quarta-feira, 24 de maio de 2017

Prevenir fogo florestal combatendo a negligência


Foto: Artur Machado/Global Imagens


EDUARDO PINTO
20 Maio 2017 às 15:13


No rescaldo de cada época de incêndios florestais em Portugal nunca falta a discussão sobre a prevenção. Ou a falta dela. A verdade é que, apesar do reforço de meios e das medidas tomadas, o país arde todos os anos. E este ano a tragédia até começou cedo, com mais de 13 mil hectares já queimados, na sequência de quase cinco mil ignições.

Rogério Rodrigues, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), adianta, ao JN, que "é um erro dizer que no país não se faz prevenção estrutural", pois "gastam-se milhões de euros durante todo o ano". Reconhecendo a dificuldade em fazer repercutir esse investimento no balanço final de cada época, salienta que "há que apostar mais no homem". É que "quase todos os incêndios ocorrem por ação humana" e, "retirando a fatia ligada ao crime, a maior parte das ocorrências está relacionada com negligência".

Ora, bastou um mês de abril de "terrível secura, quase comparável a qualquer mês de verão", para se ter um cenário de "queimadas e queimas como se estivéssemos num normal período de primavera ou inverno". Isto gerou naquele mês deste ano um número de incêndios que consumiram uma área superior a 11 mil hectares. "Isto não pode acontecer num país com o nível de civilização que temos", vinca Rogério Rodrigues, reiterando que "é preciso apostar mais nas pessoas para retirar esse nível de negligência".

Não se pode limpar tudo

Sobre a limpeza de matas e florestas, o presidente do ICNF realça que "é um mito dizer-se que todo o centímetro quadrado tem de estar absolutamente limpo". Justifica que "é impraticável, é utópico e é contra a natureza". Sublinha que "esta precisa de todas as espécies e a biodiversidade também".

O presidente da associação ambientalista Quercus, João Branco, concorda que limpar tudo é uma tarefa difícil de concretizar, até porque é muito dispendiosa, pelo que "a solução global passa pelo cumprimento da legislação e da efetiva elaboração e execução dos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios. Não era preciso mais nada".

De acordo com João Branco, "as campanhas de sensibilização são importantes, mas são claramente insuficientes". É que "quando muito influenciam o número de incêndios que são causados por negligência". Porém, grande parte deles são intencionais e, quanto a esses, "a prevenção nada consegue", uma vez que "quem anda a atear fogos não é sensível aos argumentos usados nas campanhas. Muitas vezes, até há interesses por trás".

O mesmo responsável defende ainda que têm de ser implementadas medidas como "a silvicultura preventiva". Passam pela "limpeza e bom estado dos caminhos florestais e de aceiros", bem como a "criação de faixas de descontinuidade de combustível", e estão previstas na lei e nos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios.

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