhecidos há muito tempo, desde outubro", ou seja, ninguém precisaria de tanto tempo assim para decidir o que fazer. No PS, Júlia Rodrigues falava na "obrigação" e na "responsabilidade" dos deputados perante o que tinham em mãos há dois meses e irritava Maurício Marques: "Não devemos permitir que o ónus do que está a acontecer no país recaia sobre a Assembleia da República por falta de legislação, até porque a legislação que está em vigor não foi cumprida", acusou.



17h50 – A sala estava quente. O presidente da comissão, Joaquim Barreto (PS), encerrou a discussão e, com as vontades expostas na mesa, deu uns minutos para um intervalo, que Bloco de Esquerda e PS aproveitaram para acertar agulhas, que é como quem diz, concertar projetos e chegar a um entendimento.

18h00 – No final, tudo acabou com uma proposta conjunta entre PS e BE que ficava a meio caminho entre o que cada um dos partidos tinha proposto. Até 11 de julho, num grupo de trabalho (coordenado pelo PSD e constituído por nove deputados), os partidos terão de dizer que entidades implicadas pela reforma querem chamar para audição e ouvi-las, tendo também de reunir as propostas de alteração que sejam apresentadas. A partir dessa data, o trabalho passa para a comissão parlamentar, que vai debater e votar as propostas que depois seguem para o plenário e serão votadas, a 19 de julho. A proposta foi aprovada com os votos favoráveis do PS, PCP, BE e Verdes, mas CDS e PSD abstiveram-se.

Até 23 de junho, partidos têm de apresentar a lista de entidades que querem ouvir;
De 25 de junho a 5 de julho as entidades são ouvidas num grupo de trabalho, presencialmente ou por escrito;
Até 11 de julho os partidos têm de apresentar as propostas de alteração que queiram incluir no debate na especialidade;
Entre 12 e 14 de julho decorrerá a discussão e a votação na especialidade
19 de julho é a votação final global
 

 

 
No acerto final ainda se afinaram, ali mesmo, à mesa da comissão e à vista de todos, detalhes da proposta, como por exemplo, quantos membros teria o grupo de trabalho. "Dois para cada um?" perguntava o deputado Carlos Matias do BE a Júlia Rodrigues do PS. "Sim", ouvia de resposta para logo a seguir informar o presidente: "Dois para o PS, dois para o PSD e um para cada um dos outros grupos parlamentares". Ali também o PSD negociou logo que além dos dois deputados — como tinha também de indicar o coordenador –, ficava com mais um lugar na comissão. E ficou de dizer se irá presidir aos trabalhos. Pelas 18h30, a reforma florestal de que tanto se fala por este dias ficou com uma luz ao fundo do túnel.

José Carlos Resende: “A maioria das pessoas sabe que tem um terreno, mas desconhece onde se situa”


O facto de não serem conhecidos os donos dos terrenos dificulta operações de limpeza e responsabilizações essenciais para evitar incêndios, diz José Carlos Resende.
José Carlos Resende: "A maioria das pessoas sabe que tem um terreno, mas desconhece onde se situa"

21 de junho de 2017 às 21:19

O bastonário dos Solicitadores explica que está a trabalhar com o Governo no sentido de utilização do projecto Geopredial, da Ordem, para facilitar a identificação dos prédios rústicos por limites. O Sistema Cadastral Simplificado, diz, é um avanço, mas devia ir mais além.

O Governo avançou recentemente com o sistema cadastral simplificado. Poderá ser importante para garantir a limpeza das terras, essencial no combate aos incêndios?
A criação do sistema cadastral simplificado faz parte daquelas pequenas coisas que a médio prazo podem ser muito importantes para desatar este nó que tem sido o problema da gestão florestal. Uma gestão florestal racional implica em primeiro lugar saber de quem é a floresta e hoje em dia ninguém sabe. A maioria das pessoas sabe que tem um terreno, mas desconhece onde se situa. Quando é preciso fazer limpezas, corta-fogos ou alargar os perímetros de protecção às estradas, não se consegue fazer por desconhecimento de quem são os proprietários. E as entidades publicas se intervierem sem autorização estão sujeitas a ter de pagar indemnizações. 
 
O Estado não pode limpar um terreno privado sem autorização?
Pode, mas está a entrar em propriedade privada, tem de abrir um processo administrativo para notificar o proprietário, não sabe quem é… Se tivesse de expropriar e pagar cinco metros ao largo de cada estrada deste país, não tinha orçamento para isso. E as faixas de protecção nas estradas florestais podem evitar desgraças. Mas não é fácil, há desde logo uma resistência das pessoas.  
 
Como é possível que os proprietários desconheçam os seus terrenos?
Muitos proprietários, sobretudo nas zonas de minifúndio, desconhecem em absoluto. Até porque deixaram de os usar. Por vezes, os solicitadores não conseguem identificar os prédios rústicos que penhoram.

As Finanças também não sabem?
Não. Só as cadernetas prediais urbanas têm referencias geográficas. Nas rústicas, onde não há cadastro, não sabe. E o cadastro, não abrange uns quatro quintos dos prédios. Cerca de dois terços em termos de área.
 
O sistema cadastral simplificado vai resolver?
Vai permitir à pessoa dizer que o seu prédio é num determinado local. Mas depois, falta saber quais são os limites. É uma vantagem, um avanço que tem de ser saudado, mas na nossa opinião devia avançar-se para a identificação por limites, com a criação de incentivos. Temos algum receio que a forma simplista como se pode indicar a localização do prédio, sem nenhuma espécie de confirmação por um profissional, seja um pouco excessiva.
 
E terá utilidade?
Tendo estas indicações, já será possível responsabilizar os proprietários. Hoje em dia, a situação é tal, que nada impede de eu vender cinco mil metros quadrados de um terreno situado a norte da Freguesia, para anexar a um outro situado a sul. Temos colegas a relatar situações dessas. Porque o nosso registo predial é cego em termos de localização, feito por declarações, à moda do século XIX.  Temos trabalhado com o Governo no sentido de desenvolver o projecto Geopredial, que facilita a identificação, de forma georreferenciada, dos terrenos rústicos. 
 
Em que sentido?
O Governo ouviu-nos em relação cadastro simplificado. E temos já mais de 300 colegas a fazer levantamento geopredial. Não é exclusivamente a identificação de um ponto do terreno. São identificados os limites do prédio e anexam-se os documentos de registo. E é feito um auto de constatação que fica disponível on-line para que a pessoa a qualquer momento possa mostrar o seu prédio. 
 
E que utilidade terá para o cadastro público?
Será disponibilizado para o cadastro público. A plataforma da Ordem que recebe este trabalho interagirá com o cadastro público para todos os efeitos. Está completamente disponível. Não deve haver aqui capelinhas encerradas.

Pedrógão Grande. IPMA diz que acertou previsões, mas houve vento em "todas as direcções" e outras "condições excepcionais”



21 jun, 2017 - 19:43 • Paula Caeiro Varela

A Renascença teve acesso à resposta do instituto às perguntas do primeiro-ministro. Fenómeno semelhante a um tornado potenciou situação "de excepcional gravidade". Previsões foram as correctas.

GNR diz que não tinha "qualquer indicador ou informação" que indicasse "risco" em usar a EN 236-1

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) já respondeu às dúvidas do primeiro-ministro, considerando que ocorreram "condições excepcionais" que levaram a situações de "excepcional gravidade" na região de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.

Num despacho emitido na segunda-feira, António Costa perguntou ao IPMA se "houve no local circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares que possam explicar a dimensão e intensidade da tragédia, em especial no número de vítimas humanas, sem paralelo nas ocorrências de incêndios florestais", "tão frequentes em Portugal".

Na resposta que enviou ao primeiro-ministro, a que a Renascença teve acesso, o presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda, esclarece que se gerou um fenómeno de "downburst", ou seja, "vento de grande intensidade que se move verticalmente em direcção ao solo", que "sopra em todas as direcções" e que, por vezes, é "confundido com um tornado".

Este fenómeno tem "um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direcções muito diversas".

A propagação do incêndio foi ainda amplificada devido a "fenómenos de convecção atmosférica associados à humidade muito reduzida e a dinâmica introduzida pelo próprio incêndio".

Jorge Miguel Miranda responde a Costa que, devido a esta "situação tão complexa e excepcional", foi nomeada uma comissão para estudar o ocorrido, como a Renascença noticiou na terça-feira.

O IPMA esclarece ainda que as previsões feitas quatro dias antes e acertadas 24 horas antes foram as correctas para a região, "com desvios reduzidos em termos de temperatura máxima e mínima, humidade relativa e velocidade média do vento".

"O sistema de previsão meteorológica para as condições de superfície funcionou de forma correcta, dentro de margens de erro expectáveis", garante Jorge Miguel Miranda. "Os níveis de avisos emitidos estavam de acordo com as regras fixadas entre o IPMA e a ANPC" (Autoridade Nacional de Protecção Civil), acrescenta a resposta.

Outra entidade a quem António Costa endereçou uma pergunta foi a GNR. O primeiro-ministro quis saber "porque não foi encerrada ao trânsito" a estrada ncional 236-1, onde acabariam por morrer 47 pessoas. A GNR diz que não havia "qualquer indicador ou informação" que "apontasse para a existência de um risco potencial ou efectivo em seguir" em qualquer dos sentidos da EN 236-1.

Capoulas Santos: “Estou de coração destroçado, mas de consciência tranquila”


Joana Almeida
 Ontem 09:59

Na primeira entrevista desde a tragédia, à SIC, Luís Capoulas Santos, que foi o político português que mais tempo esteve à frente da pasta da floresta portuguesa, recusou a ideia de ser "o rosto mais visível deste fracasso".


Rafael Marchante/Reuters
O ministro da Agricultura e das Florestas, Luís Capoulas Santos, garante que o Governo está de "consciência limpa" em relação ao incêndio que este sábado deflagrou no concelho de Pedrógão Grande. Na primeira entrevista desde a tragédia, à SIC, Luís Capoulas Santos, que foi o político português que mais tempo esteve à frente da pasta da floresta portuguesa, recusou a ideia de ser "o rosto mais visível deste fracasso" e reiterou que será aberto um inquérito para apurar responsabilidades.

"Se há responsabilidades políticas, elas têm de ser apuradas", afirmou o ministro português, sustentando que a ação do Governo "tem sido precisamente para evitar que tragédias destas ocorram em Portugal", mas que esse é um trabalho, de ordenar a floresta em Portugal, é trabalho "para mais do que uma geração e para vários governos".

Luís Capoulas Santos, que exerceu a tutela da pasta das florestas, tal como exerce agora, nos Governos de António Guterres e de José Sócrates, recorda que com a sua passagem "foram criadas as equipas de sapadores florestais" e embora não tenha conseguido atingir o objetivo das 500, conseguiu 240. O ministro diz ainda que fez "dezenas de reuniões" e trabalhou em "doze diplomas" sobre esta matéria, embora a comunicação social "nunca tenha tido o mínimo interesse".

O ministro nega qualquer responsabilidade política nesta tragédia e se as houver "terão de ser apuradas e assumidas". "Este Governo teria sido abalroado se, como outros que o precederam, não tivesse atuado sobre essa matéria", defendeu.

"Estou com o coração destroçado, mas estou obviamente de consciência tranquila", argumenta Luís Capoulas Santos.

“El Mundo” diz que gestão dos fogos é “caos absoluto” que põe em causa o primeiro-ministro



21.06.2017 às 16h04

"A desastrosa gestão da tragédia pode pôr fim à carreira política de António Costa". Assim começa um artigo do jornal madrileno sobre os incêndios em Portugal e o de Pedrógão Grande em particular, onde combatem 80 bombeiros espanhóis, apoiados por dois aviões Canadair enviados pelo país vizinho. O "El Mundo" fala ainda num "aluvião" de criticas ao primeiro-ministro e à ministra da Administração Interna, pela descoordenação no combate às chamas

Rosa Pedroso Lima
ROSA PEDROSO LIMA

O fogo que lavra em Pedrógão Grande desde sábado "começou com otimismo e terminou em caos absoluto". As palavras são do correspondente do jornal espanhol "El Mundo" e consta de um dos vários artigos publicados sobre os incêndios em Portugal. O tom é de forte crítica à "evidente falta de coordenação entre as autoridades", assim como às dificuldades de comunicação, entre as quais consta "a confusão gerada por uma falsa notícia, segundo a qual um avião de combate aos fogos se teria despenhado".

Os espanhóis, que contribuem com uma ajuda especial traduzida no envio de 80 bombeiros e em dois aviões para o teatro de operações, tentaram ajudar logo no domingo, enviando para a fronteira portuguesa um contigente de 60 homens das forças de combate aos fogos. A ajuda seria recusada por, naquele momento, não ser possível integrar os bombeiros espanhóis nas operações em curso. Esta terça-feira, confrontada com esta situação, a ministra da Administração Interna acabaria por justificar a recusa pelo "excesso de voluntarismo" de alguns dos apoios recebidos.

Constança Urbano de Sousa é, aliás, um dos alvos principais das críticas que, segundo o jornal espanhol, começaram a surgir como um "aluvião" contra a ministra e contra o Governo de António Costa. O "El Mundo" considera "inexplicável" que "enquanto o incêndio se expandia e os bombeiros portugueses reconheciam estarem a ser ultrapassados pelas condições no terreno", a ministra tenha "vetado a entrada de uma coluna de 60 bombeiros galegos em território português".

O jornal classifica ainda de "grande confusão" o anúncio da queda de um avião de combate aos fogos, "inicialmente confirmado pelas autoridades, que reconheceram ter enviado equipas de resgate para a zona onde, supostamente, se tinha dado o acidente". "Apesar de 17 aviões – entre eles vários enviados por Espanha, França e Itália – circularem na zona nesse momento, o Ministério da Administração Interna negava-se a identificar a nacionalidade da aeronave caída", escreve o "El Mundo".

A maior "surpresa", para o periódico espanhol, surgiu "duas horas depois", com as mesmas autoridades a "desmentirem a notícia e assegurando que o avião caído que procuravam encontrar nunca tinha existido e que não havia qualquer acidente a lamentar".

"O Presidente cometeu um erro com a melhor das intenções"

HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS

20.06.2017 21:04 por Raquel Lito 8

O arquitecto paisagista tanto critica Marcelo Rebelo de Sousa como prova que os incêndios não se combatem com água. A solução? Pode passar por incluir os resineiros

Durante os 34 minutos de entrevista, Henrique Pereira dos Santos afasta uma série de ideias feitas sobre os incêndios. Menos eucaliptos? Não é por aí. Melhores acessos à água nas povoações de risco? Também não. A origem da tragédia em Pedrógão Grande foi uma trovoada? Muito provavelmente, mas a questão é secundária para o arquitecto paisagista, de 57 anos, autor de três livros na área e vice-presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade em 1996/97. O que mais o preocupa é a lógica de gestão num País propenso a incêndios - sobretudo pelo clima mediterrânico que permite o crescimento da vegetação tanto no Inverno como no Verão. 

O Presidente, o governo e a Protecção Civil estão a gerir correctamente a crise? 
A única coisa que acho errada é o senhor Presidente da República dizer, à partida, que foi feito tudo o que era possível [na noite de sábado, 17 de Junho]. Deveria ter dito que, em nome das vítimas das tragédias futuras, antes de qualquer opinião é preciso fazer uma investigação profunda e séria. 

Mas Marcelo disse claramente que queria passar uma mensagem de ânimo. 
Não tenho a menor dúvida sobre isso. Acho que o Presidente cometeu um erro com a melhor das intenções. É preciso fazer uma avaliação técnica, objectiva, mas profunda, daquilo que se passou para alterar procedimentos. O que seria normal era haver uma avaliação independente do desempenho anual da protecção civil. 

Porque é que a EN 236 não estava cortada ao trânsito?
Não sei. Não quero fazer juízos que podem ser injustos. 

Como se pode reduzir o pânico na estrada perante estas circunstâncias? 
As pessoas devem dirigir-se para uma zona já ardida ou ficar quietas num sítio onde consigam suportar o fogo e a temperatura.

Porque é que não há bocas-de-incêndio nas povoações de risco? 
Estes fogos não se combatem com água, é uma ilusão terrível. O único efeito da água é cobrir a superfície de fogo com uma película que corta o oxigénio. As pessoas pensam que é uma questão de chamar aviões, mas os Canadair só têm interesse pontual para permitir uma operação terrestre. De resto eles não param fogo nenhum. Há muitas descargas [de Canadair] em que a água é largada e não chega sequer ao chão porque evapora.

Então o que propõe? 
Só se resolve com a alteração da composição de combustíveis, tal como se faz no fogão. Não se apaga o fogão deitando-lhe água em cima, o que faz é rodar o botão para cortar o gás. Precisamos de ter uma orientação clara que favoreça a gestão de combustíveis, através de actividades económicas. 


Banco de terras, benefícios fiscais, gestão florestal: geringonça ainda não se entendeu sobre a floresta

Governo enviou em abril propostas para o Parlamento. Na primeira votação houve unanimidade, mas PCP, BE e Os Verdes avisaram Governo das reservas que têm e o que ainda é preciso fazer

Helena Pereira
HELENA PEREIRA

Os partidos que viabilizaram este Governo ainda estão a negociar novas medidas para a floresta, que deram entrada no Parlamento em abril. O Governo propõe a criação de um banco de terras, novas entidades de gestão florestal (que podem ser públicas ou privadas), benefícios fiscais, mas o consenso para aprovar as propostas de lei ainda não existe.

O que o Governo propõe:

- Criação de um banco de terras constituído por terrenos públicos e terrenos privados que estão ao abandono ou sem dono conhecido

- Novas entidades de gestão florestal, através de cooperativas de produtores florestais ou organizações privadas

- Isenções e reduções em sede de IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), de IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas) e de IMT (imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis) para os associados das entidades gestoras de áreas florestais e para todos aqueles que vendam ou arrendem terras florestais para serem integradas nestas unidades de gestão

- Criação de cadastro simplificado através de um balcão único, físico e virtual, que integrará toda a informação cadastral dispersa em toda a administração

O debate sobre estas propostas teve lugar dia 20 de abril - foram todas aprovadas por unanimidade para se chegar a consenso na comissão parlamentar de Agricultura, e nesse momento ficaram claras as dúvidas dos parceiros do PS: PCP, BE e Os Verdes.

Os Verdes, que foram o único partido a incluir nos acordos que assinaram com o PS em outubro de 2015, um ponto sobre a reforma da floresta e a necessidade de travar o aumento dos eucaliptos, pediram que se "trave a eucaliptização desenfreada". "Onde ficou, afinal, a coragem política", questionava o deputado José Luís Ferreira.

"Este processo legislativo, ao contrário do que se tem querido dizer, não tem gerado os consensos que se querem encontrar. Da parte do PCP, também não existe esse consenso. Os diplomas em discussão têm suscitado críticas de diferentes quadrantes, nomeadamente, de estruturas do sector florestal", avisou o deputado comunista João Ramos, alertando que o banco de terras proposto é um "instrumento de concentração de propriedade".

O BE apresentou diplomas próprios, nomeadamente, sobre banco de terras em que propõe que sejam colocadas para arrendamento compulsivo quando não haja atividade no terreno ao fim de três anos - proposta que o PCP também criticou.

Plano Nacional de Defesa da Floresta sem atualização há quatro anos


20 DE JUNHO DE 2017 - 08:50
Ao jornal Público, o gabinete do ministro da Agricultura explica que apesar de o documento estar concluído, o anterior governo não o tornou público.

O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios devia ser avaliado de dois em dois anos mas nos últimos quatro anos não teve qualquer atualização.

O jornal Público revela que o último relatório, relativo a 2011 e 2012, ainda não foi publicado.

O gabinete do ministro da Agricultura explica ao jornal que apesar de o documento estar concluído, o anterior governo não o tornou público. Ficará disponível ainda esta terça-feira.


A avaliação do Plano de Defesa da Floresta estava a cargo da Autoridade Florestal Nacional que em 2012 foi integrada no Instituto da Conservação da Natureza.

Já quanto ao grupo de trabalho para o acompanhamento da temática dos incêndios florestais, criado em outubro de 2016, os avanços também são poucos.

A iniciativa surgiu depois dos grandes incêndios do verão passado. Nos últimos sete meses teve cinco reuniões, algumas visitas mas ainda não chegou a qualquer conclusão.

Também as propostas do governo para a prevenção de incêndios e gestão da floresta ainda não começaram a ser discutidas. Entre elas estão o banco nacional de terras, os benefícios fiscais para a gestão da floresta e a simplificação do registo de terras.

Há dois meses baixaram à comissão de Agricultura, sem votação, e desde essa altura ainda não começaram a ser discutidas. O prazo termina esta quarta-feira.

Ao Público, o presidente da Comissão admite que o processo legislativo não deve ficar concluído até ao final do próximo mês. O PS pediu entretanto que a discussão passe para outro grupo de trabalho, o que deverá atrasar o processo.

Reforma da Floresta presa no Parlamento até Novembro

O Governo aprovou em Março 12 diplomas para reformar a floresta. Parte das medidas, constantes de propostas de lei, ainda estão no Parlamento de onde só deverão sair perto do fim do ano. Outras já foram promulgadas e estão quase a chegar ao terreno.
Reforma da Floresta presa no Parlamento até Novembro

19 de junho de 2017 às 20:55


As cinco propostas de lei que fazem parte da reforma da floresta, que chegaram ao Parlamento em Abril, só deverão ser votadas em "finais de Outubro, Novembro", disse ao Negócios o presidente da comissão parlamentar de agricultura e pescas, o deputado socialista Joaquim Barreto. A reforma da floresta é considerada uma peça essencial para a prevenção de incêndios em Portugal e voltou agora à ordem do dia, depois dos fogos que lavram desde o último fim-de-semana. A actualização dos registos das terras e o travão à expansão dos eucaliptos são algumas das medidas previstas no pacote que está a aguardar decisão dos deputados. 

O calendário indicativo, que remete a votação dos diplomas para o último trimestre, implica ainda a realização de "várias audiências" a entidades que interessa ouvir, como municípios e entidades do sector privado, refere Joaquim Barreto. Só depois disso os deputados ficarão "habilitados" a discutir e decidir como votar as várias propostas de lei do Governo.

Joaquim Barreto garante que o "assunto está a andar" e que na semana passada, numa reunião descentralizada em Santarém, foi feito um esboço do plano de trabalhos sobre as propostas de lei do Executivo e que ainda aguarda a posição de cada grupo parlamentar. O presidente da comissão de agricultura garantiu, porém, que os trabalhos serão desenvolvidos no tempo "mais apertado possível", admitindo que "vai ser difícil votar até ao final de Julho", quando termina esta sessão legislativa. "Finais de Outubro, Novembro" são os prazos que julga serem possíveis, admitiu ao Negócios.

Além da simplificação dos registos das propriedades rústicas e do travão da expansão do eucalipto - através de um Regime Jurídico das Acções de Arborização e de Rearborização - o pacote de medidas que está congelado no Parlamento há dois meses, prevê também a criação de um banco de terras - que permita acabar com as terras sem dono - e de um fundo de mobilização de terras para investimento em novos prédios rústicos para venda ou arrendamento.

Reforçar o pilar da prevenção operacional (vigilância, detecção e alerta) e criar incentivos fiscais para as novas entidades de gestão florestal (cuja criação também faz parte do pacote) são outras das medidas na mesa dos deputados.

As propostas baixaram à comissão sem votação, onde terá de ser conseguido um acordo que lhes dê luz verde. Estas cinco propostas de lei fazem parte do pacote de 12 medidas da reforma da floresta que o Governo aprovou em Março.

20 equipas de sapadores a caminho
Mais rápido e sem sequer ter ido a consulta pública foi o diploma que decidiu a criação e financiamento de 20 novas equipas de sapadores. Estes profissionais são essenciais na prevenção dos fogos e o anúncio foi feito pelo ministro Capoulas Santos ainda no final de 2016. A medida seria aprovada juntamente com o pacote da reforma das florestas e, segundo fonte oficial do Ministério da Agricultura, os novos operacionais deverão "ser apresentados em breve".

O procedimento implicou a abertura de um concurso público para a criação das novas equipas e um processo de selecção das entidades junto das quais as equipas vão trabalhar - por exemplo associações de produtores florestais. Foi depois preciso recrutar os novos operacionais e equipá-los com viaturas e equipamentos individuais. 
Procedimentos burocráticos, mas necessários, lembra o gabinete de Capoulas Santos, justificando que tenha sido preciso mais de meio ano para reforçar as equipas de sapadores.

Nos planos do Governo está ainda o reequipamento de 44 equipas de sapadores, o que acontecerá no Outono, segundo foi anunciado na altura da aprovação do pacote para a floresta.

CONFERÊNCIA NACIONAL ESTATUTO DA AGRICULTURA FAMILIAR PORTUGUESA



 

 

A Direcção da Confederação Nacional da Agricultura – CNA tem a grata satisfação de vos convidar a participar na Conferência Nacional "Estatuto da Agricultura Familiar Portuguesa", que decorrerá nos próximos dias 23 e 24 de Junho, na ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra, conforme Programa anexo.

 

No seu 7º Congresso, realizado em Novembro . 2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar, promovido pela ONU, a CNA aprovou uma proposta de "Estatuto da Agricultura Familiar Portuguesa" que, reconhecendo a sua importância na agricultura e na economia nacionais, mas também na alimentação das populações, na coesão territorial, da defesa e preservação do património cultural, da biodiversidade, no combate às alterações climáticas, na sustentabilidade das economias regionais, entre muitos outras vertentes, defina um conjunto de instrumentos legais que valorizem a sua multidisciplinariedade e multifuncionalidade, que lhe permita desenvolver-se, para bem das regiões e do país.


http://www.cna.pt/ver_noticia.php?id=518

 





terça-feira, 20 de junho de 2017

Floresta vale quase 8% das exportações nacionais

Pastas celulósicas e madeira e cortiça são os principais produtos extraídos da floresta portuguesa. Dados mostram importância da floresta para a economia nacional numa altura de graves incêndios.
Floresta vale quase 8% das exportações nacionais

Marta Moitinho Oliveira Marta Moitinho Oliveira martaoliveira@negocios.pt

19 de junho de 2017

A floresta portuguesa dá origem a produtos que valem quase 8% do total das exportações. O peso da floresta para a economia nacional ilustra bem o impacto que pode ter o facto de 95% da floresta do concelho de Pedrogão Grande ter ardido com o incêndio que começou no sábado passado.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) compilados pela AICEP, as exportações de pastas celulósicas representavam 4,88% do total de exportações em 2016. A este valor juntam-se as exportações de madeira e cortiça que valiam 3,1%. No total, estes dois tipos de produtos geram exportações que correspondem a 7,98% do total das vendas para o estrangeiro.

Dez anos antes, os dois grupos de produtos representavam 8,25% do total das exportações, revelando assim que numa década as exportações de produtos vindos da floresta perderam peso no total das exportações nacionais.
Os mesmos dados da AICEP mostram que foi nas exportações de madeira e cortiça que se registou a maior queda no peso das exportações. Em 2006, a venda de madeira e cortiça para o exterior era igual a 4,23% do total das exportações (contra os 3,1% actuais).

No domingo, o presidente da Câmara Municipal de Pedrogão Grande, Valdemar Antunes, afirmou à Lusa que 95% da floresta do concelho ardeu.

Morreram 62 pessoas no incêndio que começou no sábado, e que ainda é combatido por mais de 1.000 bombeiros e oito meios aéreos. Estão contabilizados 62 feridos.

Uma nova visão para a agricultura




A agricultura era considerada uma atividade económica pouco relevante e sem futuro, fruto de políticas públicas erradas. No presente, o posicionamento é diferente e o setor agroalimentar e florestal é dinâmico, propulsor de novas tecnologias, estratégico e com futuro sustentável. Senão vejamos!

As projeções sobre o mercado de trabalho na União Europeia até 2025 revelam que 26% das oportunidades de emprego em Portugal residem na agricultura, sendo uma oportunidade para os jovens. Os dados da FAO mostram que a população mundial deverá atingir 8 biliões em 2025 e 9,6 biliões em 2050, o que implica um aumento de 70% da produção alimentar. Adicionalmente, Portugal definiu como meta atingir o equilíbrio da balança agroalimentar em 2020, em valor, o que exige apostas no aumento da competitividade baseada em recursos humanos qualificados.

A agricultura é cada vez mais uma atividade tecnológica e de conhecimento, cuja sustentabilidade depende da capacidade em harmonizar as questões produtivas, tecnológicas e ambientais, sem descurar a sua estrutura económica e social. Indubitavelmente, o futuro do país passa pela competitividade e internacionalização das empresas e dos produtos agroflorestais, estimulados pelo aumento de I&D em parceria com as empresas e entidades do sistema científico.

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Esta articulação é crucial para dar resposta aos principais desafios do setor, que passam pela escassez de terra cultivável, as alterações climáticas, os custos da energia, as necessidades de recursos hídricos e ainda o despovoamento das áreas rurais.

O alcance desta ambição exige uma nova visão para a agricultura, recorrendo a modernos meios tecnológicos e sustentáveis, serviços de informação geográfica e sistemas de decisão recorrendo às tecnologias de comunicação. Esta agenda exige empresários com competências em soluções tecnológicas, envolvendo a robótica, a imagem assistida por computador, a sensorização, a monitorização ambiental, no quadro da chamada agricultura de precisão.

Mas o alcance desta ambição exige uma estratégia focada na exploração de dados, no recurso a múltiplos conhecimentos disciplinares, que responda de modo inteligente e eficiente aos desafios societais, tendo em vista a melhoria da competitividade e o equilíbrio social do país.

É neste contexto que deve ser desenvolvida a estratégia de investigação e inovação alinhada com a sua localização geográfica e o sistema empresarial e científico, contribuindo para a ambicionada convergência regional. Deste modo, a massa crítica e as competências das instituições de Ensino Superior do interior são um ativo valioso que Portugal não pode desperdiçar, antes incentivar.

* REITOR DA UTAD

Produção de azeite caiu 36% por causa da seca. Preço já está a subir


Alentejo e Trás-os--Montes são as regiões com maiores descidas de produção

Na produção os preços subiram entre 15% e 18%, mas no supermercado as promoções estão a suavizar os aumentos

A seca provocou, na última campanha, uma quebra de 36,4% na produção de azeite em Portugal. Os preços já estão a subir: entre 15% e 18% junto dos produtores. E só as promoções e a opção de algumas cadeias de distribuição de absorver parte desse agravamento de custos deverá minimizar o impacto no bolso dos consumidores.

"Os preços começaram a subir antes do verão para valores de produção a rondar 4 euros por quilograma", garante Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, que representa 90% do volume de azeite embalado. Os últimos dados, referentes a abril, apontam para uma subida do azeite virgem para 3,60 euros/kg (+18,8% ) e de 3,84 euros/kg (+15,6%) para o virgem extra.

"O consumo do azeite tem-se mantido constante, mas houve uma forte quebra na produção. Um fenómeno a nível mundial", diz a secretária-geral da Casa do Azeite. Portugal produziu 69,3 mil toneladas de azeite em 2016/17, menos 39,7 mil toneladas do que na campanha anterior. O Alentejo foi o principal responsável pela quebra na produção: só nesta região desapareceram mais de 30 mil toneladas. Em Trás-os-Montes, a segunda maior região produtora de azeite nacional, a produção recuou para 11,4 mil toneladas, uma descida de mais de 1,7 mil toneladas.


E não foi só Portugal a sentir os efeitos da seca extrema. Todos os grandes países produtores - Espanha, Grécia, Itália e Tunísia - sentiram no terreno o impacto das condições climáticas adversas. Em Espanha, o maior produtor mundial, a quebra foi de 8,7%, para um total de 1,279 milhões de toneladas; em Itália a quebra foi de 61%, para apenas 185 mil toneladas, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional (COI). Este organismo prevê uma quebra de 20,2% na produção mundial de azeite, que não deverá ultrapassar 2,514 mil milhões de toneladas. Ou seja, o mercado viu evaporar-se 638 mil toneladas de azeite.

Com a procura a manter-se constante, "a disponibilidade dos stocks baixa, aumentando a pressão sobre o preço numa altura em que ainda não se sabe como vai ser a próxima campanha", que só arranca em outubro, diz Mariana Matos. Há um "fator psicológico" um "jogo de expectativas que impacta o preço", reforça a secretária-geral a Casa do Azeite.

"Não fazemos comentários sobre preços de mercado", explica Pedro Monteiro, diretor-geral de compras do Lidl Portugal, quando questionado sobre se os preços do azeite de marca de distribuição tinha sofrido o impacto da subida dos preços de produção. "Os stocks existentes no final do ano passado e a produção da última campanha não tiveram, nem irão ter qualquer impacto na nossa marca própria de azeite", garante o responsável da cadeia alemã.

Nem "nos contratos já firmados a nível nacional e internacional para o corrente ano", assegura Pedro Monteiro. O Lidl fechou um acordo com a Sovena para exportar azeite desta empresa, a proprietária do maior olival da Europa, para 22 mercados, estando previsto um volume de 22 milhões de litros de azeite.

No Pingo Doce as marcas próprias As Nossas Planícies (Alentejo) e Os Nossos Planaltos (Trás-os-Montes) são feitas com azeitonas nacionais, precisamente das regiões onde a quebra de produção foi mais acentuada. "Trabalhamos com as Cooperativas Agrícolas de Moura, Valpaços, Beja e Brinches, com quem temos uma parceria já de longo prazo, garantindo-lhes a compra das suas campanhas anuais", começa por referir fonte oficial do Pingo Doce.

O resultado foi o esperado neste cenário de quebra acentuada de produção. "Efetivamente, da campanha de 2015 para a de 2016, registámos um aumento do preço de custo na ordem dos 10%", diz. Para garantir preços baixos (e concorrenciais) junto do consumidor a cadeia optou por absorver "parcialmente este aumento do preço de custo e refletíssemos nos preços médios de venda ao consumidor (incluindo as muitas promoções que fazemos aos nossos azeites) um aumento inferior a 2%".

Incêndios: Ministro da Agricultura anuncia 20 novas equipas de sapadores florestais


O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, anunciou na segunda-feira à noite a formação de 20 novas equipas de sapadores florestais e o reequipamento de outras 44.

"Não foram criadas praticamente equipas [de sapadores florestais] nos últimos anos. Este ano, criaremos 64 equipas, 20 novas que serão formalizadas dentro de poucos dias e 44 no outono, para reequipar aquelas que foram equipadas por mim há 15 anos", afirmou o ministro numa entrevista à SIC Notícias.

Na opinião do ministro, estas equipas criadas quando teve a pasta da tutela, entre 1998 e 2002, "têm viaturas a cair de podre porque nunca mais houve um esforço de reinvestimento".

"Não só criei as primeiras 100 equipas há quase 15 anos, como cheguei, anos depois, e vi que elas estavam praticamente obsoletas", advogou.

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural elencou também que "17 anos depois, existem 240" destas equipas, o que constitui "metade do que estava previsto para a legislatura seguinte".

Luís Capoulas Santos foi secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, de 1995 a 1998, e ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas entre 1998 e 2002.

O governante explicou que cada equipa é constituída por "cinco elementos e uma viatura todo-o-terreno".

Apontando que "um concurso público internacional nunca leva, sobretudo quando há reclamações, menos de um ano", Capoulas Santos acrescentou que "foi possível fazer isso em muito menos tempo", e por isso "essa promessa está cumprida".

Já relativamente à "reforma da floresta" proposta pelo Governo, o ministro afirmou "não ter dúvidas dos seus resultados".

Capoulas Santos voltou a defender também um "consenso nacional pluripartidário, para que não venha um outro Governo qualquer a seguir, e que reverta tudo o que está a ser feito agora e que é trabalho para uma, duas, três gerações".

Segundo o governante, esta reforma vai resultar "num país com uma floresta mais ordenada, com uma floresta mais gerida e com uma floresta sem abandono".

"Trata-se de 12 diplomas, sete estão publicados no Diário da República, depois promulgados pelo Presidente da República, e outros cinco foram remetidos oportunamente ao parlamento, e aguardam que o parlamento decida", acrescentou.

Questionado sobre a responsabilidade relativamente aos incêndios que lavram desde sábado, e que já provocaram 64 mortos e 135 feridos, Luís Capoulas Santos foi taxativo: "não é a mim que me compete autoavaliar-me. [...] Tenho muito orgulho nas funções que tenho desempenhado".

domingo, 18 de junho de 2017

Tribunal de Justiça condena denominação "manteiga" ou "queijo" em produtos vegetais



 14.06.2017 17h46
O Tribunal de Justiça europeu pronunciou-se esta quarta-feira contra a utilização da denominação "leite", "manteiga" ou "iogurte" por produtos não lácteos, dando razão a uma associação alemã que acusou de concorrência desleal uma empresa de alimentos vegetarianos/veganos.

Num acórdão hoje publicado, o Tribunal de Justiça da União Europeia reforça que o regulamento europeu n.º 1308/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de dezembro de 2013, determina que as denominações "leite", "soro do leite", "nata", "manteiga", "leitelho", "queijo" e "iogurte" estão "reservadas exclusivamente aos produtos lácteos", opondo-se por isso a que "sejam utilizadas para designar, na comercialização ou na publicidade, um produto puramente vegetal, mesmo que essas denominações sejam completadas por menções explicativas ou descritivas que indiquem a origem vegetal do produto em causa".

Na base deste acórdão está uma ação inibitória apresentada pela associação alemã VSW contra a empresa de produção e distribuição de alimentos vegetarianos/veganos TofuTown, que, segundo se lê no documento, "promove e distribui, entre outros, produtos puramente vegetais sob as designações de "Soyatoo manteiga de tofu", "queijo-vegetal", "Veggie-Cheese", "Cream" e outras denominações semelhantes".

Para a VSW, trata-se de um caso de "concorrência desleal", mas a TofuTown alegou durante o processo, que correu no Tribunal Regional de Trier, na Alemanha, que a sua publicidade aos produtos vegetais com as denominações em causa não viola as disposições do direito da União Europeia.

Para esta empresa, não só "o modo como o consumidor compreende essas denominações se alterou consideravelmente nos últimos anos", como o uso que faz das denominações "manteiga" ou "cream" não é feito "de modo isolado", mas "sempre em associação com termos que remetem para a origem vegetal dos produtos em causa, como, por exemplo, "manteiga de tofu" ou "rice spraycream"".

Em resposta ao pedido de decisão prejudicial apresentado em julho de 2016 pelo Tribunal de Trier, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio agora reforçar o determinado no regulamento europeu n.º 1308/2013, segundo o qual 'produtos lácteos' são "os produtos derivados exclusivamente do leite", estando "exclusivamente reservadas aos produtos lácteos" as designações "soro do leite", "nata", "manteiga", "leitelho", "queijo" e "iogurte".

Em declarações à agência Lusa, o diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL), Paulo Costa Leite, congratulou-se com este "reforço da aplicação correta da lei" por parte do Tribunal de Justiça europeu, recordando que "o setor lácteo se tem batido, em toda a Europa e nos EUA", pelo cumprimento da legislação existente.

Lusa


De onde vem leite com chocolate? De vacas castanhas, dizem 7% dos americanos

16/6/2017, 18:072.783
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É nisto que acreditam 7% dos americanos, segundo uma sondagem do Innovation Center of U.S. Dairy. Especialistas dizem que o sistema de ensino está a falhar.

Sete por cento dos americanos acredita que o leite achocolatado vem de vacas castanhas, segundo um estudo online encomendado pelo Innovation Center of US Dairy. O que resulta em 16,4 milhões de pessoas mal informadas, o total de pessoas que, por exemplo, vivem na Pensilvânia.

Durante muitas décadas, os observadores da agricultura, nutrição e educação afirmaram que muitos dos americanos eram analfabetos no que dizia respeito à área. Acreditavam que eles não sabiam de onde é que a comida vinha, nem como é que os alimentos chegavam às lojas, o que inclui o leite com chocolate.

Um estudo do Departamento de Agricultura, feito no início dos anos 90, descobriu que quase 1 em cada 5 adultos não sabiam que os hambúrgueres eram feitos de carne bovina.

Os especialistas em agricultura acreditam que não houve muitas mudanças nos anos que se passaram.

"Neste momento estamos condicionados a pensar que se temos fome vamos à loja comprar comida. Não há nada que ensine as nossas crianças sobre de onde veem os alimentos", disse Cecily Upton, co-fundadora da FoodCorps, uma organização sem fins lucrativos, que leva educação agrícola e nutricional para escolas primárias.

Upton e outros investigadores agrícolas alertam para que estes resultados podem não ser aplicados a todos os habitantes dos EUA, já que as pessoas que vivem em zonas mais rurais ou com níveis de educação superiores tendem a saber mais sobre a origem dos alimentos.

O estudo foi baseado em entrevistas feitas na passada quarta, quinta e sexta-feira numa escola urbana da Califórnia. Mais de metade dos alunos ouvidos não sabia que os pepinos eram pepinos ou que as cebolas e as alfaces eram plantas. Quatro em cada 10 não sabiam que os hambúrgueres vinham de vacas e três em cada 10 não sabiam que o queijo era derivado do leite.

Todos os questionados reconheceram o nome dos alimentos e sabiam que eles eram cultivados em quintas ou fazendas, mas não possuíam capacidades para fazer uma articulação das atividades de pós-produção, nem a sua origem agrícola", concluíram os investigadores.
A escritora e historiadora Ann Vileisis argumentou que se desenvolveu de forma segura de lidar com o sistema alimentar industrial, sendo perfeitamente compreensível esta ignorância.

Vileisis escreve no livro "Alfabetização da Cozinha", que quando os americanos se começaram a mudar para as áreas urbanas em meados de 1800 haviam menos pessoas a participar na produção e processamento de alimentos. Esta tendência aumentou quando se começou a inovar o setor dos transportes e da fabricação, que possibilitaram a entrega de alimentos de diferentes formas e distâncias.


Em 2016, as estatísticas de obesidade apontavam para que 40% das mulheres e 35% dos homens dos EUA tivessem excesso de peso.

Também as campanhas publicitárias terão contribuído para aumentar a ignorância de muitos americanos, que não conseguiam imaginar as origens dos cereais em caixas ou dos cachorros-quentes.

Atualmente, os americanos só consomem produtos industriais que não se parecem com o animal ou a planta de origem. O USDA diz que o sumo de laranja é a fruta mais popular na América e as batatas processadas (as chamadas 'chips') são as que têm melhor classificação entre os vegetais.

A indiferença sobre as origens da produção de alimentos é uma norma da cultura urbana", escreveu Vileisis, citada pelo Washington Post.
Nas últimas duas décadas, os EUA viram nascer um movimento para reverter esta falha na sociedade, com a criação de grupos de agricultura e nutrição que se esforçam para recuperar a educação nas salas de aula, como a FoodCorps.

Mas ainda há muitos níveis de ignorância. 30% dos texanos acreditam que o Homem coexistiu com os dinossauros. E 25% dos norte-americanos não sabem que a Terra gira à volta do Sol.

Como lidar com os campos ao abandono?

Estado gasta 11 euros por hectare em prevenção de incêndios. Terrenos rurais pagam menos de um euro de impostos por hectare. 36% dos solos rústicos não tem qualquer exploração.

"O principal desafio do ordenamento do território é reduzir os danos causados pelo abandono de mais de um terço do solo rústico português", explica o investigador Pedro Bingre do Amaral. "O abandono tem custos", escreveu este professor do Politécnico de Coimbra, há três meses, numa comunicação promovida pelo Conselho Económico e Social.

O custo principal é mesmo o que agora está à vista de todos, depois da tragédia de Pedrógão Grande. Florestas e matos abandonados em regiões chuvosas, seja nos trópicos, seja no noroeste da Europa, têm uma "dinâmica ecológica" diferente, que permite restaurar espontaneamente a vegetação, e limitar os riscos de incêndio. Não é isso que se passa em Portugal, onde um terreno abandonado rapidamente se enche de vegetação "pirófila" (estevas, tojos ou urzes), de "alta inflamabilidade", explica Pedro Bingre. "Abandonar um terreno implica onerar o interesse público", resume o investigador.

Entre 2010 e 2015 arderam, em média, 127 mil hectares por ano, em Portugal. Cerca de metade estavam cobertos "apenas por matos". A maioria destes incêndios começam, precisamente, em zonas abandonadas, pondo em risco, depois, todo o tipo de florestas e mesmo populações. Com isso, "Portugal perde directa ou indirectamente em incêndios florestais perto de mil milhões de euros por ano", mostra Pedro Bingre. Trata-se de uma "situação calamitosa", que exigiria uma resposta eficaz.

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Por isso, o investigador tem defendido, há vários anos, uma alteração da legislação em várias frentes. Desde logo, lidando com uma realidade culturalmente enraizada: a do fraccionamento da propriedade. "Em 14 dos 18 distritos do Continente", explica, a área média não excede os 0,57 hectares, enquanto nos restantes quatro distritos essa média é de 10,85 hectares. E esta é uma realidade em agravamento constante, com a morte de proprietários que deixam em herança terrenos divididos por herdeiros que já abandonaram a terra ou não a pretendem utilizar economicamente. Muitos terrenos são, por isso, parte de "heranças jacentes", não reclamadas, que ficam num limbo legal, duplamente abandonadas. "Uma solução legal para este imbróglio poderia ser rever a tributação do património de modo a desincentivar o abandono, onerando sobre os proprietários os encargos da prevenção e combate aos incêndios", propõe Pedro Bingre.

Esta medida nunca foi tomada por uma razão fácil de entender: afectaria, calcula o investigador de Coimbra, boa parte dos 2,9 milhões de portugueses que são os proprietários de 8,4 milhões de hectares de solos rústicos, divididos em 11,6 milhões de parcelas. Actualmente, estes pagam de IMI, em média, 0,88 euros. Já o Estado, em 2016, gastou mais de 11 vezes esse valor, por hectare, em prevenção e combate a incêndios: 11,3 euros por hectare.

Por isso, Pedro Bingre defende que os Planos Directores Municipais passem a definir "um uso sílvicola básico e obrigatório" para todos os terrenos. E que os proprietários sejam integrados em "unidades de gestão" que explorem os terrenos ao abandono. Também as leis que regulam as sucessões deviam, defende o investigador, ser melhoradas para definir um prazo para as "heranças jacentes", findo o qual reverteriam para o Estado. Por fim, Pedro Bingre defende ainda que o valor patrimonial tributário dos terrenos passe a ser calculado "em função dos usos potenciais" e não pelo actual "coeficiente de localização", que em última análise agrava o desordenamento ao penalizar mais os terrenos cultivados e ao desonerar os abandonados. "O quadro jurídico da fiscalidade, da propriedade e das sucessões", conclui Pedro Bingre, tendem a "agravar fortemente o problema".

SIRESP. As polémicas do sistema de comunicações que falhou (outra vez)



O SIRESP, usado pelos bombeiros e por várias outras autoridades para comunicarem entre si, foi abaixo durante o incêndio. É o último problema de uma longa história de polémicas.


As chamas que destruíram vários hectares de floresta na zona de Pedrógão Grande destruíram as antenas de comunicações — e o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), usado pelos bombeiros e por várias outras autoridades para comunicarem entre si, foi imediatamente abaixo. As equipas que no terreno combatiam as chamas só conseguiram assegurar a comunicação por vias alternativas e, segundo o primeiro-ministro, os meios não ficaram "comprometidos". O problema foi superado ainda durante a noite de sábado: a MEO colocou vários carros na rua equipados com antenas móveis que asseguraram a normalização da situação.

Desta vez, a falha ficou a dever-se a problemas externos ao próprio sistema, mas o SIRESP tem um historial de complicações e polémicas de longos anos e não é a primeira vez que falha — um sistema com que António Costa se cruzou enquanto ministro da Administração Interna.

António Costa relançou sistema

Quando foi chamado para o Governo de José Sócrates, António Costa encontrou um modelo de SIRESP – sistema que tinha sido implementado ainda no executivo de António Guterres – em que encontrava mais problemas que méritos.

O então ministro da Administração Interna contactou os parceiros de negócio – um conjunto de entidades sob comando da ex-Sociedade Lusa de Negócios, do Banco Português de Negócios de José Oliveira e Costa– e renegociou as condições do contrato em vigor, poupando mais de 52 milhões de euros ao valor (485,5 milhões de euros totais) que tinha sido acertado entre as empresas e o seu antecessor na pasta, o social-democrata Daniel Sanches. Na equipa que renegociou os termos do acordo com o consórcio estava já um nome que, mais recentemente, ganhou dimensão: Diogo Lacerda Machado, o "amigo pessoal" do primeiro-ministro que viria a ser contratado como consultor especial do chefe do Governo.

Quando chegou ao Governo, Costa pediu um parecer sobre o negócio à Procuradoria-Geral da República. Mas, apesar do tom crítico da análise ao documento e de ter declarado nulo o ato de adjudicação — parecer que daria ao então ministro respaldo para anular o concurso inicial e procurar novos interessados que não a SLN –, Costa optou por voltar-se para o mesmo consórcio e renegociar as condições do contrato original, abdicando de uma série de funcionalidades e reduzindo, com isso, o valor global do negócio.

Até ao final de 2014, escreveu o jornal i em fevereiro do ano passado, o SIRESP tinha custado aos cofres públicos 270 milhões de euros. O contrato – entretanto renegociado, de novo, pelo Governo –, tem, neste momento, mais quatro anos de vigência. Em poucos meses, depois de chegar à chefia do Governo, o primeiro-ministro conseguiu que todos os ministros envolvidos no dossier pusessem a sua assinatura na nova versão do contrato. Nesse momento, já o SIRESP acumulava problemas – os casos sucedem-se.

As falhas no SIRESP e as mortes de bombeiros

Um dos episódios mais graves em que a equação "SIRESP+falhas de operação" se verificou resultou na morte de dois bombeiros de Carregal do Sal. Foi em janeiro de 2014 que o Conselho Português da Proteção Civil (CPPC) deu a conhecer novos dados sobre os factos que estiveram na origem das duas mortes, nos incêndios do verão anterior. Na sequência da reportagem "Sem Rede", emitida na TVI dias antes, o presidente do organismo garantiu que, "se o sistema funcionasse, os gritos de um dos intervenientes para tentar alertar aquela equipa [de que faziam parte os dois bombeiros, um homem e uma mulher] não seriam gritos, seriam comunicações via rádio. E os meios aéreos também não tinham contacto, não tinham forma de alertar aquela equipa".

Dias antes, em comunicado, o CPPC referia que "o Conselho Português de Proteção Civil mantém contacto regular com diversos agentes de proteção civil e entidades cooperantes e sabe, de fonte segura, que não pode identificar, que a bombeira de Carregal do Sal, que perdeu a vida no verão passado, poderia estar viva se houvesse radiocomunicação de grupo que ligasse bombeiros, sapadores florestais e GIPS (Grupo de Intervenção Permanente da GNR)". No ano anterior a este caso, o então ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, tinha distribuído cerca de mil novos rádios com o sistema SIRESP a várias corporações de bombeiros do país. Equipamentos que deveriam "praticamente duplicar a capacidade de comunicação instalada nas corporações", disse o ministro.

Aquando da denúncia das falhas no sistema de comunicações, o CPPC dava conta de um outro episódio: "Foram ainda resgatados outros dois bombeiros noutra ocorrência no Caramulo, salvos devido à pronta intervenção de uma equipa do GIPS que se apercebeu da situação e, colocando as suas vidas em risco porque não tinham forma de comunicar com os bombeiros, não hesitaram em intervir para os salvar".

A reportagem da TVI ilustrou vários dos contextos em que o SIRESP falha. Por exemplo, dentro de um elevador; no interior de garagens subterrâneas; em localidades mais remotas do país, aquelas que são mais afetadas pelos incêndios. Onde um telemóvel comum funciona sem dificuldades, o sistema de comunicação dos bombeiros, polícias e INEM não tem rede. Essas falhas foram também ficando plasmadas em simulacros realizados nos últimos anos pelas autoridades de socorro.

Por exemplo, em agosto de 2013, no Chiado. Um simulacro a propósito dos 25 anos do incêndio naqueles armazéns de Lisboa e que juntou várias corporações de bombeiros voltou a expôr as fragilidades do sistema de comunicações. "Essa questão foi levantada", admitiu o então vereador Manuel Brito, com o pelouro da Proteção Civil. Os bombeiros que participaram no simulacro relataram dificuldades de comunicação num incêndio em meio urbano, em plena capital.

Em 2008, um simulacro nos distritos de Santarém, Lisboa e Setúbal já tinha tocado na ferida. "Nos últimos três dias, apreendemos e foram detetadas algumas insuficiências" e "fragilidades" no funcionamento do SIRESP, afirmou Gil Martins, então comandante operacional nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Entre as falhas encontravam-se, já nesse momento, falhas de comunicação e de gestão de informação entre as entidades no terreno. "Tornou-se impossível, por esta via, a comunicação entre Proteção Civil e INEM. Esta foi a grande questão que precisa de ser melhorada", salientou o então comandante distrital de Operações e Proteção Civil, Rui Esteves.

Um negócio de milhões na mira do Ministério Público

O sistema já estava em funcionamento há vários anos quando, em 2005, o Ministério Público (MP) decidiu abrir um inquérito ao contrato de adjudicação do SIRESP, por suspeitas de tráfico de influências e participação económica em negócio. A investigação acabou arquivada, mas ficaram no ar suspeitas sobre a forma como o consórcio liderado pela ex-SLN, do grupo Banco Português de Negócios liderado por José Oliveira e Costa, conseguiu o contrato de quase 500 milhões de euros.

O contrato original foi assinado três dias depois das eleições que acabariam com o curto mandato de Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro. Daniel Sanches, ex-procurador (e primeiro diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal), ex-diretor-adjunto da Polícia Judiciária, ex-dirigente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e ex-diretor do Serviço de Informações de Segurança saltou da esfera pública para administrador de empresas da SLN em 2000.

Três anos depois, de volta ao Estado como ministro da Administração Interna de Santana Lopes, Sanches entrega o contrato à mesma SLN de que tinha acabado de sair. Valor da adjudicação: 538,2 milhões de euros, verba cinco vezes superior àquela que precisaria de ter gasto caso tivesse optado por um modelo diferente de comunicações. Essa posição foi defendida por Almiro de Oliveira, presidente do grupo de trabalho que presidiu ao grupo que estudou este sistema de comunicações.

Apesar de o inquérito do MP — entregue ao procurador José Azevedo Maia — ter sido arquivado uma primeira vez, em março de 2008, Oliveira e Costa e a filha (administradora de uma empresa do grupo SLN) chegaram a ser constituídos arguidos. Daniel Sanches nunca foi ouvido pela Justiça e, segundo escreveu na altura o Correio da Manhã, negou à comissão de inquérito parlamentar ao caso BPN ter tido qualquer intervenção no projecto apresentado pelo consórcio liderado pela SLN.

No ano seguinte ao arquivamento, o processo é enviado ao DCIAP, para que fosse analisada uma eventual reabertura. Pouco antes, tinham sido apreendidos vários documentos ao homem forte do BPN, Oliveira e Costa, que poderiam constituir "factos novos" na investigação ao contrato milionário. Mas não houve nada de novo. O arquivamento de 2008 continuou a valer.

Há, no entanto, outro nome de relevo em toda esta novela: Manuel Dias Loureiro. O homem que Cavaco Silva tinha escolhido para o Ministério da Administração Interna já era, no momento em que o contrato entre o Estado e a SLN acertaram o negócio, administrador não executivo do grupo ligado ao BPN. Além de ter estado na administração de várias empresas, era, ao mesmo tempo, administrador em Portugal da tecnológica Ericsson, a empresa que fazia parte do consórcio para o SIRESP, precisamente como parceira tecnológica da SLN.

O negócio do sistema de comunicações haveria de cruzar-se, ainda, com o caso Portucale, um processo em que se investigava a declaração de "imprescindível utilidade pública", também nos últimos dias do Governo de Santana Lopes, a um terreno turístico em Benavente. Mas nunca chegou a levar qualquer dos seus protagonistas a sentar-se no banco dos réus.

OS BOMBEIROS PRECISAM DA NOSSA AJUDA


Exército pára exercício para combater fogos



Exército mobilizado para auxiliar nas operações
Foto: Miguel Vidal/Reuters


Parte dos militares do Exército que estão a apoiar os bombeiros no fogo de Pedrógão estavam a participar num exercício militar em Beja, que foi interrompido para aumentar a resposta às necessidades da Proteção Civil, segundo soube o JN.

O Estado-Maior do Exército confirmou a informação e adiantou que o exercício em causa era o Orion17, em Beja - o exercício anual que é o mais importante do ramo terrestre das Forças Armadas.

De acordo com a mesma fonte, a ordem partiu do tenente-general Faria Menezes, que, em comunicação do chefe do Exército, general Rovisco Duarte, mandou retirar um batalhão de pára-quedistas que estava no Orion17. Faria Menezes mandou a força regressar ao quartel de Tancos logo que a situação começou a perigar, para ficar pré-posicionado e em situação de alerta.

Foi esta medida que permitiu ao Exército conseguir responder de imediato quando a Proteção Civil pediu reforço de meios militares e ao mesmo tempo com garantias de uma reserva credível, a nível de homens e meios.

Investigadores da UTAD defendem aposta em "árvores bombeiras" para travar incêndios

Investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) dizem que Portugal deve apostar mais em "árvores bombeiras" para reflorestar o território porque são espécies que resistem e travam os incêndios. Esta solução permitirá, a longo prazo, limitar o flagelo dos incêndios, afirmam.

Investigadores da UTAD defendem aposta em "árvores bombeiras" para travar incêndios
Carlos Barroso/CM

24 de setembro de 2016 às 18:14

Os bidoeiros, carvalhos e castanheiros estão entre as principais "árvores bombeiras" porque são árvores folhosas que mantêm o ambiente "relativamente" húmido e abrigado do vento durante o verão, revelaram investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em comunicado enviado à Lusa.
 
"Durante o Verão estão verdes, por isso, ardem com mais dificuldade e, por outro lado, produzem uma folhada que ao acumular-se no solo é pouco inflamável e se decompõe com facilidade, ou seja, cai no Outono e quando chega o Verão grande parte decompõe-se", disse o investigador e também docente da universidade, Paulo Fernandes.
 
E explicou: "Não há ali muito alimento para o fogo e, frequentemente, os incêndios ou param por si só, extinguindo-se ao entrar nas manchas, ou ardem com pouquíssima intensidade sem causar danos às árvores".
 
Paulo Fernandes salientou que é "raríssimo" encontrar um fogo cuja origem ocorra numa área com estas espécies e, quando acontece, as árvores mantêm-se verdes.
 
As "árvores bombeiras" encontram-se sobretudo no norte e centro do país, frisou. "O problema que se levanta é o da qualidade do solo. Aquelas espécies são mais exigentes, requerem locais de solo mais fresco, de melhor qualidade é por isso que, normalmente, ocupam vales, zonas onde há mais solo e mais humidade", esclareceu.
 
O investigador da UTAD adiantou que para zonas com "piores" condições de solo há "sempre" espécies que embora ardam com maior facilidade conseguem recuperar, sendo o caso do sobreiro.
"No extremo temos aquelas espécies que ardem muito bem como, por exemplo, os eucaliptos e os pinheiros. A natureza da espécie impõe o fogo e com a acumulação de biomassa há sempre um potencial risco", explicou.
 
Para o especialista, uma das respostas assenta na "gestão de combustível", através da limpeza dos espaços mantendo o subcoberto livre de mato e eliminando parte da manta-morta. "Consegue-se limitar o efeito do fogo, mas à custa de trabalho, esforço de limpeza e intervenção", realçou.

Em atualização: Pedrógão Grande cercado pelas chamas. Ministra e Deputados não conseguem sair.

8/06/2017 20:03


Toda a cidade está cercada em chamas. Políticos e repórteres que se dirigiram ao local estão presos pelas várias frentes de incêndio

Apesar das comunicações estarem fracas, chega a informação que deputados e equipas de jornalistas estão encurralados pelas chamas em Pedrógão Grande. 

Entre os isolados, encontram-se Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna, e a vice-presidente do Partido Social Democrata, Teresa Morais. 

De norte a sul, "estamos rodeados pelo fogo". 

A evacuação por via área estará impossibilitada pela dimensão do fumo em torno de Pedrógrão. "Não consigo ver a minha mão à frente", conta um repórter de imagem. 

A A13 e o IC8 continuam encerrados. Por falta de contingente, Forças Armadas foram obrigadas a reforçar o combate às várias frentes ativas.

Especialista diz que incêndio em Pedrogão Grande é dos mais graves do mundo


Xavier Viegas destaca a "rápida propagação do fogo"
Especialista diz que incêndio em Pedrogão Grande é dos mais graves do mundo

Foto: Lusa

O especialista em incêndios florestais Xavier Viegas revelou hoje que terá sido a "rápida propagação" do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande que conduziu às várias mortes, fazendo deste um dos mais graves incêndios do mundo dos últimos anos.

O professor universitário acrescentou, ainda, que a falta de limpeza das florestas e da envolvente das casas, bem como as características do terreno, terão contribuído para a extensão deste incêndio com vários focos, apesar de se suspeitar que a causa foi uma trovoada seca.

"Tudo leva a crer que a propagação do fogo foi muito rápida, não tenho a certeza, mas a indicação que tenho é que terá havido vários focos de incêndio, não necessariamente por causa humana, há possibilidade de ter sido causado por uma trovoada seca e, quando isso acontece, pode haver vários focos ao mesmo tempo em diferentes lugares e aí torna-se extremamente difícil controlar todas as situações", explicou à Lusa.

Esta situação aliada à vegetação e ao "estado de secura muto grande" em que se encontra, e a um terreno "muito complicado", como é o circundante do IC8, com ravinas e desfiladeiros muito acentuados, "dá origem a comportamentos do fogo que facilmente surpreendem as pessoas".

Ainda a avaliar a dimensão da tragédia humana, Xavier Viegas adianta já que este é o incêndio "mais importante de que tem conhecimento".

"E, claramente, pela repercussão que está a ter, mesmo a nível internacional, penso que é um dos maiores incêndios, dos mais graves, dos últimos anos na Europa, se não no mundo", até mesmo pelo "número de vítimas, pela rapidez com que se desenvolveu e como estas vítimas foram causadas".

Para o especialista, este acontecimento deveria chamar a atenção para "muita coisa que é preciso fazer no nosso país para melhorar a segurança das pessoas e evitar que este tipo de acidentes ocorra".

Nesse sentido, Xavier Viegas e a sua equipa de investigação que trabalha no problema da segurança das pessoas vão "procurar estudar o mais possível aquilo que aconteceu para retirar destas circunstâncias todas as lições que for possível retirar", procurar "aprender com elas e, se possível, no futuro evitar que este tipo de acidentes ocorram".

Quanto às razões que justifiquem que tantas pessoas tenham sido apanhadas pelo incêndio dentro dos carros no IC8, o investigador reconheceu não saber explicar, até porque ainda não tem os dados todos, mas sublinha que, daquilo que se apercebe, a principal razão é que "tudo se passou muito depressa".

"A experiência que tenho destes terrenos é que o fogo se propaga com muita rapidez: de um momento para o outro. As pessoas podem pensar que estão em segurança, que há condições para passar e podem ser surpreendidas na curva". 

Outro aspeto importante é que nem sempre é fácil estar a cortar o acesso (nas estradas) a toda a gente, porque "há pessoas que residem por aqui, há casas por todo o lado e, infelizmente, pode sempre haver gente que de um momento para o outro pega no seu carro e se faz a estrada".

"Como digo, não sei quais as circunstancias aqui, mas ao que julgo saber houve várias outras vítimas para além deste aglomerado que houve aqui num dado ponto da estrada próximo de Castanheira de Pera, mas pode haver pessoas que se metem nos carros e sem as autoridades terem conhecimento", afirmou.

Independentemente da imprevisibilidade que este tipo de incêndios sempre acarreta, há uma série de fatores previsíveis e preveníveis, que passam por limpar as florestas, dar mais condições de proteção às casas, que as pessoas tenham mais cuidado na limpeza da envolvente das casas, para que possam estar seguras, ter indicações de quando podem e não podem, ou não devem, fazer-se à estrada, "porque há circunstancias em que, de facto, não é um meio seguro, quer para bombeiros quer para civis", considerou.

Partindo deste episódio, Xavier Viegas antevê um ano complicado, sobretudo se as condições meteorológicas persistirem, mas sublinhou que as pessoas podem fazer alguma diferença.

"Diria que, infelizmente, estamos no começo do período dos incêndios e não estamos a começar nada bem. Se as condições meteorológicas não mudarem é de esperar que tenhamos este tipo de situações. Agora o que pode e deve mudar é o comportamento das pessoas".

Autor: Lusa