segunda-feira, 27 de março de 2017

UTAD vai acolher sede de rede para a investigação da vinha e do vinho

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, vai acolher a sede da rede de cooperação Riev2 que visa a investigação e experimentação da vinha e do vinho, um projeto impulsionado por vários ministérios.

   
O despacho que cria a Rede de Investigação e Experimentação da Vinha e do Vinho do Douro (Riev2) saiu hoje, em Diário da República, e foi assinado pelos ministros Adjunto, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do Planeamento e das Infraestruturas, da Economia, do Ambiente e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

A Riev2 é uma rede de cooperação científica e tecnológica para a investigação e experimentação da vinha e do vinho que vai ficar sediada na UTAD, em Vila Real.

O projeto envolve ainda o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Turismo de Portugal, o Regia Douro Park e o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.

Segundo o despacho, esta rede deve facilitar a investigação e desenvolvimento experimental, incluindo atividades em campo e estufa, em aspetos como as alterações climáticas e influência nas condições produtivas das regiões vitícolas, o modo de produção biológico, qualidade do vinho e novas tendências, monitorização da rega da vinha, viticultura de precisão, produtividade da vinha ou autenticação de vinhos.

A rede deve realizar atividades de investigação e desenvolvimento (I&D) e formação superior inicial e pós-graduada e deve ainda envolver valências de viticultura e enologia, como o controlo da qualidade enológica, ecofisiologia, física e química dos solos, biotecnologia, genética e proteção de plantas.

As suas iniciativas devem ser articuladas com instituições de ensino superior e escolas de formação profissional.

A Riev2 vai ser dirigida por um conselho de coordenação, composto por representantes das entidades que constituem a rede, o qual deve reunir semestralmente, deve organizar uma conferência anual e tem que apresentar ao Governo, no prazo de um ano, um plano estratégico para o desenvolvimento institucional e afirmação da rede, no contexto nacional e internacional.

Esta rede foi desenvolvida em articulação com o estímulo do Governo para a criação de "Laboratórios Colaborativos", que têm como objetivo a definição e implementação de agendas de investigação e inovação, assim como o desenvolvimento de processos de internacionalização da capacidade científica e tecnológica nacional.

Setor do azeite triplicou as exportações na última década


20 Mar 2017, 00:00


O Secretário de Estado da Agricultura, Luís Vieira, aproveitou a abertura do IV ENCONTRO IBÉRICO DO AZEITE, em Abrantes, para destacar a trajetória de sucesso do setor do azeite em Portugal.

"Portugal quadruplicou a produção de azeite na última década e é atualmente o 7.º produtor mundial, ocupando o 4.º lugar entre os países exportadores, tendo exportando 434 milhões de euros em 2015", sublinhou Luís Vieira. Luís Vieira considera que "este percurso se deve à conjugação de vários fatores: às novas áreas de regadio, sobretudo na região de Alqueva, ao investimento inovador e qualificado em pomares modernos com um perfil tecnológico elevado e ao aumento significativo da produtividade".

Neste cenário, estima-se que a produção de azeite possa atingir as 120.000 toneladas, volume resultante, em larga medida, da entrada em produção de novos olivais. O Alentejo quintuplicou a produção de azeite nos últimos 15 anos e representa já 76% da produção nacional de azeite. As políticas públicas de apoio ao investimento têm tido um papel relevante neste processo. Entre 2007 e 2014, o PRODER apoiou 4.000 projetos de investimento com 700 milhões de euros, a que correspondeu um apoio público de 290 milhões de euros. Luís Vieira destacou "a instalação de 1500 jovens agricultores, com um investimento associado de 130 milhões de euros e apoios públicos da ordem dos 95 milhões de euros, um sinal evidente de transformação estrutural da agricultura portuguesa".

Esta tendência mantem-se no PDR2020 que já aprovou 553 projetos de investimento na produção e transformação, no montante global de 144 milhões de euros, a que corresponde um apoio público de 57 milhões de euros. Luís Vieira incentivou o setor "a continuar este caminho de sucesso, investindo na inovação e na qualidade diferenciada, tirando partido das condições únicas existentes nas novas áreas de regadio e aproveitando as oportunidades de um mercado mundial em crescimento, expressão do reconhecimento generalizado do contributo do azeite para uma alimentação saudável".

Tecnologia ao serviço do azeite

Máquinas usadas em olivais super intensivos dão origem a milhões de litros. 

Por João Ferreira e Suely Costa|19.03.17

A tecnologia substitui a apanha da azeitona pelos varejadores 0 0É azeite. Chama-se 'O Amor é Cego' e retrata mesmo uma história de amor, principalmente à terra que João Rosado herdou do avô. Um olival pequeno com árvores centenárias e até milenares que o professor de matemática recuperou, dando origem a um azeite de elevada qualidade. A contrastar com este método de produção tradicional estão as herdades onde a tecnologia é quem mais ordena em todas as fases de produção do néctar da azeitona. 

Nestes olivais tecnológicos a apanha é feita com recurso a uma espécie de tratores gigantes que passam por cima das oliveiras. Através da vibração fazem cair as azeitonas para uns tapetes que as separam logo das impurezas e as colocam em grandes recipientes para serem levadas para o lagar. Estas máquinas que dão uns ares aos 'Transformers', são usadas em olivais super intensivos que dão origem a milhões de litros. "Um sistema mais rentável a nível financeiro", como reforça Ana Rosado, do Lagar da Cartuxa. No antigamente, a apanha era feita à mão. Homens e mulheres batiam com canas nas oliveiras para que a azeitona caísse, muitas vezes danificando os ramos. Hoje, realça Patrícia Peixoto, enóloga da Casa Santa Vitória, "a tecnologia faz com que o tempo da apanha seja três vezes mais rápido garantindo a colheita de 170 hectares de olival por mês". 

Além da apanha, a ciência e a tecnologia garantem hoje a qualidade do azeite. Em laboratório, as análises científicas determinam quando a azeitona está no ponto ideal para ser apanhada e, já no lagar, ajudam a perceber os níveis de acidez, humidade e gordura, fatores que podem influenciar a qualidade final do azeite. 

Hoje em dia, o azeite pode ser feito em apenas quatro horas. Um método de produção suportado por um sistema informático que acompanha tudo ao pormenor, desde a receção da azeitona até à sua selecção. Os entendidos na matéria sublinham que a qualidade do azeite Português é muito elevada, um factor que contribuiu para que sejamos o 4º maior produtor europeu. O Alentejo é responsável por quase 80% de toda a produção nacional. Mas a tecnologia conta na qualidade e no sabor final do azeite? 

Especialistas como Edgardo Pacheco, jornalista do Correio da Manhã e autor do livro 'Os 100 melhores azeites de Portugal', garantem que a única coisa que conta é a azeitona.

Ferraz da Costa apresenta conclusões sobre Agricultura e Floresta nacionais


Nuno Miguel Silva
 23 Mar 2017

Conclusões do grupo de trabalho constituído no âmbito do Fórum para a Competitividade serão conhecidas hoje à tarde.


Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, apresenta hoje, ao início da tarde, as conclusões do relatório do grupo de trabalho para analisar os setores nacionais da Agricultura e Floresta, na Universidade Católica, em Lisboa.

Pedro Ferraz da Costa fará a abertura do seminário que irá debater as conclusões deste relatório do grupo de trabalho, que será apresentado por Pedro Braz Teixeira, também do Fórum para a Competitividade.

Seguir-se-á uma mesa redonda, que terá como moderador João Machado, presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal.

"Em que medida pode a agricultura portuguesa contribuir para um crescimento económico mais forte nos próximos 10 anos?", é o tema desta mesa redonda.

estão já confirmados nesta mesa redonda António Marquez Filipe, da Symington; António Serrano, da Jerónimo Martins; Luís Folque, da Sovena; Nuno Santos, da The Navigator Company; e Paulo Américo Oliveira, da Amorim Florestal.

Ontem, ao fecho desta edição, ainda estava por confirmar a presença de Jorge Ortigão Costa, da Sugal.

A floresta tem estado na ordem do dia nos últimos dias em Portugal.

Na passada terça-feira, o Governo, em conselho de Ministros aprovou um conjunto de medidas como a criação de um regime jurídico de reconhecimento das entidades de gestão florestal e a simplificação do processo de constituição das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF).

Foi também alterado o regime jurídico dos Programas Regionais de Ordenamento Florestal, atribuindo aos municípios uma maior intervenção nos  processo de decisão, além ter sido aprovada uma proposta de lei que institui um regime de incentivos e isenções fiscais e de emolumentos, que será aplicável às referidas EGF.

O Conselho de Ministros da passada terça-feira, Dia Mundial das Florestas, decidiu ainda criar centrais de biomassa, atribuindo aos município potências disponíveis para produção de energia, com preços apoiados, a partir de biomassa florestal residual (BFR).

Por despacho do Ministro da Agricultura. foi também decidida a criação da Comissão para os Mercados e Produtos Florestais (CMPF), "com a missão de conciliar estratégias de regulação de mercado no que respeita a recursos florestais (…)".

No capítulo do combate aos incêndios, foram aprovadas duas propostas de lei, uma para rever o Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios e outra para rever o Regime Jurídico das Ações de Arborização e de Rearborização, para travar a expansão da área de plantação dos eucaliptos, além de ter sido criado o Programa Nacional de Fogo Controlado.

"Travar a expansão da área florestal com eucaliptos é essencial para termos uma floresta mais ordenada, uma melhor prevenção contra os incêndios e uma gestão mais ordenada", defendeu o primeiro-ministro, António Costa, no debate quinzenal que decorreu na Assembleia da República.

António Costa sublinhou, das medidas tomadas em Conselho de Ministros na véspera, a hipótese de associação livre entre produtores florestais e entidades de gestão florestal, sejam elas de natureza societária ou cooperativa.

O primeiro-ministro disse ainda que é imperioso "obter um consenso alargado" no Parlamento ara avançar com o cadastro florestal, um  processo que, a Norte do Tejo, está parado há mais de dois séculos, conforme sublinhou.

"Investir na floresta é investir na rentabilidade do nosso território", destacou António Costa, sublinha a criação de um pacote fiscal "tendo em vista incentivar" esse mesmo investimento.

O primeiro-ministro defendeu que "a diversidade florestal permite reforçar a resiliência ao incêndio" e explicou que "quem está em cada uma das terras está em melhores condições para fiscalizar", justificando os maiores poderes concedidos às autarquias em matéria florestal e a tentativa de concentrar as competência detidas pelo ICN – Instituto da conservação da Natureza.

Há cinco anos que a agricultura cresce mais que o resto da economia



23.03.2017 às 14h57

 
MARCOS BORGA
Entre 2011 e 2015 o sector da agricultura, cresceu 2,4%, contra -0,9 no conjunto da economia. A produtividade aumentou 12% (0,3% na economia no seu todo). Ficou mal na fotografia no domínio do emprego, variável que caiu 8,3%, contra 1% no conjunto da atividade económica. As conclusões foram hoje apresentadas em Lisboa pelo Forum para a Competitividade.



O sector da agricultura "portou-se melhor do que a economia nacional como um todo", nos últimos cinco anos.

A conclusão consta de um estudo hoje apresentado em Lisboa pelo Forum para a Competitividade, onde se destaca ainda que, excetuando a variável do emprego (com uma quebra de 8,3% contra 1% no total da economia), é de assinalar o crescimento da produtividade (em certa medida por partir de uma base baixa) e a subida em 13 pontos percentuais na taxa de cobertura das importações.

Há, no entanto, na agricultura, um conjunto significativo de áreas que precisam de reformas, das quais o Forum para a Competitividade destaca: "a excessiva fragmentação da propriedade; a insuficiência do regadio, quando o nosso clima o torna essencial; o elevado custo de factores; a morosidade do licenciamento e burocracia; a insuficiente valorização dos bens públicos produzidos pelo sector; demasiadas condicionantes ambientais, sobretudo pela rigidez com que são geridas; e ainda mão-de-obra com qualificações muito baixas", para além de uma notória necessidade de reforçar as exportações e expandir fortemente o turismo rural.

APOSTA EM MARCAS PRÓPRIAS

A aposta no desenvolvimento de marcas próprias, bem como o aumento da incorporação de valor acrescentado aos produtos agrícolas são igualmente fatores de importância estrutural segundo aquela entidade.

No documento hoje divulgado, é ainda reforçada a ideia de que, para ser competitiva, a agricultura necessita de uma redução no custo dos factores de produção "como seja a energia e a água, mas esta redução não pode ser apenas do lado do preço, mas cada vez mais pelo aumento da eficiência no seu uso".

O Forum para a Competitividade sublinha também que é essencial "atualizar e desenvolver um Plano para a Internacionalização do Agroalimentar, integrando as diferentes estruturas representativas do sector, articulando as diferentes entidades públicas, associativas e privadas nos mercados externos". Por outro lado, importa igualmente reforçar a presença em mercados externos, com investimento no conhecimento dos mercados e dos consumidores finais.

Para o subsetor da floresta é sugerida a criação de uma "fiscalidade que incentive e promova a gestão agregada", o reforço das estruturas já existentes (Ex: Associações e Zonas de intervenção Florestal) e propor novos modelos, como é o caso das Sociedades de Gestão Florestal previstas no âmbito da reforma agora proposta pelo Governo.

INVESTIMENTO NA FLORESTA PASSA PELO EUCALIPTO E PELO PINHO

É necessário, segundo o documento hoje apresentado, que as Sociedades de Gestão Florestal possam apresentar retornos aos seus investidores, "com um portfólio de investimentos com níveis equilibrados de liquidez e rentabilidade, sendo essencial haver apoios claros à floresta de produção (eucalipto, pinho, etc.)".

Numa crítica à intenção do Governo em descentralizar competências em matéria de gestão florestal para as câmaras municipais, o Forum para a Competitividade conclui que "a floresta não pode ser vista como mais um pelouro em cada autarquia. O Estado não pode abdicar das competências que lhe são conferidas pela Lei de Bases da Política Florestal e pela Estratégia Nacional para as Florestas, com um modelo de governança único e coerente em todo o território que garanta a "Melhoria Geral da Eficiência e Competitividade do Sector".

Agricultura chegou à Península Ibérica através do Mediterrâneo



As investigadoras Joana Pereira e Luísa Pereira, da Universidade do Porto

Investigadores do Porto reconstituíram a história daqueles primeiros agricultores ibéricos através do estudo genético de amostras atuais da população das várias regiões em causa

Investigadores do Porto reconstituíram a viagem dos primeiros agricultores que chegaram à Península Ibérica, há 7500 anos, recorrendo a estudos genéticos. Com isso, a equipa coordenada por Luísa Pereira, do instituto de investigação I3S, da Universidade do Porto, conseguiu comprovar que essa primeira rota foi feita através do Mediterrâneo, e não por terra, pondo assim termo a um mistério: o da aparente rapidez com os povos agrícolas oriundos do Médio Oriente chegaram às terras mais ocidentais do continente europeu.

"Estudando as linhagem genéticas atuais, através de amostras de 200 indivíduos, conseguimos fazer essa viagem ao passado, lendo e datando as pequenas alterações que essas linhagens sofreram através das gerações", explica ao DN Luísa Pereira, que coordenou o trabalho, juntamente com o investigador Martin Richards, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Joana Pereira é a principal do estudo, que resulta do seu próprio doutoramento, e que foi publicado ontem na revista Proceedings of the Royal Society B.

Os achados arqueológicos mais antigos que documentam a atividade agrícola na Península Ibérica, entre restos de cerâmicas, de utensílios ou de ossos de animais domesticados, como ovelhas e cabras, datam de há 7500 anos. Em Itália, por outro lado, os vestígios mais antigos desse tipo têm cerca de oito mil anos, o que muito intrigava os arqueólogos. Como teria sido possível que esse movimento populacional só tivesse levado 500 anos a completar-se, entre a Itália e a Península Ibérica, sendo a distância tão grande?

"O arqueólogo português João Zilhão propôs um modelo, apontando a possibilidade de essa viagem ter sido feita por via marítima, através do Mediterrâneo", conta Luísa Pereira, sublinhando que o estudo da sua esquipa veio agora "confirmar exatamente isso".

Usando amostras de ADN mitocondrial (a informação genética que existe na mitocôndria, uma pequena estrutura celular) que é transmitido por via exclusivamente materna, a equipa conseguiu encontrar em Itália, na região da costa oriental, o elo comum que deslinda a questão, mostrando que a chegada dos primeiros agricultores a esta ponta do Velho Continente foi feita por via marítima.

O que esta história genética conta é que esses agricultores, chegados a Itália há oito mil anos, se misturaram aí com as populações locais, transmitindo-lhes também os novos conhecimentos que traziam. E foi depois dessa mistura de povos que saíram, então, os agricultores que, 500 anos depois, acabaram por se estabelecer em vários pontos da costa sul da Península Ibérica: por toda a zona de Barcelona, Valência, Málaga, costa sul de Portugal ou região do Sado. A exceção é a costa norte da Península Ibérica, onde apenas se encontram vestígios mais tardios de agricultura, o que poderá explicar-se por uma migração diferente, feita já internamente, através do território da península.

"Os nossos dados mostram outra coisa interessante, que é o facto de aquele grupo que se instalou na região de Itália, vindo do Médio Oriente, ter sido relativamente reduzido", diz Luísa Pereira.

Ou seja, não se tratou de uma grande migração, mas de um pequeno grupo, o que mesmo assim foi suficiente para que os povos que viviam naquelas paragens adotassem a nova cultura agrícola. "O que aconteceu foi sobretudo a adoção por parte da população local das novas práticas e vivências que esses grupos traziam consigo", sublinha a investigadora, notando que isso se repetiu também na península. Os que chegaram até cá através do Mediterrâneo eram um grupo relativamente pequeno. Mas, uma vez mais, os povos locais adotaram os novos conhecimentos e práticas que, assim, se disseminaram.

Para o grupo de Luísa Pereira, que desde 2006 dirige no IPATIMUP, agora integrado no I3S, um grupo de investigação sobre diversidade genética, o que se segue agora, nesta linha de investigação, é tentar perceber melhor como se deu a expansão da agricultura para o Norte de África. "Os vestígios mais antigos ali são de há cerca de seis mil anos e portanto é possível que ela tenha lá chegado a partir da Península Ibérica. É o que vamos tentar verificar".

Ministro da Agricultura "pergunta pelos críticos de Alqueva"


O ministro da Agricultura, Capoulas Santos
Foto: DR


Teixeira Correia
24 Março 2017 às 14:01

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, visitou Ourique na manhã desta sexta-feira e inaugurou a Feira do Porco Alentejano, que se realiza naquela vila até ao próximo domingo.

Antes de percorrer os diversos expositores, Capoulas Santos esteve em Garvão, também naquele concelho, onde inaugurou a segunda fase de ampliação e modernização da Fábrica Montaraz, uma unidade de transformação de enchidos, que emprega 50 pessoas.

À margem do certame, o titular da pasta da agricultura falou aos jornalistas e quando questionado sobre Alqueva. "Tenho muita honra em ter estado no lançamento desta infraestrutura e ter feito dela a batalha da minha vida", disse Capoulas Santos.

O ministro não deixou de referir que "agora que o projeto passou a fase mais complicada, é bom verificar que os críticos desapareceram", e que Alqueva vai cumprir um dos seus grandes objetivos, "combater a desertificação", concluiu.

No passado dia 14, o ministro esteve em Beja, numa reunião de trabalho com a Comissão de Acompanhamento do Regadio de Alqueva, na qual anunciou a redução do preço da água entre os 20 e os 33%. Os beneficiários diretos vão pagar menos 20% por metro cúbico da água consumida em alta pressão, enquanto as explorações em baixa pressão vão ter uma redução de 33%.

Quando questionado sobre essa decisão, justificou que "baixar os preços não é fácil e foi um exercício articulado com os Ministérios das Finanças e do Ambiente, para chegar a uma solução satisfatória que garanta condições de competitividade aos agricultores", rematou.

Capoulas Santos foi mais longe ao afirma que "a agricultura em Portugal atravessa um dos seus melhores momentos". Justificando que o país "está a reduzir e a substituir importações e a reduzir o défice agroalimentar", o ministrou acrescentou ainda que Portugal "está a crescer sustentadamente na exportação de muitos produtos agrícolas".

Antes de finalizar a visita Capoulas Santos participou no encerramento de um seminário sobre o porco alentejano e reconheceu o importante papel da Associação de Criadores do Porco Alentejano (ACPA), atribuindo uma condecoração do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

Douro indignado com mais área de vinha



24.03.2017 às 8h29

 
DR
Lavoura e comércio insurgem-se contra a decisão do Governo de aumentar a mancha de plantação. São só 150 hectares, mas é um sinal "de desprezo e desrespeito" pela região

Abílio Ferreira
ABÍLIO FERREIRA
Os agentes vitivinícolas do Douro estão revoltados com o Ministério da Agricultura. Lavoura e comércio insurgem-se contra a decisão de aumentar em 150 hectares a mancha plantada e já escreveram a reivindicar a revogação da portaria que choca com as recomendações do Conselho Interprofissional (CI) e pressiona os produtores de uma região com um excesso de 40 milhões de litros por colheita.

A Secretaria de Estado da Agricultura e Alimentação (SEAA) explica ao Expresso que a medida destina-se a compensar parcialmente os 1500 hectares de vinha que, segundo os dados da IVV – Instituto da Vinha e do Vinho "se terão perdido nos três últimos anos".

Esta redução de 500 hectares por ano e "a elevada apetência da região pelo investimento na vitivinicultura que em 2016, com a a apresentação de candidaturas para 212 hectares, levou o Governo a autorizar a plantação de uma área equivalente a 10% da área perdida", explica o gabinete do secretário de Estado Luís Vieira, por sinal natural de Valpaços.

DESPREZO PELA REGIÃO
Mas, alegam as organizações da região, os dados do IVV estão errados, bastando para isso consultar o cadastro do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). A área plantada no Douro cresceu nos últimos anos 1469 hectares, sendo 270 afetos à denominação de origem (DOP) e indicação geográfica protegida (IGP). Ou seja, os dois organismos da mesma tutela não comunicam.

E há ainda direitos de replantação concedidos a produtores de fora da região que não foram exercidos (870 ha) e fatores como a renovação da vinha que só quem segue a região como o IVDP incorpora. O documento do IVDP que sustenta a posição da CI refere quem nos últimos seis anos, a área afeta à produção de vinhos protegidos (DOP e IGP) aumentou 3,1%.

A Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP) classifica a ampliação da mancha "inaceitável, sem qualquer fundamento e gravosa para a lavoura duriense". E repudia a medida da SEAA por "basear-se em dados falsos e ignorar o excesso de produção", traduzindo um "desrespeito pela posição fundamentada da CI e desprezo pelo papel do IVDP" a quem deveria caber a gestão do potencial vinícola. "É preciso sair de Lisboa e ver o país real", diz António Saraiva, presidente da AEVP.

E 150 hectares numa mancha de 43 mil (250 mil pipas) é um valor tão relevante assim? "Não é dispicienda, mas não terá grande impacto", reconhece António Lencastre, presidente da Federação Renovação Douro (ex-Casa do Douro) que representa os 23 mil produtores recenseados na região.

Mas, "é uma questão de princípio. O que mais indigna é o desprezo pela posição da CI, sem se conhecer o critério e base técnica que fundamenta a medida. O que se segue a estes 150 hectares e quando termina o ciclo de expansão?", interroga António Lencastre, para quem é inverosímil que numa região e que, por causa do benefício, cada hectares é valorizado em 2000 euros, os proprietários tenham destruído vinhas avaliadas em 3 milhões de euros. O essencial "não é a área plantada mas sim "a relação entre a produção e venda", defende o viticultor.

ENGROSSAR O EXCEDENTE
António Saraiva reconhece que o reforço da mancha é irrelevante, mas o que está causa "é o sinal errado que é dado", sem atender aos interesses da região e desrespeitando as organizações representativas". Em vez de "valorizar os produtores, a política pública tende a engrossar o excedente para vinho de mesa, com preços muito baixos, determinados por grandes produtores como Espanha". O caráter de monocultura e viticultura de montanha torna o valor fiduciário mais elevado e a região muito sensível a alteração de área plantada. O argumento da apetência do investimento "é falaciosa". É a notoriedade e prestigio que levam a uma procura intensa, mas o ponto "é que a região produz muito mais do que vende", acentua a AEVP.

A Comissão Europeia recomenda o crescimento anual de 1% da área plantada (até 2030), cabendo a cada país gerir as novas autorizações. Em 2017, são mais 1932 hectares, cabendo 800 ao Alentejo. A Madeira e o Douro sugeriam um aumento simbólico. Mas, no caso do Douro o ministério não acolheu a recomendação. Os agentes da região sugerem que os 150 hectares sejam distribuídos pelas 10 outras regiões que querem crescer na área de vinha.

A SEAA refere que as autorizações estão dependentes dos resultados do concurso E reage às críticas com diplomacia. "Num mercado aberto e competitivo existem sempre tensões entre os diferentes atores, entendendo o Governo as críticas nesse contexto".

O IVDP descartou comentar a polémica, remetendo para a posição da tutela.