terça-feira, 14 de março de 2017

Azeite vai ficar mais caro em Portugal


Produtores, comerciantes e o Governo admitem aumento dos preços do azeite este ano devido à queda da produção.  

Azeite vai ficar mais caro em Portugal

Miguel Baltazar

06 de março de 2017 às 12:44

A queda da produção de azeitona para azeite em 30% em 2016, para menos de 500 mil toneladas, deverá ser parcialmente compensada pela subida dos preços, o que é espectável que possa acontecer este ano, disse à Lusa o ministro da Agricultura.
 
"Infelizmente, o ano de 2016 foi, do ponto de vista climatérico, muito mau para a agricultura e provocou baixas de produção em vários sectores, designadamente no azeite", disse o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, acrescentando que "quando a produção cai os preços tendem a subir".
 
Logo, o prejuízo que decorre da redução das quantidades produzidas "é pelo menos parcialmente compensado pela subida dos preços. E é isso que esperamos que possa acontecer este ano", afirmou o governante.
 
O ministro explicou que a produção de azeitona se caracteriza tradicionalmente por anos de safra e contra safra (após um ano de elevada produção segue-se invariavelmente uma menor colheita), sendo esta a realidade com a qual os operadores e os agricultores estão habituados a lidar.
 
Segundo Capoulas Santos, normalmente os anos de menores produções caracterizam-se por melhor qualidade, apesar de actualmente os parâmetros médios de qualidade do azeite português serem "muito bons", dado existirem tecnologias que permitem manter graus razoáveis de qualidade.
 
Questionado sobre a influência da queda da produção da azeitona nas exportações de azeite, o ministro disse que as grandes empresas exportadoras têm 'stocks' e que acredita que "não haverá problemas no abastecimento dos mercados tradicionais portugueses".
 
De acordo com as últimas previsões agrícolas divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a produção de azeitona para azeite deverá ter caído 30% no ano passado para menos de 500 mil toneladas.
 
Isto deveu-se, segundo o INE "às condições climatéricas adversas e à alternância anual de produção dos olivais tradicionais", pelo que se antevê uma campanha na ordem das 491 mil toneladas, isto é, menos 30% que em 2015, ressalvando, no entanto, que o azeite é "de boa qualidade".
Produtores do Alentejo admitem subida do preço
 
O aumento do preço também é admitido por produtores do Alentejo, região com mais olival e que produz "70 a 80%" do azeite nacional.
 
A Cooperativa de Olivicultores de Borba, com cerca de 600 associados e uma das principais do Alentejo, assume a diminuição da produção de azeitona para azeite na campanha de 2016/2017, que se vai reflectir no preço do azeite.
 
"A quebra na produção de azeitona provoca o aumento do preço do azeite", disse à agência Lusa Paulo Velhinho, director executivo da cooperativa.
 
A produção de azeitona no seio desta organização registou, nesta campanha, revelou, "uma quebra de cerca de 40% em relação a anos normais", enquanto face a 2015 a descida "foi de 10%".
 
E, como a azeitona foi paga a um preço "mais elevado", "os sócios da cooperativa apanharam mais azeitona e não a deixaram nas oliveiras", acrescentou.
 
"O preço da azeitona na campanha de 2015 foi, em média, entre 36 e 38 cêntimos por quilo", enquanto, na última campanha, "a média foi de 48 cêntimos por quilo, embora tenha havido azeitona galega que chegou a render 55 cêntimos por quilo", disse.
 
Henrique Herculano, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), entidade que visa "dinamizar e potenciar o sector do azeite", disse à Lusa que a quebra "é reflexo do que aconteceu no Alentejo".
 
Isto porque, frisou, trata-se da região portuguesa "com mais olival plantado". Possui quase 170 mil dos 315.340 hectares do país, segundo dados de 2015 do INE.
 
"E grande parte deste olival é moderna, portanto, com produtividades muito elevadas", o que faz com que a região, que deve ser responsável por "70 a 80% do azeite produzido em Portugal" nesta campanha, seja "incontornável" no sector, sublinhou.
 
Mas a produção desta campanha, precisou, foi prejudicada pelas "chuvas de maio, que afectaram a floração das árvores" e pelos "calores tardios, sobretudo em Setembro, que diminuíram o rendimento da azeitona".
 
Do grupo Sovena, detentor de marcas como a Oliveira da Serra e com 10 mil hectares plantados de olival, a maioria no Alentejo, também chega o alerta de que este ano "há menos oferta" de azeite "do que o normal", em Portugal e em diversos outros países, pelo que "os preços vão subir".
 
"Há uma conjuntura internacional que faz com que haja menos oferta do que a procura", disse à Lusa o director de Marketing e Vendas da Sovena, Otto Teixeira da Cruz, aludindo a quebras na produção em Portugal, Tunísia e, "principalmente em Itália", onde "foi muito baixa", salvando-se apenas Espanha, responsável por 50% do azeite comercializado no mundo.
 
E, continuou, como os italianos tiveram essa produção baixa, "têm que ir à procura de azeite e quem tem para lhe vender são os outros países, principalmente Espanha, mas também Portugal, que produz mais cedo", provocando "uma inflação dos preços".
 
"Vai ser um ano complicado, mas, se o consumo começar a crescer, depois, terão de ser ajustados também os preços da oferta", afirmou Otto Teixeira da Cruz.
 
Henrique Herculano perspectiva igualmente o aumento do preço do azeite, mas acredita que não deverá ser "muito significativo".
 
"Poderá "não ter grande expressão" porque o azeite, "nos últimos anos, já tem tido valores bastante elevados", previu. A "esmagadora maioria do azeite" que o consumidor está a comprar agora, indicou, "ainda não deve ser desta campanha", mas "lá para Maio ou Junho já é capaz de haver uma subida do preço, a não ser que haja a importação de azeites do norte de África".
 
Na região de Portalegre, António Melara Nunes, que produz o azeite Castelo de Marvão confirma "quebras significativas" na produção de azeitona, devido ao tempo seco em 2016.
 
O aumento de preços na venda de azeite a granel já se sente, de acordo com o empresário, que argumentou, contudo, que este cenário pode ser "uma boa oportunidade" para os pequenos produtores.
 
A subida de preços, afirmou, permite ao consumidor, actualmente, comprar azeite intensivo ou de produtor ao mesmo preço, pelo que os pequenos produtores podem "vingar" num mercado "altamente monopolizado".
 
Jerónimo Martins diz que consumidores vão procurar alternativas
 
Também a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, considera que a quebra da produção de azeitona vai encarecer o azeite e levará os consumidores a procurar alternativas, enquanto o Lidl não espera oscilações nos preços.
 
Questionado pela Lusa sobre o impacto da quebra de produção, o presidente da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos afirmou: "Vai ter um efeito no preço, o preço vai subir".
 
Com isso, "automaticamente para um bocado o consumo do azeite e o consumidor vai procurar outras gorduras", que podem passar por óleos vegetais, margarinas ou manteigas, acrescentou o presidente da dona da cadeia de supermercados Pingo Doce.
 
"Acho que não é nada de preocupante, não vai haver falta de nada", acrescentou Pedro Soares dos Santos.
 
Por sua vez, fonte oficial do Lidl Portugal refere que, "tendo em atenção os 'stocks' de azeite existentes no final de 2016, e apesar de alguma quebra na produção verificada na campanha do ano anterior, não são esperadas grandes oscilações nos preços de azeite para o corrente ano".
 
Já a cadeia de hipermercados Continente, do grupo Sonae, afirma que "está a par das previsões anunciadas para a produção da azeitona para azeite e reconhece as respectivas consequências para os consumidores".
 
No entanto, "não sendo o Continente um produtor e/ou transformador de azeitona, tais questões deverão ser remetidas para os organismos que regem essa actividade como, por exemplo, a Casa do Azeite", concluiu fonte da cadeia de hipermercados.
 
A Lusa contactou o grupo Auchan (hipermercados Jumbo) e o grupo Os Mosqueteiros, mas não obteve resposta.

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