sábado, 9 de julho de 2016

Comissão Europeia poderá antecipar pagamento de 70% das ajudas diretas da PAC


por Ana Rita Costa- 28 Junho, 2016

A Comissão Europeia poderá vir a incluir no pacote de medidas de apoio aos setores em crise a antecipação para outubro do pagamento de 70% das ajudas diretas no âmbito da Política Agrícola Comum. A notícia foi avançada pelo Ministério da Agricultura português, que revela que a Comissão Europeia "deu sinais de acolhimento da proposta portuguesa".

Esta é, aliás, uma das propostas que a Comissão Europeia deverá apresentar no Conselho de Ministros da Agricultura já na próxima reunião, que decorre a 18 de julho.

No encontro realizado esta semana, a maioria dos Estados-Membros e a Comissão Europeia reconheceram a necessidade de avançar com medidas de apoio de apoio específicas para os setores em crise. Para o Ministro da Agricultura, Capoulas Santos, trata-se de "uma alteração qualitativa de grande importância na posição dos Estados-Membros, tendo em conta que há meses que Portugal vem reivindicando a necessidade de adoção de medidas extraordinárias, em conjunto com mais alguns Estados-Membros, esbarrando permanentemente na falta de vontade política de uma maioria que considera que deve ser o mercado a resolver o problema".

Relativamente à proposta de antecipação do pagamento das ajudas diretas, o Ministro da Agricultura considera que esta é "uma importante medida que, se for aprovada, permitirá a chegada de algum apoio aos produtores um pouco mais cedo do que o previsto no calendário normal, mas que, ainda assim, não é suficiente!" Capoulas Santos tem vindo a implementar um conjunto de medidas nacionais de apoio ao setor do leite e da suinicultura, reconhecendo no entanto que "o caso do leite está a arrastar-se mais do que o da suinicultura, tendo em conta a especificidade deste mercado". O Ministro recorda que "a todos os fatores que ajudaram a que se instalasse uma crise europeia no setor da suinicultura, há a somar o fim do regime das quotas leiteiras no caso deste setor específico", situação para a qual não há alternativas.

EFSA diz que tratamentos usados em oliveiras com xylella não eliminam por completo a doença


por Ana Rita Costa- 28 Junho, 2016

Um relatório recentemente publicado pela European Food Safety Authority (EFSA) revela que os tratamentos que estão a ser utilizados para tratar as oliveiras afetadas pela Xylella Fastidiosa na região italiana de Puglia não estão a ser bem-sucedidos na eliminação da bactéria, limitando-se a reduzir os sintomas.

De acordo com o Olive Oil Times, o estudo da EFSA surge em resposta a um pedido da Comissão Europeia, que pretendia aconselhamento científico em relação às medidas levadas a cabo na região italiana para travar a doença que já dizimou centenas de hectares de olival no país.

A EFSA avaliou dois tratamentos experimentais diferentes e que estão a ser testados por duas equipas de investigação diferentes na região italiana: um da Universidade de Foggia, que está a testar compostos bioativos que são aplicados na árvore depois de um processo de poda extensivo; e outro do CREA, que envolve a utilização de um produto à base de zinco, cobre e ácido cítrico para tratar as árvores infetadas.

"Estes tratamentos experimentais foram testados na sua eficácia na supressão dos sintomas da doença e, de acordo com os investigadores, os resultados positivos podem ser considerados apenas preliminares", refere o Olive Oil Times.

Segundo a EFSA, a eficácia a longo prazo destes tratamentos ainda não foi estabelecida e são precisos mais estudos para se chegar a uma conclusão acerca do seu prolongamento.

Investigador caracteriza perfis sensoriais dos vinhos portugueses


por Ana Rita Costa- 30 Junho, 2016

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) publicou recentemente os resultados de um estudo científico que caracteriza os perfis sensoriais típicos dos vinhos jovens, brancos e tintos certificados como vinhos 'Regionais' ou de 'Indicação Geográfica Protegida' em Portugal Continental. A investigação foi publicada nas revistas Journal of Sensory Studies (EUA) e Ciência e Técnica Vitivinícola (PT) e é um trabalho do Instituto Superior de Agronomia no âmbito da tese de Doutoramento de Aníbal José Coutinho.

De acordo com o autor do estudo, que é também jornalista especializado e enólogo, o que o estudo revela é que a região que apresenta o perfil sensorial típico mais diferenciado é o Minho, "isolando-se sensorialmente em relação a todas as outras regiões nacionais".

"Esta diferenciação deve-se a avaliações extremas nos vinhos brancos, de cor muito clara, com presença gasosa, corpo leve e bastante ácido (refrescante). Também o vinho tinto minhoto se revelou único pela cor violácea muito carregada, pela presença gasosa, acidez elevada e forte sensação de adstringência secante na boca", indica o estudo.

Segundo Aníbal José Coutinho, "trata-se de um trabalho científico internacionalmente inovador, com enorme aplicação prática para o conhecimento do gosto dos consumidores do vinho português e para a descrição sensorial mais uniformizada dos vinhos de cada uma das 12 regiões vinhateiras de Portugal Continental em feiras e apresentações em todo o mundo. Agora, quando um consumidor revela a sua preferência pelo Vinho Alentejano ou Duriense, podemos perceber qual o perfil sensorial relacionado com uma ou outra região, e ainda os perfis mais aproximados que podem ser recomendados".

Para Frederico Falcão, Presidente do IVV, "este estudo contribui, decisivamente, para a promoção e divulgação dos vinhos portugueses, pelo que é com enorme honra que o Instituto da Vinha e do Vinha se associa ao ISA e ao coordenador do trabalho. Estes resultados constituem uma importante e fundamental ferramenta para a promoção da tipicidade dos nossos vinhos e regiões vinhateiras. Um conhecimento prévio e aprofundado desta informação pode influenciar, com sucesso, as estratégias de divulgação, promoção e exportação dos vinhos portugueses."

Verbas por utilizar no PRODER obrigam a devolver 18 milhões a Bruxelas


06 Jul 2016 Lusa

Informação prestada pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

Verbas por utilizar no PRODER obrigam a devolver 18 milhões a Bruxelas

O ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, afirmou hoje que o anterior programa de apoio ao investimento agrícola (PRODER) não foi totalmente executado, como afirmou a sua antecessora, Assunção Cristas, obrigando a devolver 18 milhões de euros a Bruxelas.

"Fiquei surpreendido porque ouvi, quer a anterior ministra [Assunção Cristas, actual líder do CDS-PP], quer membros do anterior governo (…) referirem publicamente que tinha havido uma execução de 100% no PRODER. Ora os dados que acabam de ser enviados para Bruxelas, depois de apuradas as contas, dizem que Portugal vai ter de devolver 18 milhões de euros que não foram utilizados", destacou o ministro em declarações à Lusa, após uma audição na comissão parlamentar de Agricultura e Mar.

"Um desperdício do qual tenho muita pena, porque no contexto em que o país vive fazem muita falta", lamentou.

O PRODER vigorou entre 2007 e 2013, mas tinha mais dois anos para gastar as verbas disponíveis, pelo que só foi efectivamente fechado no final do ano passado.

Quanto ao actual Programa de Desenvolvimento Rural (PDR, que entrou em vigor em 2014 e se estende até 2020), adiantou que foram já executadas, ou seja, pagas aos promotores dos projectos, 18% das verbas disponíveis e que pretende executar este ano 600 milhões de euros de despesa pública (dos quais 90 milhões correspondentes à comparticipação nacional).

"O nosso objectivo é, em cada ano, executar 100% da dotação anual e ir, nos anos seguintes, recuperando aquilo que nos dois anos anteriores não foi executado, uma vez que em 2014 a execução foi zero e em 2015 foi apenas de 12%", referiu Capoulas Santos.

O governante estimou que a execução do programa vai acelerar em Outubro, altura em que são feitos os pagamentos das medidas agroambientais, que são das que têm mais peso no orçamento disponível (cerca de 20% da dotação anual).

Capoulas Santos adiantou ainda que vai apresentar aos parceiros, "nos próximos dias", a reprogramação do PDR (que foi desenhado pelo anterior governo), que terá depois de ser submetida e aprovada por Bruxelas.

"Não vamos revolucionar, iremos introduzir pequenos ajustamentos", explicou, prevendo que as mudanças possam entrar em funcionamento em outubro.

Entre as medidas que vão sofrer alterações incluem-se o aumento dos apoios aos pequenos agricultores, que passam de 25 mil euros para 40 mil euros, e o aumento do prémio para instalação de jovens agricultores, que passa de 15 para 20 mil euros.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Anipla diz-se “desapontada” com licença de utilização do glifosato por 18 meses


por Ana Rita Costa- 4 Julho, 2016

 

A utilização do herbicida glifosato na União Europeia foi autorizada por um período de mais 18 meses. A Anipla – Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas emitiu entretanto um comunicado onde se assume desapontada com a decisão.

Na nota enviada às redações, a associação refere que "na certeza de que muitos vão retratar esta decisão como uma espécie de vitória para a indústria fitofarmacêutica, a verdade é que estamos desapontados."

"Depois da Comissão Europeia ter proposto, originalmente, uma reaprovação do uso do glifosato por um período de 15 anos, ficamos agora, e apenas, com uma extensão de 18 meses, aguardando que, durante esse período, se realize uma nova avaliação para adicionar às já existentes 90 000 páginas que resumem 3 500 estudos de evidências científicas", continua.

De acordo com a Anipla, esta decisão "serve apenas para demonstrar que o que deveria ter sido um processo de decisão tomado com base em critérios científicos, foi completamente prejudicado e adulterado pela componente política."

Floresta portuguesa tem escapado às chamas

Mais de 9 mil bombeiros estão preparados para enfrentar a época mais crítica em fogos florestais. Este ano, o número de área ardida é o mais baixo da última década

02 Julho 2016 • Susana Lúcio

Entre 1 de Janeiro e 15 de Junho arderam 1245 hectares em Portugal. O número parece elevado, mas em comparação ao que ardeu em 2015 é baixo. No ano passado, no mesmo período, as chamas consumiram 14.971 hectares, menos 88 por cento do que este ano.

A diferença não dá conforto ao comandante nacional operacional, José Manuel Moura. "Ainda tivemos 1800 incêndios", disse à SÁBADO.

Os bons resultados têm várias explicações. "Tivemos condições meteorológicas favoráveis com chuva até Maio. Mas ainda assim, não reduzimos o dispositivo", disse o comandante nacional operacional.
Para além disso, foram realizadas 304 acções de treino sobre segurança e comportamento de frente de fogo para 7100 operacionais, incluindo 5400 bombeiros.

"Também contámos com a ajuda da GNR que identificou cerca de mil suspeitos de fogo posto e da PSP, que prendeu cerca de uma centena de incendiários", esclarece José Manuel Moura.

Mas, o comandante nacional operacional não espera que a época crítica em que entrámos seja fácil. "Somos um país mediterrânico com Verões quentes e secos e em que o risco de incêndio florestal é elevado."

O comandante apela ao bom comportamento dos portugueses. "A causa humana é a principal responsável pela ignição dos fogos, o cidadão é um pilar na defesa da floresta."

Este ano vão estar no terreno 9708 operacionais, 2043 viaturas e 47 meios aéreos, um dispositivo idêntico ao do ano anterior.   

Preocupada com glifosato, associação Zero quer agricultura mais biológica


LUSA 29/06/2016 - 19:16

Uso do herbicida na União Europeia prolongado até Dezembro de 2017.

Portugal deve adoptar medidas para incrementar uma agricultura mais amiga da saúde e do ambiente, defende a associação ambientalista Zero, que quer "a proibição imediata" da utilização de herbicidas em espaços públicos e vias de comunicação.

De acordo com a associação, em comunicado divulgado esta quarta-feira, a agricultura portuguesa deve adaptar-se nos próximos 18 meses, o mesmo tempo que a Comissão Europeia autorizou para o uso de glifosato.

A Comissão Europeia anunciou esta terça-feira a renovação da licença para a utilização do herbicida glifosato, até final de 2017, no máximo, prazo em que a agência europeia de produtos químicos (Echa) tem para dar um parecer. A decisão de Bruxelas de autorizar, até, no máximo, o final do próximo ano, o uso do glifosato, resulta da falta de uma decisão, por maioria qualificada, entre os 28 Estados-membros, sobre o uso do herbicida na União Europeia.

Comentando a decisão de Bruxelas, a associação afirma-se preocupada com a extensão do prazo, e defende que o Governo português deve "adoptar de imediato um pacote de medidas" para uma adaptação progressiva da agricultura, "aproveitando os trabalhos em curso que visam a elaboração da Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica".

Para a Zero, o Governo deve executar também um plano de acção para a produção e promoção de produtos biológicos. A agricultura biológica, diz-se no comunicado, representa apenas 6% da superfície agrícola utilizada.

Na altura da discussão do Orçamento do Estado para 2016, a associação já tinha defendido a alteração do IVA para os pesticidas em comercialização, dos actuais 6% para 23%.

A Comissão Europeia propôs ainda aos Estados-membros que restrinjam as condições de uso do glifosato na União Europeia, incluindo a proibição do uso de taloamina, que potencia o efeito do herbicida, nos subprodutos, o reforço do controlo do uso antes das colheitas e ainda minimizar a utilização em áreas específicas, como parques públicos e parques infantis.

Em Portugal, uma petição a favor da proibição do herbicida já reuniu 15 mil assinaturas.

Agricultura 4.0


Ontem 00:05 João Rafael Koehler, Presidente da ANJE

A agricultura é cada vez mais uma actividade económica intensiva em conhecimento, I&D e inovação. Afigura-se por isso natural que, a par de modelos de negócio mais tradicionais, surjam 'startups' inovadoras no sector agrícola.

O Governo, e bem, lançou incentivos à indústria 4.0, de modo a criar condições para que o setor manufatureiro português seja mais competitivo no quadro da 4.ª revolução industrial baseada na internet. Idêntica política de estímulos devia, pelas mesmas razões, ser direcionada para o setor agrícola, que, apesar do crescimento recente, está longe de aproveitar plenamente o seu potencial económico. Por outro lado, e tal como na indústria 4.0, a introdução de tecnologias no setor agrícola gera oportunidades de negócio para 'startups' inovadoras.

Para ser competitiva hoje, a agricultura deve assentar no conhecimento tecnológico e científico. Esta é uma condição essencial para a mecanização da produção, para a introdução de técnicas agrícolas sofisticadas – fertilizantes, sistemas de irrigação, correção dos solos, uso de estufas, seleção de sementes, manipulação genética de plantas e animais, conservação de produtos, apuramento de raças, etc. –, para a ligação à indústria (o que exige produtos de qualidade, capacidade de produção, meios logísticos, transportes, etc.) e para a internacionalização.

Em suma, a agricultura é cada vez mais uma atividade económica intensiva em conhecimento, I&D e inovação. Afigura-se por isso natural que, a par de modelos de negócio mais tradicionais, surjam 'startups' inovadoras no setor agrícola. 'Startups' essas que, com as suas soluções tecnológicas e científicas, possibilitam a otimização do sistema de produção. Ou seja, permitem aos agricultores ganhar competitividade e criar valor eliminando custos, aumentando a produtividade, melhorando a qualidade dos produtos e agilizando os processos de produção, tal como acontece numa unidade industrial.

Apesar do sucesso já alcançado por 'startups' portuguesas no setor agrícola, é verdade que faltam no nosso país quer agricultores com uma cultura empresarial mais moderna, quer empreendedores com competências tecnológicas. No primeiro caso, a renovação geracional ajudará a mitigar algum atavismo na gestão dos negócios agrícolas, sendo de assinalar que muitos jovens qualificados investiram na agricultura nos últimos anos como fuga ao desemprego ou como opção profissional consciente. O apelo do campo sentido por estes jovens trouxe para a agricultura portuguesa capital humano com noções de gestão, visão de mercado, sentido de negócio e conhecimento dos apoios comunitários.

No segundo caso, importa fazer com que os empreendedores com competências tecnológicas vejam na agricultura um setor com boas oportunidades de negócio e potencial para atividades de inovação. Ora, para que isso aconteça, são necessários programas públicos que, em paralelo com incentivos dirigidos ao setor, promovam a divulgação das potencialidades empresariais da fileira agrícola, a sensibilização dos empreendedores para as vantagens de investir na agricultura e a demonstração de que o empreendedorismo inovador faz todo o sentido nas atividades económicas tradicionais.

23 nepaleses explorados na agricultura em Almeirim



RUI OLIVEIRA / GLOBAL IMAGENS
PUB
Três pessoas foram detidas por suspeitas de auxílio à emigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal e tráfico de pessoas

Foi com promessas de um bom ordenado e um contrato de trabalho, que lhes permitiria obter uma autorização de residência, que 23 cidadãos de origem nepalesa rumaram a Portugal. Porém, à sua espera estava uma realidade completamente diferente: exploração laboral agrícola em Almeirim. Três pessoas - um cidadão português, de 40 anos, e dois estrangeiros, de 32 e 29 anos - foram detidas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e hoje serão presentes a um juiz de instrução criminal a responder por suspeitas de tráfico de pessoas, auxílio à emigração ilegal e angariação de mão-de-obra ilegal.

Aos 23 trabalhadores os patrões começaram por prometer um ordenado de 500 euros, mais subsídio de alimentação. Só que, depois de assinados os respetivos "contratos", as cláusulas não eram cumpridas, recebendo cada um deles apenas 200 euros, aos quais eram descontadas despesas com alimentação e alojamento. "A alimentação que cada trabalhador recebia era-lhe fornecida mediante desconto no vencimento, consistindo apenas em produtos: massa, batata, cebola e arroz. Entretanto, os trabalhadores encontravam-se alojados em três pequenas divisões de uma construção sem condições mínimas de segurança e higiene, bem como sem janelas e pavimento, cada uma composta por uma sala e cozinha comum e um quarto exíguo, onde cerca de sete pessoas dormiam em camas tipo beliche", descreveu, ontem, o SEF em comunicado, acrescentando que os 23 cidadãos "tinham apenas acesso a uma única casa de banho, sem água canalizada". "Nenhum destes espaços dispunha de eletricidade."

Depois de uma primeira fiscalização com a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), o SEF acabaria por abrir um inquérito, que levou à detenção das três pessoas: o proprietário da exploração agrícola e dois cidadãos nepaleses, suspeitos de angariarem compatriotas. "O patrão dos trabalhadores e do seu ajudante, através de uma empresa unipessoal sediada em Lisboa, contratavam e forneciam trabalhadores estrangeiros a explorações agrícolas", disse ao DN Paulo Batista, inspetor do SEF, acrescentando que os mentores do esquema também seduziam os seus compatriotas com a "ilusão" de que com um contrato de trabalho poderiam legalizar-se.

Segundo Paulo Batista, nos últimos anos, o SEF tem verificado uma especial incidência no tráfico humano para "trabalho laboral". A procura de mão-de-obra barata em países pobres, sobretudo para explorações agrícolas, é uma área que tem preocupado os investigadores.

“Melhor alimentação é sinónimo de mais saúde”

NOTA DE IMPRENSA

O Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira, participou hoje no Ciência'16 – Encontro com a Ciência e Tecnologia em Portugal, uma iniciativa que decorre ao longo de 3 dias no Centro de Congressos de Lisboa e que reflete sobre os principais temas e desafios que orientam a atividade da comunidade científica portuguesa, juntando investigadores e convidados de diferentes esferas da sociedade num debate alargado e plural.
"Investigação e Produção Agro-Alimentar e Animal" foi o tema da sessão em que participou Luís Vieira. No encerramento dos trabalhos, o Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação defendeu a necessidade de "implementar práticas inovadoras e sustentáveis, que permitam alimentar a população de forma saudável, contribuindo para melhorar a saúde".
Segundo Luís Vieira, "é cada vez mais importante investir em novas tecnologias e em investigação que permitam chegar a soluções ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis, proporcionando quantidade e qualidade na alimentação".
O Secretário de Estado destacou a importância desta iniciativa que reúne num mesmo espaço uma comunidade científica riquíssima, cujo conhecimento "tem de ser potenciado e transmitido, para que possa ser colocado ao serviço da comunidade, nomeadamente da comunidade agrícola, responsável pela produção de alimentos e cada vez mais disponível para investir no setor".
No encerramento desta sessão, Luís Vieira destacou também a criação da Rede Nacional que envolve as estações experimentais do INIAV – Instituto Nacional para a Investigação Agrícola e Veterinária, do lado do Ministério da Agricultura, e as Escolas Superiores Agrárias e Institutos Politécnicos, do lado do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia. Trata-se de uma parceria que tem como objetivo central a "conjugação de esforços por forma a produzir conhecimento e a transmiti-lo de forma eficiente aos agricultores", rematou o Secretário de Estado.
Lisboa, 05 de julho de 2016

Uma alga que aumenta a validade da fruta


22.06.2016 às 14h540
 
O passo seguinte para o AlgaeCoat é a " validação industrial e o aumento de escala da produção"

BORIS HORVAT

Investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Instituto Politécnico de Leiria (Mare-IPLeiria) descobriram uma alga que substitui aditivos químicos dos alimentos. A ideia é usar em fruta e saladas prontas a consumir

RUBINA FREITAS
Os pais que querem mandar uma maçã para os lanches dos filhos já se deparam com este problema: Com casca e inteira não comem, descascada e fatiada estraga-se. Foi mais ou menos daqui que partiu o desafio lançado a investigadores do Mare- IPLeiria: desenvolver um revestimento que ajudasse a conservar maçã fatiada.

A ideia era encontrar um substituto natural dos tradicionais aditivos químicos, que garantisse conservação do produto por alguns dias. A procura de resposta, que juntou também a empresa Campotec IN, de Torres Vedras, tornou-se num bom projeto. A AlgaeCoat recebeu este ano a distinção da Agência Nacional de Inovação, com um apoio de €225 mil (75% do valor total do projecto, que ronda os €300 mil) e que pode estar a caminho de revolucionar o mercado dos frescos prontos a consumir.

O projeto inicial resultou na "obtenção e formulação de um revestimento, com base em compostos bioativos de uma alga verde comestível", que garante um tempo de prateleira "significativamente superior ao tradicional", explica Marco Lemos, coordenador do Mare-IPLeiria. Susana Silva, outras das investigadoras, clarifica: "As algas dão origem a uma solução, onde a fruta é imersa". E se está a franzir o sobrolho, a responsável desmistifica: "Toda a fruta tem um revestimento, é uma espécie de embalagem invisível dos alimentos", atesta.

Os resultados foram de tal forma animadores que existe já um pedido de patente em curso, que abrange não só o revestimento, mas também o processo de produção. "As pessoas cada vez mais se preocupam com a aplicação de aditivos sintéticos nos alimentos", nota Marco Lemos.

O passo seguinte para o AlgaeCoat é a " validação industrial e o aumento de escala da produção" e aplicação do conservante natural. "Essa gama de produtos acarreta um elevado desafio tecnológico para o produtor: conciliar o processamento mínimo com a garantia de um tempo de prateleira que permita a sua distribuição no mercado nacional e, eventualmente, a sua exportação", revela o investigador.

É precisamente aqui que o AlgaeCoat - que utiliza uma alga presente na costa portuguesa - pode fazer a diferença, uma vez que permitirá a "substituição dos aditivos sintéticos, actualmente utilizados, por compostos de origem natural ". Mas não é só o consumidor que ganha. "Os produtos serão valorizados também pela extensão do atual tempo de prateleira em vários dias, o que possibilitará a sua exportação para novos mercados, trazendo competitividade acrescida às empresas", conclui Marco Lemos.

Filha de agricultor sabe agricultar



27.06.2016 às 16h170

 
Nos 10 hectares de produção cultiva hortofrutícolas, algumas frutas, como melão
JUSTIN SULLIVAN
Ganhou o 'Prémio Jovem Agricultor de Portugal 2016' e espera poder inspirar outros jovens a se dedicarem à agricultura, que corre no sangue da família. "Tudo é importante, mas primeiro a alimentação", defende

RUBINA FREITAS
"Quem corre por gosto não cansa". Catarina Martins recorre-se da sabedoria popular para resumir o percurso que a fez chegar ao epitáfio de "Melhor Jovem Agricultor(a) de Portugal 2016", aos 24 anos, ainda a frequentar o curso de Engenharia Agronómica da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança.

Foi a correr entre os campos da Horta da Vilariça, em Torre de Moncorvo, que a jovem se afeiçoou à vida da terra, ainda que reconheça que não é uma vida fácil. O pai é o maior horticultor local e, apesar de ter outros interesses, a escolha académica pareceu-lhe óbvia. "Tenho gosto por outras vertentes, mas como acompanhei desde pequena toda a atividade já existente na família, ganha-se o gosto, pelo que vemos os nossos fazer, por mais trabalho que dê, criamos algo que é nosso", revela.

Começou por acompanhar as atividades agrícolas da família, até que sentiu necessidade de dar o 'grito do Ipiranga', corria o ano de 2013. "Senti vontade de me instalar por conta própria, e fui analisando a possibilidade de recorrer ao programa de Primeira Instalação de Jovens Agricultores do PRODER em terrenos próximos da exploração do meu pai", resume. A ideia era criar melhores condições de trabalho, num sector onde a qualidade é crucial. "Construí um armazém de 1000 m2 com sistema de frio capaz de garantir a máxima qualidade no processo de colheita devido a uma rápida armazenagem dos produtos colhidos, e com isso retirar a pressão de venda à colheita e ainda assim dar uma resposta adequada aos requisitos dos diferentes sistemas de qualidade", resume. E foi tudo isto que foi premiado em 2016. "Com estas infraestruturas montadas, é possível, abrir várias janelas no mercado e ter mais rentabilidade", explica.

Nos 10 hectares de produção cultiva hortofrutícolas, algumas frutas, como melão, melancia, e legumes, como couve coração ou lombardo, que vende para o pai. Para além disso, está a iniciar vendas para uma empresa recente, que visa a exportação. Construiu o seu próprio emprego e contrata prestadores de serviço externos. Apesar do currículo confessa que não estava à espera do galardão, que a deixou bastante satisfeita. Catarina Martins gostava de inspirar outros a seguirem o chamamento da terra. "Pode ser que assim os jovens de hoje em dia pensem melhor na sua vida profissional e naquilo que é realmente importante", antecipa. "Outras profissões são importantes, mas a nossa alimentação é a base de tudo, sem alimentação não podemos exercer qualquer atividade", defende.

A caminho de Bruxelas onde representará Portugal, a jovem agricultora sabe bem o quer. "A exportação será sem dúvida um dos objetivos de futuro, havendo, portanto, necessidade de implementação de sistema de qualidade internacionais como são exemplo o GlobalGAP e o BRC, revestindo-se o armazém e respetivos equipamentos de uma importância vital", termina.

"Pés na terra, olhos no futuro", despede-se.

Seleção genética nacional para ter o CR7 dos sobreiros



29.06.2016 às 12h142
 
Numa fase inicial, a equipa selecionou 50 sobreiros a nível nacional, para daí encontrar o sobreiro com o mínimo de heterozigotia possível, ou seja, menor variabilidade genética

D.R.

Investigadores portugueses estão a descodificar o genoma do sobreiro para conseguir assim as melhores árvores e cortiça de qualidade superior

RUBINA FREITAS
A versão resumida é que depois deste trabalho de investigação nacional, que está a meses do fim, vai ser possível fazer seleção genética dos sobreiros que sejam portadores dos melhores genes e com isso obter a melhor cortiça. E isto não é coisa de somenos num país que produz 49% da cortiça mundial, qualquer coisa como 40 milhões de rolhas por dia, que tem 650 empresas a laborar no sector e dá emprego a 9000 pessoas diretamente. Quer isso dizer que haverá produção de sobreiro geneticamente modificado? Não, não é isso que está na base do GenoSuber que remonta a 2013, mas estava na gaveta há uns anos, à espera de financiamento europeu.

E entramos na versão mais completa da história que vai permitir descodificar o genoma do sobreiro e cujos resultados serão publicados na revista Nature. Trata-se de um projeto do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL), que envolve também o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), o Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB), o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET) e o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Conta ainda com o apoio da Fundação João Lopes Fernandes, em cuja herdade localizada em Montargil se encontra o sobreiro cujo genoma está ser sequenciado, e de vários patrocinadores, que incluem a Corticeira Amorim, a Cork Supply e o Crédito Agrícola.

Escolher a árvore que iria ser sequenciada não foi um processo simples. Os sobreiros cruzam-se frequentemente com outros carvalhos (árvores também do género Quercus), resultando em híbridos do ponto de vista genético, mas que visualmente são sobreiros. Numa fase inicial, a equipa selecionou 50 sobreiros a nível nacional, para daí encontrar o sobreiro com o mínimo de heterozigotia possível, ou seja, menor variabilidade genética.

Ainda assim, Marcos Ramos, o cientista da CEBAL responsável pelo projeto desde março, acredita que não foi o passo mais complicado. "Os maiores desafios talvez tenham sido a implementação de toda a infraestrutura, incluindo os recursos humanos, necessária para as análises bioinformáticas que seriam necessárias, assim como todo o trabalho de campo que foi necessário para produzir, através de polinizações controladas, a primeira população de sobreiros com pedigree conhecido", explica. "Atualmente temos cerca de 260 sobreiros para os quais sabemos quem foi a árvore mãe e quem foi a árvore pai", revela.

A investigação envolve 40 a 50 pessoas. "Os contributos de todas estas pessoas foram, e continuam a ser, fundamentais para o bom desenrolar do projeto", sublinha o cientista português, que abraçou o Genosuber quando vivia na Holanda e este acabou por ser decisivo no regresso à terra natal.

Apesar de haver alguns atrasos, Marcos Ramos está confiante de que os resultados da montagem deste puzzle complexo será bastante positiva. "O sobreiro tem sido uma das espécies florestais do montado que tem sofrido algum declínio, devido a fatores bióticos e abióticos e a qualidade da cortiça continua a ser uma preocupação dos produtores e da indústria", revela. "Quanto melhor for o nosso conhecimento sobre o sobreiro mais fácil tudo se tornará", afirma, garantindo que esta é a chave de muitas investigações futuras nesta área.


Vacas japonesas criadas no luxo do Alentejo


01.07.2016 às 14h361

 ALAIN JULIEN

Bezerros originários do Japão nascidos em Portugal estão a fazer furor nos pratos de conceituados chefs pelo Mundo. As wagyu têm sotaque alentejano

RUBINA FREITAS
Quando chegaram a uma herdade junto ao Aeródromo Municipal de Évora, 24 vacas wagyu, uma raça japonesa, ficaram tão desorientadas que desataram a correr em volta da cerca durante horas. Apesar de darem origem à carne mais cara do Mundo - kobe - estrela em pratos dos mais conceituados chefs do Mundo, os animais não estavam habituados ao luxo do pasto alentejano.

Nuno Rosado, o criador, chegou a temer o pior. Não era por falta de experiência com gado, já que se trata de um agricultor que, apesar dos 38 anos, tem 15 de agricultura ativa, nado e criado em família com tradição agrícola. Mas eram as primeiras vacas wagyu a chegar a Portugal. Estávamos em 2014 e que se saiba até agora são as únicas. "O meu sócio, Manuel Silveira, ligou-me a dizer que as vacas - muitas delas prenhas - iam morrer", recorda, entre risos. Duas horas depois, cansadas, pararam e no dia seguinte já estavam adaptadas à região, onde vagueiam por um extenso campo cercado de 25 hectares com pasto e feno à disposição e separadas de outras raças bovinas.

A oportunidade surgiu com uma parceria com o grupo espanhol Altube Garmendia, que também cria a raça na zona de Burgos e comercializa a respetiva carne. Começaram com 24 vacas e um touro e entretanto já nasceram muitos bezerros wagyu que depois seguem para Burgos onde estão até aos 36 meses até serem abatidos. Nesse processo intensivo de engorda em Espanha, passados esses primeiros meses em liberdade no campo alentejano, os animais "gozam" de "luxos" que ajudam à qualidade da carne, como massagens e música clássica que diminuem o stress do animal e torna a carne mais saborosa.

Não será à toa que a carne kobe é considerada a melhor do Mundo. "Trata-se de uma raça que teve menos cruzamentos sendo quase ancestral", explica Nuno Rosado. Um quilo de carne pode custar até 160 euros, dependendo do nível, que vai de um a dez. "Nos melhores restaurantes, de estrela Michelin, um bife pode custar 600 euros", conta o engenheiro agrónomo. Aliás foi também a pensar nisso que embarcaram nesta aventura onde foram pioneiros, conscientes que a afirmação seria pela qualidade e nunca pela quantidade.

Satisfeitos com o novo negócio, os agricultores já estão a aumentar a manada e querem que outros criadores do Alentejo e do país se "aventurem" na criação das wagyu. No futuro, tencionam avançar com a constituição de uma associação nacional que represente esta raça japonesa e neste momento estão a pensar num projeto que não envolva o intermediário espanhol.

ICNF tem novo Conselho Diretivo

COMUNICADO
05 de julho, 2016

A nova equipa da Direção do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas entrou em funções a 01 de julho e é liderada por Rogério Rodrigues, que assume a função de Presidente. A equipa conta também com Paulo Salsa como Vice-Presidente e com Sofia Silveira e Rui Pombo, na qualidade de Vogais. Paulo Salsa e Sofia Silveira transitam da anterior Direção.

Para o Governo, a prioridade é a valorização do território, "um dos principais eixos estratégicos do Programa do XXI Governo Constitucional", que tem como principal prioridade a "promoção da coesão territorial e da sustentabilidade ambiental". Para alcançar esses objetivos, considera o Executivo que " é necessária uma profunda mudança de estratégia nas políticas públicas que têm vindo a ser desenvolvidas". Tendo em conta que "o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, enquanto instituto público responsável pela execução das políticas de conservação da natureza, biodiversidade e das florestas, da caça e da pesca em águas interiores, ocupa um papel primordial na operacionalização da referida mudança estratégica e na prossecução, designadamente, dos objetivos que decorrem do mencionado Programa", foi tomada a decisão de exonerar a anterior equipa, reconduzindo dois dos seus elementos.
Para o Governo, "impõe-se dotar o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (…) de uma nova abordagem e dinâmica no desempenho das suas atribuições e competências, com a adoção de novas práticas na gestão dos recursos ao seu dispor, quer humanos, quer materiais, e do desejável aumento da capacidade de resposta direcionada aos novos exigentes desafios que se colocam ao país em geral, e às áreas da conservação da natureza e das florestas em particular".

O ICNF tem tutela conjunta dos Ministérios do Ambiente e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.


segunda-feira, 4 de julho de 2016

Aldeia do Futuro procura jovens agricultores



28.06.2016 às 14h264

RUBINA FREITAS 

Para consolidar esta nova vaga de agricultores, o projeto Aldeia do Futuro disponibiliza formação para os jovens e oferece apoio

Baião já recuperou três aldeias e está pronta a receber uma nova vaga de empreendedores que queiram apostar num regresso às origens. Agricultamos?

Aldeias envelhecidas, ao abandono, quase mortas. O futuro não tem de passar por aí. Em Baião, no Porto, não passará certamente, já que é o berço do projeto Aldeia do Futuro, iniciativa que visa recuperar aldeias nacionais para que sirvam de incubadoras de projetos ligados à terra.

A ação tem um ano, está a dar os primeiros passos, mas as flores fazem antever uma boa colheita. "É dirigido a jovens que querem abraçar novos desafios e que não querem ser 'obrigados' a deixar o seu país ou a abraçar profissões que não os realizem", explica António de Souza-Cardoso, presidente da AGAVI - Associação para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, promotora do projeto. "Estamos muito animados, mas também numa fase de investimento sobre os índices altos de formalidade e burocracia que estão associados aos nossos sistemas de incentivos", explica.

Para consolidar esta nova vaga de agricultores, o projeto Aldeia do Futuro disponibiliza formação para os jovens agricultores e oferece apoio tanto na procura ativa de terrenos como na "criação de negócio, logística, distribuição, embalagem, marketing e comunicação". António de Souza-Cardoso prefere não falar de casos individuais. "Não queremos destacar ainda nenhum porque fazem parte da campanha que queremos que possa contagiar os portugueses para a oportunidade de apostarem nos negócios do território."

No entanto, não esconde o entusiasmo. "Estamos muito otimistas com a recetividade que temos tido e acreditamos que este exemplo será capaz de estimular uma nova geração de empreendedores", assume. "Estaremos nos próximos dois anos em muitos mercados internacionais com algumas dezenas de empresas, ainda jovens mas à procura de um espaço novo, numa globalização que se liberte das grandes multinacionais e que pratique um comércio justo e colaborativo, privilegiando os produtos tradicionais e os processos de agricultura integrada ou biológica que estamos a estimular", acrescenta ainda.

Neste momento já foi criada a Inova Baião, incubadora para os negócios do espaço rural, e recuperadas três pequenas aldeias do concelho, que receberão os agricultores que vão implementar projetos com uma atitude ligada à sustentabilidade e ao aproveitamento dos recursos endógenos. A par disto foi lançado o movimento 'Agricultar', que visa incutir aos portugueses a ideia de que a terra não é um bicho papão e pode ser uma oportunidade.

O passo seguinte é consolidar a 'Aldeia de Futuro' em Baião, mas já pensam em alargar a outras zonas do país. "Temos recebido propostas tão diferentes como localizar uma aldeia de futuro em Belmonte ou em Cascais", confidencia o responsável. "Julgo que há um movimento muito positivo nesta área e que o Agricultar e a Aldeia do Futuro surgirão como novos catalisadores de negócios, de maior sustentabilidade e valor acrescentado", prossegue.

O presidente da AGAVI acredita mesmo que o movimento é um regresso à matriz agrícola, que, lembra, é "muito mais antiga e relevante da de países que estão a fazer muito dinheiro" com o espaço rural. "Não há nenhuma razão para que Portugal não aproveite o melhor que tem para se afirmar como um país de grande vocação exportadora nas indústrias agroalimentar, turística e do mar", conclui.

Preocupada com glifosato, associação Zero quer agricultura mais biológica

LUSA 29/06/2016 - 19:16

Uso do herbicida na União Europeia prolongado até Dezembro de 2017.

Portugal deve adoptar medidas para incrementar uma agricultura mais amiga da saúde e do ambiente, defende a associação ambientalista Zero, que quer "a proibição imediata" da utilização de herbicidas em espaços públicos e vias de comunicação.

De acordo com a associação, em comunicado divulgado esta quarta-feira, a agricultura portuguesa deve adaptar-se nos próximos 18 meses, o mesmo tempo que a Comissão Europeia autorizou para o uso de glifosato.

A Comissão Europeia anunciou esta terça-feira a renovação da licença para a utilização do herbicida glifosato, até final de 2017, no máximo, prazo em que a agência europeia de produtos químicos (Echa) tem para dar um parecer. A decisão de Bruxelas de autorizar, até, no máximo, o final do próximo ano, o uso do glifosato, resulta da falta de uma decisão, por maioria qualificada, entre os 28 Estados-membros, sobre o uso do herbicida na União Europeia.

Comentando a decisão de Bruxelas, a associação afirma-se preocupada com a extensão do prazo, e defende que o Governo português deve "adoptar de imediato um pacote de medidas" para uma adaptação progressiva da agricultura, "aproveitando os trabalhos em curso que visam a elaboração da Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica".

Para a Zero, o Governo deve executar também um plano de acção para a produção e promoção de produtos biológicos. A agricultura biológica, diz-se no comunicado, representa apenas 6% da superfície agrícola utilizada.

Na altura da discussão do Orçamento do Estado para 2016, a associação já tinha defendido a alteração do IVA para os pesticidas em comercialização, dos actuais 6% para 23%.

A Comissão Europeia propôs ainda aos Estados-membros que restrinjam as condições de uso do glifosato na União Europeia, incluindo a proibição do uso de taloamina, que potencia o efeito do herbicida, nos subprodutos, o reforço do controlo do uso antes das colheitas e ainda minimizar a utilização em áreas específicas, como parques públicos e parques infantis.

Em Portugal, uma petição a favor da proibição do herbicida já reuniu 15 mil assinaturas.

Ministro da Agricultura diz que prolongamento de sanções à Rússia é "pouco significativo"


02 Jul 2016 Económico com Lusa

O ministro da Agricultura disse hoje, no Porto, que a decisão da União Europeia prolongar as sanções económicas à Rússia devido à crise na Ucrânia é "pouco significativa" para os sectores portugueses da suinicultura e do leite.

Ministro da Agricultura diz que prolongamento de sanções à Rússia é 
"Para Portugal não é muito significativo, porque nós produzimos apenas 60% das nossas necessidades em termos de carne de porco. É evidente que exportamos algum, mas importamos mais para compensar essas necessidades", disse o ministro, que hoje visitou a festa organizada pelo Clube de Produtores Continente, no Parque da Cidade do Porto.

O Conselho da UE decidiu prolongar por mais seis meses, até 31 de Janeiro de 2017, as sanções económicas à Rússia, pelo envolvimento no conflito da Ucrânia.

As sanções – que visam os sectores das finanças, energia e defesa - foram adoptadas pela primeira vez a 31 de Julho de 2014, por um período de um ano, em resposta às acções russas de desestabilização da situação na Ucrânia e reforçadas em Setembro desse mesmo ano.

Em Março de 2015, os líderes da UE acordaram que as decisões sobre as sanções passavam a depender da aplicação dos acordos de cessar-fogo celebrados em Minsk (Bielorrússia), o que deveria ter acontecido até 31 de Dezembro de 2015.

Ao embargo económico da UE, a Rússia ripostou com um contra-embargo a alguns produtos agrícolas. No caso português, esses produtos atingem sectores como a suinicultura e o leite, e, "felizmente, não atingem outros setores importantes, como por exemplo o do vinho", realçou o ministro Capoulas Santos.

"O que é importante é que o mercado europeu se regularize, porque estando o mercado europeu regularizado o mercado português [também] estará certamente" disse. Em princípio, em Portugal, escoa-se primeiro a produção portuguesa, ainda para mais aogra, "com a rotulagem da carne de porco que tornámos obrigatória", afirmou o ministro.

Segundo Capoulas Santos, quanto ao embargo russo, o problema é maior para outros países do que para Portugal, nomeadamente para os grande produtores europeus, como são a Holanda, a Dinamarca, a Alemanha e a própria Espanha.

"Quando o mercado se fechou, eles lançaram a sua produção na Europa e, ao lançar na Europa, aumentou a oferta e obviamente baixaram os preços", sublinhou.

Capoulas Santos admitiu que "o embargo russo é importante também para algumas empresas portuguesas que exportam", mas considerou que, "mais importante do que isso, é que aqueles que nos inundam com a carne de porco possam ver aquela porta reaberta, porque toda a produção que for canalizada para o mercado russo é aquela que não vem para a Europa e, portanto, permite o reequilíbrio do mercado".

Segundo o ministro, Portugal está a trabalhar para levar os produtos nacionais a outros mercados, nomeadamente o chinês.

"Na próxima semana, terei a oportunidade de receber a visita de um vice-ministro chinês, que irei guiar numa visita a empresas suinícolas, porque queremos abrir o mercado da China", disse, em declarações à Lusa, referindo que decorrem também negociações com a Coreia do Sul e com o México.

"Existem negociações, quer no plano bilateral de Portugal quer no contexto da União Europeia, para a abertura de novos mercados, não só para a carne de porco. Ainda esta semana conseguimos abrir o mercado da Colômbia para os produtos lácteos portugueses", sublinhou o ministro da Agricultura.

Ex-administrador da Martifer vende soluções agrícolas online

RUI NEVES | ruineves@negocios.pt | 30 Junho 2016, 15:28

Ex-administrador da Martifer vende soluções agrícolas online

Ricardo Henriques, ex-administrador do grupo Martifer que se tornou empresário com a oferta de soluções de produtos para a agricultura, lança esta sexta-feira a loja da Agrikolage na internet. Novidade: venda de abrigos para galinhas ou coelhos.

Quatro meses depois de ter chegado ao mercado com a oferta de soluções integradas de produtos para a agricultura, em modelo "do it yourself" (faça você mesmo), Ricardo Henriques, de 37 anos, ex-administrador do grupo Martifer, abre esta sexta-feira, 1 de Julho, a "webstore" da Agrikolage.

Para assinalar mais "um passo decisivo" da jovem empresa, a loja da Agrikolage na internet vai disponibilizar duas novas ofertas, uma urbana (a "Agrikurban") e outra para crianças ("Agrikids"), cuja linha vai de pequenos parques infantis a pequeno abrigos para galinhas ou coelhos.

O portefólio inicial da Agrikolage é composto por produtos de abrigos agrícolas, estruturas de apoio, armazenamento e distribuição de água, armazenamento de cereais, vedações, soluções energéticas, estruturas de suporte e protecção de árvores e plantas, e acessórios para bovinos.

A Agrikolage, que tem sede em Vouzela, nasceu virada para o exterior, com um projecto de internacionalização já em curso, que foi aprovado no âmbito do Portugal 2020 (novo ciclo de fundos comunitários), com a atribuição de um incentivo no valor de 250 mil euros para um investimento estimado de 600 mil euros.

Ricardo Henriques prevê fechar o primeiro ano de actividade com uma facturação na ordem dos dois milhões de euros, e atingir, no ano cruzeiro, em 2018, vendas de 6,5 milhões, com as exportações a gerarem 75% do total.

O antigo administrador da Martifer considera que o conceito que corporiza a Agrikolage, assente na combinação de agricultora com bricolage, "é completamente disruptivo no sector", porquanto, garante, é "claramente diferenciador e distintivo da demais concorrência no mercado mundial".

O regresso dos resineiros



ANTÓNIO PEDRO SANTOS

A resina voltou a ter procura. Os produtores nacionais estão a voltar a investir nesta matéria-prima, da qual Portugal já foi o maior exportador da Europa e o segundo maior do mundo. Os antigos resineiros voltaram ao ativo. E os pinheiros portugueses voltam a sangrar.

Quando Emília Domingues partiu para a Suíça, sabia que, mais cedo ou mais tarde, a resina voltaria a fazer parte da sua vida. Com a quarta classe e uma mala a tiracolo, tinha uma certeza e um sonho: queria ser mãe solteira e juntar dinheiro para construir uma vivenda em Portugal. Com 17 anos e uma personalidade que chocava com a do pai, homem de velhos costumes, Emília era o oposto das mulheres da época. Estávamos em 1985. «As minhas amigas queriam casar de véu e grinalda. Eu não. Eu desejava ser mãe, mas não queria depender de nenhum homem.»

Emília fala enquanto recolhe resina num pinhal na zona industrial da Guia, arredores de Leiria. Começou a trabalhar aos 13 anos, depois de uma infância complicada. «Precisava de conhecer mundo. Não queria uma vida de sofrimento, como a minha mãe.» Na Suíça trabalhou num restaurante e como empregada doméstica. Dias e noites sem descansar durante oito anos. Só pensava na vivenda dos sonhos, ao mesmo tempo que não se conseguia libertar do odor a resina. «Que saudades eu tinha deste cheiro! É das coisas de que mais sentia falta.»

Os campos de arroz que passam ao lado da crise na Comporta



Francisco Jones anda de pulverizador às costas a dar luta às ervas daninhas que invadem a lavra de arroz   |  CARLOS SANTOS / GLOBAL IMAGENS


Não é só de praia e sol que vive a região. Muito do carolino que nos chega ao prato é ali produzido por 200 rendeiros da herdade

De pulverizador às costas, Francisco Jones avança pela lavra de arroz. "É o melhor que há. Alguém tem dúvidas?", questiona em tom desafiante, enquanto lança uns borrifos de pesticida sobre as "malditas" ervas daninhas. "Houve para aí qualquer coisa. Neste ano estão mais custosas de morrer e precisam de duas aplicações. Uma para ficarem doentes e a segunda para as matar", revela ao DN no meio de verdes campos a perder de vista entre o Carvalhal e a praia do Pego. É por ali que mais de 200 rendeiros da Herdade da Comporta sobrevivem e produzem o arroz carolino que lá para final do ano estará à mesa dos portugueses. Aparentam alguma indiferença perante a crise que atingiu a família Espírito Santo e o processo de insolvência em marcha, mas assumem receios rumo ao futuro.

"E se alguém um dia compra isto sem saber que nós cá estamos? Nem quero acreditar que isso seja possível", pergunta e responde Francisco Jones, de 59 anos, que só à sua conta explora hoje 13 hectares de arroz - equivalente a outros tantos campos de futebol - dos cerca de mil existentes naquela que é a maior propriedade privada do país, com um total de 12,5 mil hectares, cerca de uma Lisboa e meia. Abrange as freguesias do Carvalhal e da Comporta, nos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal. A renegociação das rendas começa neste mês (ver perguntas).

Se as contas baterem certas, os 13 hectares de Jones vão render 78 toneladas, à ordem de seis mil quilos por hectare. "É daqui que como, bebo e visto desde sempre. Nunca ganhei um tostão fora desta terra. Ainda do tempo do meu avô e do meu pai", recorda, tendo-se tornado rendeiro da Herdade da Comporta aos 24 anos.

Começou logo a produzir arroz, conferindo-lhe hoje um estatuto de "especialista no terreno" entre os vizinhos que estão nas lavras a centenas de metros, mas com quem comunica gritando a plenos pulmões. "A vida do campo é assim, sempre foi assim, a descoberta daquela praia ali ao fundo [Pego] é que transformou isto na galinha dos ovos de ouro. Mas há lugar para todos", afirma, enquanto termina a monda e descalça as luvas, apontando para uma linha que conhece como a palma da mão, mas que o cidadão comum não descortina.

"O meu pai rompeu isto tudo. Onde havia silvas e canas ele pôs tudo a arroz", diz com orgulho, deduzindo que a arte do progenitor é reveladora dos "bons agricultores" há décadas radicados na Comporta. "Em equipa que ganha não se mexe. Esta terra dá de comer a muita gente", insiste, admitindo que pode haver pó por altura do "fabrico da terra" - quando as charruas e as alfaias entram em campo - ou na época da queima para fazer a limpeza dos terrenos. E os mosquitos? "Escusam de culpar os arrozais. Se não houvesse cá arroz continuava a haver mosquitos. A água está cá sempre", justifica, alertando para a quantidade de nascentes do Pego que tornam a zona rica em recursos hídricos.

Garantia de reservas generosas para a rega do arroz com uma técnica simples. "A água vem do açude até este canal, que nós tapamos para que comece a encher. Quando chegar ao nível onde está o tubo da canalização em cimento, a água é distribuída pelas lavras. Depois de regar, voltamos a abrir o canal" revela Francisco Jones, que, à primeira vista, espera uma colheita dita normal a partir de outubro e até dezembro.

Começou a semear na época recomendável - entre 20 de abril e 20 maio - ao contrário de alguns vizinhos afetados pelo inverno tardio que encharcou as terras permitindo a entrada das máquinas apenas no princípio de junho. "Nestes casos haverá dificuldade em dar grão", diz, admitindo que a chave do sucesso será o mês de setembro, já que "se for quentinho ainda pode safar alguma coisa", diz o rendeiro, revelando que após a colheita o arroz da Comporta segue viagem para a fábrica de Oliveira de Azeméis, havendo ainda alguma produção do Grupo Espírito Santo que é encaminhada para os secadores de Coruche.

"Conhece a nossa batata-doce?"

Ali por perto, mesmo paredes--meias com a praia do Pego, que se celebrizou há um ano com a distinção do melhor bar de praia do mundo (pela revista Condé Nast Traveler), Fernando João dedica a manhã à batata-doce, ao som do coaxar das rãs que habitam o canal de rega e dos dois leitões que lançam grunhidos sempre que alguém se aproxima da pocilga na esperança de que seja fruta. Estamos agora entre pequenas parcelas de terreno, todas cultivadas, a cargo de vários rendeiros, onde crescem frutícolas e hortícolas na terra escura característica desta zona.

Fernando também é orizicultor, detendo quatro hectares que também crescem a bom ritmo, apesar de ter tido a necessidade de carregar mais nos fitofármacos contra a orelha-de-mula e o junquilho. Depois de uns anos menos bons, além de produções mais curtas, o preço no mercado também caiu. "Há 15 anos vendi arroz a 40 cêntimos e agora anda pelos 31 ou 32", lamenta, denunciando que piores ainda foram os tempos em que se vendeu "gato por lebre".

Reporta-se a arroz que vinha de "fora já descascado e amarelo", diz, revelando que era "branqueado" em Portugal, acabando por entrar no mercado com "carimbo da Comporta", relata Fernando João, que foi regar o arroz logo às 07.00. Mas três horas depois já tinha pegado na sachola para percorrer os trilhos onde a batata-doce está semeada, traduzida num campo de folhas verdes, a que os aspersores dão de beber.

"Conhece a nossa batata-doce? Coisa boa. É da terra e do clima que aqui temos", regista com entusiasmo, embora reconheça que é preciso andar sempre a arrancar ervas. "Isto não para de crescer", queixa-se, admitindo que a saúde já não permite grandes veleidades. Tem 67 anos e uma operação à coluna, enquanto a sua mulher também já não é a ajuda de outros tempos. Mas não desarma.

Ao lado da batata--doce, ainda há de vingar melancia, feijão, milho e batata branca. "Temos é de andar sempre em cima disto", acrescenta, revelando que o trabalho do campo não tem férias, pelo que se tem limitado a ver os turistas passarem para a praia sem a curiosidade de saber quem por lá tem andado por estes anos.

E se tem havido gente famosa naqueles areais. Desde Charlotte Casiraghi, a filha da princesa Carolina do Mónaco, ou Christian Louboutin, que ficou famoso pela criação dos sapatos de luxo com sola vermelha. Carla Bruni e o marido Nicolas Sarkozy, anterior presidente da França, convidados pela sua madrinha e antiga modelo francesa Farida Khelfa. Além de ter sido a praia de eleição da família Espírito Santo antes do colapso do GES. Está por aqui a casa nas dunas que Ricardo Salgado construiu e onde passou os últimos verões, desde 2011.

Câmara de Alcácer apoia rendeiros

Atentos à evolução dos acontecimentos estão os moradores da Torre, o aglomerado de 37 fogos entre Comporta e Carvalhal, onde apenas dois residentes têm escritura pública celebrada, enquanto outros têm apenas contratos-promessa de compra e venda e contratos de alojamento em regime de comodato.

"Aqui vive-se bem, para quem gosta do sossego", testemunha Joaquim Ramusga, um dos dois moradores que garantiram a escritura, depois de ali ter construído a casa há 24 anos, mas sentiu o "descanso ameaçado" com o projeto turístico que esteve prestes a "encostar" à sua casa 340 moradias de dois campos de golfe. "Assim que houve o pedido de resgate do Sócrates aquilo foi tudo por água abaixo. Eu gostei", sublinha, admitindo que a terra até poderia colher algumas regalias. "Sobretudo no combate à desertificação", diz, numa altura em que os mais novos fazem pela vida entre a agricultura e a construção que vai mexendo para os lados do Pego.

Mas é com os vizinhos que está preocupado este natural de Vieira de Leiria que escolheu a Comporta para passar a reforma após ter trabalhado em Setúbal como bancário. "E se um dia tiram daqui as pessoas sem contrato mas que já pagaram as casas? E o que vai sobrar para os herdeiros", questiona, pedindo apoio à Câmara de Alcácer do Sal, sobretudo em assuntos jurídicos.

O presidente da autarquia garante estar atento. Vítor Proença compromete-se a "defender moradores e rendeiros", aludindo ao conjunto de "direitos adquiridos, alguns ancestrais". Assume a "mais-valia" que a Herdade da Comporta representa para a região em termos turísticos e agroindustriais, destacando que só em produtos hortícolas atinge as "60 mil a 70 mil toneladas".

O edil avança ainda uma informação que ilustra a "aposta na qualidade da vida das pessoas", apesar da situação delicada gerada pelo processo de insolvência, tendo em carteira a construção da Estação de Tratamento de Águas Residuais, em conjunto com as Águas Públicas do Alentejo e a própria Herdade da Comporta. "É uma obra urgente para tratar efluentes e contamos que o projeto possa avançar em 2017", resume Vítor Proença.

O DN contactou na terça-feira, por e-mail, a administração da Herdade solicitando um ponto da situação sobre os rendeiros e moradores da Comporta, mas não obteve resposta em tempo útil.

Vacas japonesas criadas no luxo do Alentejo


01.07.2016 às 14h361
 
As vagas wagyu dão origem à carne mais cara do mundo, a kobe
ALAIN JULIEN

Bezerros originários do Japão nascidos em Portugal estão a fazer furor nos pratos de conceituados chefs pelo Mundo. As wagyu têm sotaque alentejano

RUBINA FREITAS
Quando chegaram a uma herdade junto ao Aeródromo Municipal de Évora, 24 vacas wagyu, uma raça japonesa, ficaram tão desorientadas que desataram a correr em volta da cerca durante horas. Apesar de darem origem à carne mais cara do Mundo - kobe - estrela em pratos dos mais conceituados chefs do Mundo, os animais não estavam habituados ao luxo do pasto alentejano.

Nuno Rosado, o criador, chegou a temer o pior. Não era por falta de experiência com gado, já que se trata de um agricultor que, apesar dos 38 anos, tem 15 de agricultura ativa, nado e criado em família com tradição agrícola. Mas eram as primeiras vacas wagyu a chegar a Portugal. Estávamos em 2014 e que se saiba até agora são as únicas. "O meu sócio, Manuel Silveira, ligou-me a dizer que as vacas - muitas delas prenhas - iam morrer", recorda, entre risos. Duas horas depois, cansadas, pararam e no dia seguinte já estavam adaptadas à região, onde vagueiam por um extenso campo cercado de 25 hectares com pasto e feno à disposição e separadas de outras raças bovinas.

A oportunidade surgiu com uma parceria com o grupo espanhol Altube Garmendia, que também cria a raça na zona de Burgos e comercializa a respetiva carne. Começaram com 24 vacas e um touro e entretanto já nasceram muitos bezerros wagyu que depois seguem para Burgos onde estão até aos 36 meses até serem abatidos. Nesse processo intensivo de engorda em Espanha, passados esses primeiros meses em liberdade no campo alentejano, os animais "gozam" de "luxos" que ajudam à qualidade da carne, como massagens e música clássica que diminuem o stress do animal e torna a carne mais saborosa.

Não será à toa que a carne kobe é considerada a melhor do Mundo. "Trata-se de uma raça que teve menos cruzamentos sendo quase ancestral", explica Nuno Rosado. Um quilo de carne pode custar até 160 euros, dependendo do nível, que vai de um a dez. "Nos melhores restaurantes, de estrela Michelin, um bife pode custar 600 euros", conta o engenheiro agrónomo. Aliás foi também a pensar nisso que embarcaram nesta aventura onde foram pioneiros, conscientes que a afirmação seria pela qualidade e nunca pela quantidade.

Satisfeitos com o novo negócio, os agricultores já estão a aumentar a manada e querem que outros criadores do Alentejo e do país se "aventurem" na criação das wagyu. No futuro, tencionam avançar com a constituição de uma associação nacional que represente esta raça japonesa e neste momento estão a pensar num projeto que não envolva o intermediário espanhol.