sábado, 16 de agosto de 2014

Governo fecha porta a Empresários do Sector

Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente



Foi ontem publicada através do Despacho nº 10009/2014 a constituição do Conselho Consultivo do ICNF, IP. O principal objectivo do presente Conselho é, segundo o próprio texto publicado, de funcionar "como órgão de consulta, apoio e participação na definição das linhas gerais de atuação do ICNF, I.P. e no processo de tomada de decisão do Conselho Diretivo. O Conselho Consultivo é uma estrutura de debate e participação relativamente a todas as matérias da responsabilidade do ICNF, I.P., estimulando e promovendo a participação pública e apoiando mesmo a definição de políticas, estratégias e instrumentos de planeamento imprescindíveis à gestão ativa da conservação da natureza e biodiversidade e das florestas".

Não deixa de ser estranho todavia que tenham ficado de fora do referido Conselho os representantes das empresas que prestam serviços técnicos aos proprietários florestais, dos viveiristas florestais, das empresas que fazem plantações e a manutenção das matas, das empresas que gerem património florestal, das empresas que cortam e entregam os produtos florestais nas fábricas, para além da indústria do sector. Tratando-se de um Orgão destinado a apoiar a definição estratégica do sector, não tem presente quem planeia a floresta, produz planta florestal, realiza plantações, mantem e explora a floresta portuguesa. Como pode o ICNF ter em conta o que se passa no terreno se desconhece o que lá acontece e o que se anda a fazer?

Será isto que o Governo chama de participação pública? Afinal quem gera emprego no sector florestal deste país? Não são as empresas florestais? Ou não serão as empresas do sector suficientemente grandes para serem ouvidas? Como é possível definir uma estratégia para a floresta sem a participação de quem a faz e nela trabalha?

Lisboa, 5 de Agosto de 2014

BALADI recebida em audiência pela Presidência da República



A BALADI – Federação Nacional dos Baldios foi recebida em audiência pela Presidencia da República.

Do conteúdo da audiência, a delegação presente, aproveitou o ensejo para dar conhecimento aos serviços jurídico-constitucionais da Presidência da República sobre as principais inconstitucionalidades que a lei aprovada no passado dia 10 de Julho pela Assembleia da República contém.

Do acerbo da análise técnica jurídica feita ao projecto lei nº 528/XII/33 e do parecer entregue, foi expresso pela delegação presente, as várias normas que contrariam a C.R.P. nos seus artigos 80, b) e 82.nº1 e nº4, b. Para além de apontar as inconstitucionalidades já detetadas, a delegação solicitou aos serviços da Presidência da Republica para que sua Exº o Presidente da República pedisse a fiscalidade preventiva do projecto ao Tribunal Constitucional. Houve a oportunidade ainda para reafirmar que a lei 68/93, actual Lei dos Baldios, é indiscutivelmente a lei mais inovadora, mais progressista em toda a U.E..É um reconhecimento justo aos Deputados Constituintes que souberam interpretar e consagrar fielmente na Constituição da República Portuguesa a secular história da posse e fruição dos usos e costumes deste património dos povosserranos -os bens comunitários. Referiu-se ainda a importância económica, social e cultural que a devolução dos baldios proporcionou em muitas aldeias do norte e centro do País, obra notável, mas até ao momento não reconhecida pelos vários Governos.

O actual Governo perante o rotundo fracasso das suas políticas agro-florestais e em particular do modelo de co-gestão previsto na actual lei dos baldios deveria fazer um balanço dos resultados dos 38 anos que levamos do modelo de gestão previsto na actual lei, cujos resultados evidenciam ao longo do tempo a incompetência o desprezo e desplicência da entidade co-gestora Estado, perante o co-gestor comunidades.Ao invés, o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas preferiu sacudir a àgua do seu capote, nem uma palavra nem uma vírgula sobre as causas e consequências deste longo período de gestão feita pelas sucessivas administrações públicas. Optou em vez disso por acusar injustamente as comunidades de não fazer aquilo que foi e é da exclusiva responsabilidade e competência deste e de anteriores Governos que geriram este País nestes 38 anos de gestão democratica dos baldios.

É neste quadro de faz de conta, nesta estratégia há muito concebida pelos grandes interesses da indústria de celulose, que o Governo e os partidos PSD e CDS que aprovaram o projecto lei nº- 528/XII, depois de desferir um rude golpe sobre o mundo rural,entenderam que chegou a hora de entregar este património comunitário aos grandes interesses económicos, sejam eles as multinacionais do sector florestal, sejam as recentes Comunidades Intermunicipais recém-criadas.

As associadas da BALADI decidiram um calendário de iniciativas com os seus associados em Coimbra, Vila Real, Minho e Viseu, para discutir e aprovar documentos que objectivamente manifestem a sua indignação perante mais esta tentativa capciosa de passar estes bens comunitários para a propriedade privada, apelar ao Presidente da República para a sua não publicação, ao mesmo tempo estudar formas e acções de luta que impeçam que se consuma o roubo dos baldios aos povos serranos.

Vila Real, 7 de Julho 2014

A Direcção da BALADI

Comissário Dacian Cioloș comenta proibição das exportações agrícolas da UE para a Rússia


O Comissário Europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural, Dacian Ciolos, comentando na última sexta-feira a proibição das exportações agrícolas da UE para a Rússia, disse entender "a preocupação do sector agrícola da UE".

Dacian Ciolos sublinhou que a Política Agrícola Comum tem novas e modernas ferramentas para apoiar o sector, assim que for necessário, incluindo a reserva de crise, que já está disponível agora. Disse ainda estar confiante de que o sector agrícola saberá reorientar-se rapidamente para novos mercados e oportunidades e que deve haver apoio para que essa transição aconteça sem problemas. Isso requer uma resposta única europeia.

O Comissário disse ter falado com todos os ministros da agricultura da Europa, e em particular com o Sr. Maurizio Martina, ministro italiano da Agricultura, Alimentação e Florestas, e Presidente do Conselho.

"No contexto actual, o mais importante é reagir de uma forma proporcional e rápida, se a situação surgir. Como sempre, quando as situações de mercado o exigem, os meus Serviços para estabelecer um grupo de trabalho para analisar os potenciais impactos sector a sector, e para avaliar como podemos efectivamente dar apoio significativo se e quando tal for necessário. Em segundo lugar, os meus Serviços vão convocar hoje uma reunião de especialistas seniores em agricultura de todos os Estados-Membros da UE, a ter lugar na próxima quinta-feira", disse.

UE prepara compensações ao embargo russo de produtos agrícolas europeus


Os responsáveis pela agricultura dos 28 Estados membros da União Europeia discutiram na quinta-feira, em Bruxelas, eventuais indemnizações aos produtores e agricultores europeus afectados pelo bloqueio russo aos produtos alimentares, medidas que deverão ser financiadas pelo fundo de reserva de 420 milhões de euros.

"Estamos na época para estes produtos e de repente perdemos um mercado de escoamento, sem nenhuma saída alternativa. Por isso, a comissão confirmou que na próxima semana avançaremos com medidas de emergência para vegetais perecíveis", informou o porta-voz da Comissão Europeia, Roger Waite.

A Grécia, um dos países mais afectados pelo embargo russo, não tem para onde escoar grande parte da produção de pêssegos e nectarinas.

Segundo Marcel Fratzscher, presidente do Instituto de Estudos Económicos DIW de Berlim, "A situação pode agravar-se no futuro, se houver sanções suplementares e uma escalada da situação. O que é particularmente preocupante são as sanções financeiras contra os mercados e os bancos russos – isto implica riscos, pois não podemos calcular exatamente o impacto destas sanções financeiras sobre a confiança do mercado".

A questão será provavelmente discutida no âmbito da reunião de sexta-feira dos ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia, convocada para analisar a situação no Iraque e na Ucrânia.

De acordo com um comunicado divulgado na quinta-feira pela Comissão Europeia, os presidentes da Rússia, Ucrânia e Comissão Europeia acordaram a realização de consultas sobre a implementação do acordo de associação UE-Ucrânia, o fornecimento de gás, e os esforços para estabilizar a situação política e de segurança.

Fonte:  euronews

ASAE desmantelou unidade de abate clandestino em Penafiel e apreendeu 93 animais

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica desmantelou, esta quinta-feira, em Oldrões, Penafiel, uma unidade de abate clandestino e apreendeu 93 animais, entre suínos, ovinos e bovinos, informou aquele órgão de polícia criminal.

Em comunicado, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) acrescenta que a operação decorreu numa exploração pecuária, onde estavam a ser abatidos animais que se destinavam a entrar no circuito comercial para consumo público, durante as festividades de verão previstas na região para o próximo fim-de-semana.

O valor dos animais apreendidos ascende a cerca de oito mil euros.

A ASAE instaurou o respectivo processo-crime.

Esta operação de combate ao abate clandestino realizou-se no âmbito da prevenção da Segurança Alimentar, da Saúde Pública e na Defesa do Consumidor.

Fonte:  Lusa

Governo prepara revisão de estratégia de combate à vespa asiática



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O Governo está a preparar uma revisão do plano de combate à vespa asiática implementado em 2013 e que tem sido alvo de críticas das autoridades locais face à indefinição sobre quem tem competência para travar esta praga.

"Existe um plano elaborado pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) no início de 2013, que actualmente se encontra em revisão. Esta proposta de revisão e de metodologias de actuação foi abordada em reuniões mantidas com a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, Cávado, Ave e com a Área Metropolitana do Porto (AMP", explicou em resposta escrita enviada à Lusa o secretário de Estado da Alimentação e Investigação Agro - Alimentar.

Questionado pela Lusa, Nuno Brito não esclareceu em que consiste o modelo que o Governo tem em preparação revisão nem que entidade envolverá no combate à propagação da espécie.

A indefinição sobre a quem compete actuar na destruição dos ninhos de vespa asiática levou a Câmara de Viana do Castelo, em Julho passado a exigir ao Governo "uma clarificação urgente de quem deve coordenar e quais os meios a afectar" no combate à praga da vespa asiática.

"Atendendo à dimensão preocupante que o problema está a tomar na região norte, solicita-se à senhora Ministra da Agricultura e Pescas que seja implementada uma estratégia nacional e uma acção concertada das diversas entidades, clarificando as competências e criando uma equipa de intervenção que permita combater esta praga que está a por em causa a apicultura e a saúde pública", lê-se na proposta aprovada em Julho pela autarquia.

Na resposta às questões colocadas pela Lusa, o secretário de Estado Nuno Brito afirmou que este problema está localizado essencialmente nos distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto.

No Alto Minho, adianta o governante, "os registos de maior número de ninhos referem-se aos concelhos de Viana do Castelo e Ponte de Lima".

A vespa asiática é maior e mais agressiva do que a espécie autóctone nacional e foi introduzida na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004, tendo alastrado até agora por todo o país.

Os primeiros indícios da sua presença em Portugal surgiram em 2011, mas a situação só se agravou a partir no final do seguinte e depois de se instalar também no norte de Espanha.

Segundo os apicultores do distrito de Viana do Castelo, esta espécie, "mais agressiva", faz com que as abelhas não saiam para procurar alimento por estarem sob ataque, enfraquecendo as colmeias, que acabam por morrer colocando em causa a produção de mel.

"Sob o ponto de vista de produção de mel, a nível regional e nacional tem existido um aumento de produção, bem como de produtores", adiantou o secretário de Estado Nuno Brito.

Contudo realçou que "sendo uma espécie invasora e, simultaneamente, predadora de abelhas e outros insectos, a vespa velutina é uma ameaça para esta espécie animal, bem como para a redução da polinização e da biodiversidade".

Relativamente aos riscos um ataque desta espécie representa para a saúde pública garantiu que "os efeitos para o cidadão são semelhantes a de uma outra vespa autóctone".

De acordo com dados da Associação Apícola Entre Minho e Lima (APIMIL) cada ninho pode albergar até 2000 vespas e 150 fundadoras de novas colónias, que no ano seguinte poderão vir a criar pelo menos seis novos ninhos.

Fonte:  Lusa

Alterações em matéria de transportes com impacto no sector agrícola


Mudança permitirá transportar mais carga

Foram aprovadas hoje em Conselho de Ministros alterações ao Decreto-lei n.º 99/2005 de 21 de junho, que aprova o Regulamento Que fixa os Pesos e as Dimensões Máximos Autorizados para os Veículos em Circulação.

O diploma foi objecto de articulação profícua com o Ministério da Economia e introduz alterações que vão permitir às empresas agrícolas aumentar a carga de produtos vitivinícolas, frutas e produtos hortícolas, pecuários e cereais transportados no território nacional, introduzindo uma maior eficiência e competitividade no sector, nomeadamente:

O transporte em veículos a motor-reboque com cinco ou mais eixos em carga não contentorizada ou contentorizada, com destino aos portos nacionais passa um peso bruto de 44l para um máximo de 60t, num claro incentivo do comércio externo;

O transporte em veículos a motor-reboque com cinco ou mais eixos em carga não contentorizada ou contentorizada, com destino as unidades de concentração ou transformação passa igualmente de um peso bruto de 44l para um máximo de 60t. Esta possibilidade é prevista para a pecuária durante todo o ano, e para os outros produtos durante as respectivas campanhas agrícolas;

O transporte da carga não contentorizada daqueles produtos nos veículos atuais que agora tem uma limitação de 40t possa poder ser efetuado até ao limite máximo de 44t. As alterações entrarão em vigor no momento de publicação do diploma.

Segundo o Secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, "O excelente trabalho realizado pelo Ministério da Economia em articulação com o Ministério da Agricultura nas alterações ao diploma dos transportes vai permitir uma maior eficiência do sector agrícola num ponto crítico do ciclo da produção: a entrega do produto ao mercado. Primeiro, permite aumento de carga no destino às exportações; segundo, permite o aumento de carga do transporte na entrega à transformação, essencial no momento da colheita em que o tempo é factor limitante; terceiro aumento de carga para adaptação dos transportes já existentes. Estas alterações às regras do transporte vão tornar o sector mais eficiente, competitivo e contribuirão para o compromisso do sector e do Governo em aumentar a autossuficiência em valor da nossa Agricultura."

Agricultores franceses montam bloqueio a camiões espanhóis em protesto contra 'dumping'

Camions espanhóis carregados de nectarinas bloqueados em Perpignan por produtores franceses, que acusam a Espanha de fazer 'dumping'


Cerca de 200 agricultores franceses bloquearam hoje de manhã o posto fronteiriço de Boulou com a Espanha em protesto contra o "dumping económico" alegadamente praticado pelos espanhóis, constatou um fotojornalista da agência francesa AFP.

"Exigimos que França faça queixa contra Espanha por 'dimping' [venda de produtos noutro país por preços abaixo dos cobrados no país de produção]", disse à AFP o presidente da federação de sindicatos de agricultores de Perpignan, Yvan Haris.

O sindicato está a participar no bloqueio organizado, que está a impedir a entrada de camiões espanhóis em França através da autoestrada 9.

"Quando um quilo de peixe custa 1,10 euros em Madrid e 0,5 euros em França, é 'dumping' económico", sublinhou o sindicalista no local, onde se encontram vários jovens agricultores.

"O custo do trabalho é muito inferior lá", acrescentou, referindo que, além do 'dumping' económico, também se está a praticar "'dumping' social e ambiental – já que as regras do respeito pelo ambiente impostas a França são mais rígidas do que em Espanha".

O protesto decorre sob vigilância de cerca de duas dezenas de polícias e guardas fronteiriços que tentam perceber quem são os camionistas espanhóis, até porque os manifestantes deixam passar os autocarros de turismo, oferecendo pêssegos e tomates-cereja acompanhados de panfletos onde explicam a iniciativa.

Cerca de uma dezena de camiões espanhóis estão parados na fronteira desde as 09:00, hora a que começou o protesto, tendo o fotojornalista da AFP registado a existência de algumas tensões no local.

"As administrações e os políticos devem perceber os nossos problemas", afirmou Yvan Haris, sublinhando que a manifestação não é dirigida aos espanhóis, tendo sim por objectivo alertar as autoridades francesas e Bruxelas antes que o Natal se aproxime.

"Os únicos que não ganham dinheiro aqui são os produtores franceses", disse, assegurando, no entanto, que os manifestantes ali presentes "não são arruaceiros, são pais de família".

Fonte:  Lusa

Produção de vinho deverá recuar 5,7% este ano em Portugal



A produção de vinho em Portugal deverá diminuir este ano 5,7% face à campanha passada, para cerca de 5,9 milhões de hectolitros, devido a quebras de quantidade na maioria das regiões, antecipou ontem o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).

Em comunicado, o IVV prevê uma quebra de produção na maioria das regiões com excepção da Península de Setúbal, dos Açores, das Terras de Cister e do Algarve, "onde pode haver aumentos entre 10 e 20%, motivados por condições climatéricas favoráveis a um bom desenvolvimento vegetativo das videiras".

Já na região do Alentejo, a previsão aponta para uma produção semelhante à da campanha passada, apresentando as uvas "um bom aspecto sanitário", enquanto a quebra de produção mais acentuada deverá acontecer na região das Terras do Dão, com uma estimativa de menos 25% face à campanha anterior.

Na Madeira, no Minho, no Douro e Porto e nas regiões da Beira Atlântico e Terras da Beira é esperada uma redução de 10% na produção, sendo que em Trás-os-Montes a quebra poderá chegar aos 15% e nas regiões do Tejo e de Lisboa deverá ficar-se pelos 5%.

Segundo o IVV, na maioria das regiões onde se perspectiva uma quebra de produção as vinhas foram "afectadas por vários agentes, destacando-se o míldio e o oídio, que se desenvolveram devido a condições climáticas adversas".

Tutelado pelo Ministério da Agricultura e do Mar, o IVV é um instituto público cuja missão é controlar a organização institucional do sector vitivinícola, auditar o sistema de certificação de qualidade, acompanhar a política comunitária e preparar as regras para a sua aplicação, além de participação na coordenação e supervisão da promoção dos produtos vitivinícolas.  

Fonte:  Lusa

Espanha vai pedir à Comissão Europeia medidas urgentes para resolver os impactos das restrições às exportações para a Rússia"


A Ministra da Agricultura, Alimentação e Ambiente de Espanha, Isabel García Tejerina, anunciou ontem que, na próxima reunião extraordinária do Comité de Gestão da Comissão Europeia, convocada a pedido da Espanha, o Governo Espanhol vai pedir que se "reaja com urgência e se adoptem medidas para evitar perturbações no mercado", após o encerramento do mercado russo para produtos da UE.

Neste contexto, afirmou que a primeira medida que a solicitada será "a retirada de produções do mercado, especialmente nos sectores com maior necessidade".

Isto foi explicado num encontro com os meios de comunicação, após a reunião que a Ministra teve ontem com os representantes das Organizações de Agricultores, ASAJA, UPA e COAG, Cooperativas Agroalimentares e a Federação Espanhola de Associações de Produtores-Exportadores de Frutas, Hortaliças, Flores e Plantas Vivas (FEPEX), durante a qual foi avaliado o impacto do encerramento do mercado russo, e analisadas as medidas que Espanha apresentará na próxima quinta-feira no Comité de Gestão em Bruxelas.

Quanto ao pedido de retirada de produtos do mercado, a ministra lembrou que já estava trabalhada a retirada de 10.000 toneladas de frutas de caroço, principalmente pêssegos e nectarinas, antes do veto russo, pelo que "será pedido à Comissão Europeia que alargue as medidas de retirada, em termos de volume e das frutas afectadas, com destino a instituições de caridade, de modo que os preços nos mercados continuem remuneratórios."

Também assinalou que vai pedir que seja posto em aplicação o Regulamento de promoção agroalimentar, de forma que se antecipe a sua entrada em vigor, prevista para 2015.

Repercussões nas exportações espanholas

A Ministra disse que o encerramento do mercado russo afecta, no caso de Espanha, 1,8% das exportações dos produtos agroalimentares e da pesca para todo o mundo. Isto representa, em valor, segundo dados de 2013, um total de 337 milhões, "uma quantidade que seria menor em 2014 devido ao encerramento do mercado russo à carne de porco e que, en termos relativos, não seria muito significativo" disse García Tejerina.

Especial repercussão, apontou a Ministra, é o facto do encerramento produzir efeitos em todo o mercado da União Europeia, "o que supõe exportações de todos os Estados-Membros, no valor de 5,252 milhões". Por isso, sublinhou, "é preciso fazer um acompanhamento do impacto no mercado comunitário, e temos de tomar medidas imediatas para mitigar o impacto sobre o conjunto da União Europeia."

Fonte:  Magrama

Fiscalidade verde, floresta cinza

ACRESCIMO

O anteprojeto para a Reforma da Fiscalidade Verde, apresentado pela Comissão nomeada através do Despacho n.º 1962/2014, de 7 de fevereiro, atualmente em consulta pública, no que respeita às florestas produz uma análise demasiado simplista, mesmo simplória, notória que é o seu desenquadramento face à realidade florestal nacional e à legislação de base vigente.

Por um lado, a Comissão aposta na tese da penalização fiscal, concretamente em sede de IMI, reconhecendo todavia as limitações desta via no combate ao abandono da gestão das propriedades rústicas. Com efeito, não existe ainda, mais três anos se perderam, um cadastro nacional das propriedades rústicas, instrumento da responsabilidade do Ministério do Ambiente. A Comissão é incapaz de quantificar o impacto da sua proposta.

Embora repetidos anúncios populistas, mais visíveis em períodos estivais, convirjam no recurso à penalização fiscal sobre os proprietários florestais, ditos absentistas, uma análise mais séria e consubstanciada da realidade desaconselha tal aposta.

Efetivamente, não faz sentido solucionar pela via fiscal um problema que assenta num desajustado funcionamento dos mercados, em situação de concorrência imperfeita.

A atividade florestal evidenciou nas últimas décadas um declínio progressivo. Se por um lado se registou um desinvestimento nas atividades económicas de base rural em Portugal, por outro é notório, no setor florestal, o protecionismo do Estado a algumas empresas industriais, em detrimento da silvicultura e do território.

Ao condicionamento dos rendimentos, pela fixação unilateral de preços, ficou associado um aumento sistemático nos custos de exploração, associados essencialmente a encargos com energia, combustíveis e pessoal. O denominado abandono da gestão florestal não é mais do que um ajustamento dos proprietários florestais às expetativas de rendimento nas suas explorações florestais. Uma gestão florestal ativa, profissional e sustentável aporta encargos significativos, os quais derivam de receitas sistematicamente condicionadas à produção florestal, sob proteção governamental.

Aumentar os encargos aos proprietários rústicos, agora pela via fiscal, só produzirá mais abandono da gestão dos espaços florestais, logo maior risco de incêndios. Os discursos políticos apontam para valores de 1,5 a 2 milhões de hectares em abandono. Este fenómeno é significativamente agravado por um incontrolável êxodo rural, sendo notório o despovoamento no interior do País, o marcado envelhecimento das populações em meios rurais e o avanço de fenómenos associados à desertificação. Será com agravamento de impostos que se solucionará o problema? Só numa visão desequilibrada e de base claramente urbana.

Por outro lado, a proposta de penalização fiscal suportada neste anteprojeto parece contrariar a Lei de Bases da Política Florestal, concretamente quanto ao disposto no seu Art.º 8.º e no Art.º 19.º. Na Lei de Bases, a aposta incide determinantemente na atribuição de incentivos fiscais, não em penalizações fiscais. Ou seja, o anteprojeto agora em consulta parece surgir em oposição ao disposto na Lei.

Assim, a alínea a) do Art.º 8.º dispõe que, compete ao Estado dinamizar a constituição de explorações florestais com dimensão que possibilite ganhos de eficiência na sua gestão, através de incentivos fiscais e financeiros. Já no disposto no Art.º 19.º é explícita a aposta nos incentivos fiscais no estímulo ao associativismo das explorações florestais, às ações de emparcelamento florestal, às ações tendentes a evitar o fracionamento da propriedade florestal e no autofinanciamento do investimento florestal, nomeadamente no domínio da prevenção ativa dos incêndios florestais.

A Lei n.º 33/96, de 17 a agosto, foi aprovada por unanimidade pela Assembleia da República e a sua regulamentação continua por concluir, passados 18 anos.

A Acréscimo propõe à Comissão a análise, entre outros documentos específicos, do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa e da Estratégia Nacional para a Floresta, ambos adotados por Resoluções do Conselho de Ministros. Sugere-se ainda a análise da proposta de incentivos fiscais anunciada pela Ministra da Agricultura a 21 de março último.

A Acréscimo sugere-se vivamente ao Governo que termine a regulamentação da Lei de Bases antes de analisar anteprojetos que, no que incide nas florestas e na atividade florestal, a parecem contrariar.

Lisboa, 12 de agosto de 2014

Detido suspeito de atear seis incêndios na Guarda

A Polícia Judiciária (PJ) anunciou hoje a detenção de um homem de 46 anos suspeito de ter ateado seis incêndios florestais na freguesia de Videmonte, no concelho da Guarda, na madrugada de sexta-feira.

Em comunicado, a PJ explica que "os incêndios consumiram vários hectares de área povoada por diferentes espécies de árvores e abundante vegetação".

Todos eles foram "iniciados com recurso ao derrame de gasolina e consequente ignição por meio de um isqueiro, em diferentes pontos da mancha florestal visada", e só não atingiram maiores proporções graças "à rápida e eficaz intervenção dos bombeiros e de alguns populares", acrescenta.

Fonte:  LUSA

UE: Medidas excepcionais para apoiar produtores de pêssegos e nectarinas



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A Comissão Europeia vai criar medidas de apoio aos sectores do pêssego e da nectarina da UE, nomeadamente através do aumento dos volumes de frutas elegíveis para operações de retirada e distribuição gratuita. Esses mercados têm sido duramente atingidos por condições climáticas desfavoráveis, com a pressão adicional agora resultante da proibição de importação introduzida pela Rússia.

Comentando esta actuação, o Comissário para a Agricultura e Desenvolvimento Rural da UE, Dacian Ciolos, declarou: "Após a recente queda dos preços nos mercados de pêssegos e nectarinas, são necessárias medidas urgentes para sustentar o mercado e tenho a intenção de agir imediatamente. Vou propôr hoje que a Comissão Europeia tome medidas imediatas e retroactivas destinadas a reduzir a oferta e promover a procura. Eu tenho sido muito claro em como não hesitarei em agir e usar a nova e modernizada PAC para proporcionar em tempo útil a assistência para orientar o mercado - esta primeira medida, hoje, é um sinal dessa intenção. Nós estamos monitorizando de perto os mercados e não hesitarei em fazer o mesmo para ajudar outros sectores dependentes de exportações para a Rússia, caso seja necessário."

As medidas propostas são para aumentar de 5% a 10% a produção de organizações de produtores (OP) que pode ser retirada para distribuição gratuita. Em segundo lugar, as medidas excepcionais de apoio também estarão disponíveis para não-membros de organizações de produtores (pagos a 50% do preço de retirada PO). Desta forma, as medidas também estarão disponíveis para os produtores individuais, desde que os controlos necessários sejam adoptados. Por fim, serão disponibilizados fundos adicionais para a promoção, no âmbito das acções dos programas operacionais das Organização de Produtores (no âmbito dos regimes de co-financiamento habituais). A decisão formal será tomada nas próximas semanas, mas vai aplicar-se retro-activamente a partir de hoje. Esta foi uma medida já em discussão na semana passada, mas o anúncio das restrições às importações por parte da Rússia corre o risco de agravar ainda mais a situação do mercado e acelerou a necessidade de agir.

Contexto

Os principais produtores europeus de pêssegos (produção anual EU = 2,4 - 2,5 milhões de toneladas) e nectarinas (1.1 -, 1,2 mt) são a Itália, Espanha, França e Grécia. Embora haja sempre uma variabilidade sazonal no mercado devido às condições meteorológicas, este ano verificou-se um impacto particularmente negativo sobre o mercado. As condições meteorológicas na Primavera / início do Verão provocaram quer um aumento na produção, quer um avanço na maturação, que houve uma disponibilidade muito mais intensa de produtos no início da temporada do que o habitual - em vez de um  fornecimento ao longo de vários semanas. Além disso, as condição mais frias e mais húmidas em Junho e Julho desaceleraram o consumo.

Fonte:  Europa

Produzir no Alqueva




Guilherme Santos

Ter a oportunidade de produzir no Alqueva, é ter a oportunidade de ajudar a escrever um pouco do futuro da agricultura em Portugal. Não há dúvidas do impacto da construção da albufeira. É um novo paradigma para a produção nacional.

O perímetro de rega do Alqueva traz consigo inúmeros desafios aos produtores. Por um lado, será necessário mudar a forma de produzir as culturas tradicionalmente já desenvolvidas na região, pelo facto de passar a existir água disponível. Por outro lado, abre-se a possibilidade de produzir novas culturas, por exemplo hortícolas, que eram praticamente inexistentes na região.

Esta "revolução" está em curso. A chegada da água está a revelar o potencial de produção da região. Este novo cenário trouxe novos players e novas oportunidades. A região está a atrair produtores, organizações de produtores e indústrias. E ainda bem!

A água faz com que tudo tenha de ocorrer mais depressa e para que se possa fazer bem feito é necessário que haja cada vez mais massa crítica e capacidade de trabalhar em conjunto, quer entre produtores, quer entre produtores e a indústria/distribuição.

Nesse particular, as organizações de produtores terão um papel determinante.

A AGROMAIS, organização de produtores da região da Golegã, tem provas dadas na capacidade de juntar produtores, dar-lhes escala e capacidade negocial com a indústria. Desde que foi criada, há mais de 25 anos, foi capaz de criar muito valor aos cerca de 2.000 agricultores da região e é apontada, por muitos, como um exemplo de modelo de agregação da produção. Esta experiência é um ativo invejável.

Foi com este espírito e com o conhecimento adquirido que a AGROMAIS iniciou um projeto na região do Alqueva. Hoje, temos conseguido alargar o número de produtores na região de Alqueva que valoriza o facto de estar associado a uma organização de produtores como a AGROMAIS, garantindo sobretudo que se possa ter uma maior capacidade de negociação e de intervenção junto de clientes e fornecedores, beneficiando de uma estrutura sólida, quer do ponto de vista técnico, logístico e/ou financeiro.

Os produtores "contemplados" com a possibilidade de utilizar água de rega do Alqueva nas suas culturas, têm ainda um longo caminho pela frente e um duro trabalho no desenvolvimento da região, porque muito ainda está por fazer. Mas não tenho a mínima dúvida de que com as suas capacidades produtivas e de trabalho, e com o apoio certo, seremos mais fortes amanhã do que somos hoje.

Winston Churchill, ex-primeiro-ministro Inglês, afirmou um dia: "a história será boa para mim, pois faço questão de a escrever." Creio que nenhuma outra frase elucida tão bem a realidade vivida hoje em dia pelos produtores agrícolas do perímetro de rega do Alqueva.

Guilherme Santos
Departamento Técnico  da   AGROMAIS – Entreposto Comercial Agrícola, C.R.L

Publicado em 14/08/2014

A terra que Sá Carneiro dividiu no Alentejo


12 Agosto 2014
Catarina Fernandes Martins lowres

Em nome de uma reforma agrária social-democrata, Sá Carneiro dividiu a Herdade dos Machados pelos trabalhadores e criou um problema. Há mais de 30 anos que rendeiros e proprietários lutam pela terra.

Há uma pedra no meio do caminho, escondida entre oliveiras abandonadas e flores que crescem em todas as direções. Não foi esculpida por um escultor, não é um monumento. É um pedregulho. Mas não é uma pedra qualquer. Mesmo que não seja fácil ler, por debaixo dos líquenes, as letras brancas nela inscritas.

"Enquanto formos Governo, ninguém vos tirará as terras". Esta é a frase quase apagada, mas que Francisco Farinho, 69 anos, jura não deixar esquecer. "Já tentaram dar cabo das letras com um ferro e um martelo, mas nós avivamos aquilo com uma lata de tinta", diz o agricultor, rendeiro na Herdade dos Machados, uma propriedade agrícola a poucos quilómetros de Moura que em abril de 1975 foi nacionalizada.

Foi com esta pedra que em 1980 o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro tentou dar um exemplo. A reforma agrária do seu Governo haveria de ser "diferente da dos comunistas" e os trabalhadores da Herdade dos Machados seriam compensados pelos cinco anos em que a propriedade esteve nas mãos do Estado. Para isso, foram divididos cerca de 3000 hectares em 338 lotes de terreno, entregues a 94 funcionários que passaram a pagar ao Estado uma renda anual para poderem explorar as terras em seu proveito. Em vez das parcelas de terreno, os trabalhadores podiam optar por receber uma indemnização.

Os proprietários da Herdade dos Machados, que até 1975 detinham mais de 6100 hectares de terreno, receberam, em 1980, 490 hectares.

A Reforma Agrária de Sá Carneiro criou uma manta de retalhos na Herdade dos Machados e deu origem a uma luta pela terra que dura há mais de 30 anos. Nesta exploração agrícola, a ferida aberta depois do 25 de abril ainda não cicatrizou. De um lado estão os proprietários da Herdade dos Machados, que tentam chegar a acordos com os rendeiros para recuperarem os 6000 hectares. Do outro, estão os agricultores, que temem ser expulsos das terras onde trabalham. Todos acusam o Estado de, até hoje, não ter sido capaz de resolver a situação, pagando indemnizações a ambas as partes. O mais recente episódio dessas tensões são as cartas que o Ministério da Agricultura está a enviar aos rendeiros reformados para que estes devolvem as suas terras.

"Foram os únicos que nunca me enganaram", Francisco Farinho, sobre o PCP.
"Ele é mais ruim que o Salazar", diz Francisco Farinho, referindo-se a Sá Carneiro no presente, como se o antigo primeiro-ministro continuasse a atormentá-lo. A pedra que o líder carismático dos social-democratas deixou em Moura é, ao mesmo tempo, uma garantia e uma maldição.

Francisco Farinho nasceu em Pias, a poucos quilómetros de Moura e perto de Baleizão, a terra que viu morrer Catarina Eufémia. Cresceu a ouvir falar de um Alentejo esquecido e subjugado e da prima, presa pela PIDE. Essas histórias deixaram uma marca. Da carteira, tira três cartões de militante no Partido Comunista Português. "Foram os únicos que nunca me enganaram".

Escolhido como representante dos rendeiros do Estado, agarra-se a um pedregulho e à memória de um governante pelo qual não nutre grande simpatia, para lutar por aquilo que lhe foi prometido.


Herdade dos Machados
© Hugo Amaral
"O Estado é que fez isto. Nós trabalhávamos lá"

Vastas planícies douradas e montes discretos. É assim ao longo de 6000 hectares, entre Moura e Sobral d'Adiça. Num dos pontos mais altos da Herdade dos Machados, somos confrontados, como que por acidente, com a quietude imperturbável desta que, durante décadas, foi uma das mais importantes explorações agrícolas em Portugal e onde chegou a estar plantado o maior olival da Península Ibérica. Lá em baixo, o cenário é diferente.

Francisco Farinho mostra-nos os meloeiros em flor que se estendem em fila num retângulo limitado. De imediato, os olhos encontram outra paisagem. O terreno de pastagem, ao fundo, já não lhe pertence. "Estou aqui eu tipo papagaio no meio dos espanhóis", diz, fazendo referência ao grupo Laboreia, que em 2011 comprou parte da Herdade dos Machados.

Perto do local onde está situada a principal casa da Herdade, isolada por arame farpado, encontra-se, inacessível, a aldeia onde, antes do 25 de abril, viviam os trabalhadores.  Ao longe é possível perceber que os telhados de algumas casas estão partidos. O local, a que Francisco Farinho se refere como o 'Bairro da Queijarinha', tinha 12 habitações e uma escola e está abandonado. "Tudo partido. Veja lá se valeu a pena sair…"

Francisco Farinho mostra a casa onde viveu, até 1975, na Herdade dos Machados. O parque habitacional encontra-se abandonado / © Hugo Amaral
Francisco Farinho mostra a casa onde viveu, até 1975, na Herdade dos Machados. O parque habitacional encontra-se abandonado
© Hugo Amaral
Começou a trabalhar na Herdade dos Machados quando tinha 13 anos. Os avós e os pais trabalhavam e viviam aqui, numa dessas casas. O pai nunca soube ler nem escrever, mas ele frequentou a escola dentro da Herdade, ainda que não pudesse descurar a ajuda à família. A educação, diz, foi "tirada atrás dos porcos".

O agricultor viveu aqui até 1975. Depois de a propriedade ter sido nacionalizada, perdeu o emprego. E está determinado a não perder a terra. "Não temos culpa daquilo que aconteceu. O Estado é que fez isto. Nós trabalhávamos lá".

"Nessa altura pintávamos até as costas uns dos outros"

Abril de 1975. No Alentejo dos grandes latifúndios, os sindicatos agrícolas formados desde o ano anterior, exigiam o salário mínimo, o pleno emprego e o direito a férias. Comissões de patrões e de trabalhadores inspecionavam propriedades para determinar se podiam contratar mais mão-de-obra. A Herdade dos Machados, onde trabalhavam 150 pessoas, recebeu centenas de pedidos. Foi obrigada a empregar mais 100 trabalhadores.


Álvaro Cunhal abraça a mãe de Catarina Eufémia no 23º aniversário da morte desta em Baleizão
Fernando Farinha
Nos murais do país e nas bocas das pessoas estavam as palavras de ordem: "A terra a quem a trabalha". Muitas explorações foram ocupadas. A 19 de abril de 1975 foi a vez da Herdade dos Machados, nacionalizada pelo Estado português durante o VI Governo Provisório. Os escritórios de Lisboa da Casa Agrícola Santos Jorge, empresa que detém a Herdade, foram ocupados.

Jorge Tavares da Costa, 60 anos, atual diretor-geral da Casa Agrícola, tinha 21 anos quando viu a avó, Ermelinda Martinez, ser expulsa das terras que lhe pertenciam e diz que "não esquece". "Passou-se um mau bocado", diz, ao lembrar que a família ficou impedida de aceder às contas bancárias e às viaturas da empresa, ao mesmo tempo que era chamada de "fascista", e que a avó recebeu telefonemas com ameaças de morte.

Em junho, o pai de Jorge Tavares da Costa morreu. A chave do jazigo onde deveria ser enterrado estava guardada no escritório da Herdade e "foi difícil obtê-la", diz o empresário agricultor. Nem mesmo a casa de férias da família, na praia das Maçãs, escapou às intenções de ocupação. "Queriam fazer lá uma colónia de férias para os filhos dos trabalhadores".


Jorge Tavares da Costa na Herdade dos Machados. CFM.
No lado oposto, na Comissão de Trabalhadores, estava Francisco Farinho. Fez barricadas, colou cartazes, pintou murais. "Nessa altura pintávamos até as costas uns dos outros", diz, assegurando: "Não estávamos a fazer mal a ninguém. Estávamos a reivindicar".

"Apanhem o posto de trabalho"

Em 1977, foi aprovada a Lei Barreto, que limitou a Reforma Agrária e previa o fim das expropriações, bem como a devolução das terras. Dois anos depois, o ministro da Agricultura Vaz de Portugal pôs fim à intervenção do Estado na gestão da Casa Agrícola Santos Jorge e entregou a empresa aos proprietários. Nessa altura, apenas os escritórios de Lisboa foram desocupados. Mas em 1980, a situação complicou-se com o projeto de Sá Carneiro.

Quando os trabalhadores da Herdade dos Machados tiveram de escolher entre uma parcela de terra ou uma indemnização, muitos foram aconselhados a optar pela terra. "Apanhem o posto de trabalho", lembra-se Francisco Farinho de ouvir dizer. Aqueles que quiseram a terra tiveram direito a cerca de 30 hectares. Foi o caso da mulher e dos irmãos de Francisco, também trabalhadores na Herdade. O agricultor fez as contas e percebeu que a família já tinha à sua disposição quase 100 hectares, terreno suficiente para os quatro. Então, aceitou a indemnização – "cerca de 90 contos" – e criou uma sociedade agrícola com as terras da mulher e dos irmãos. Aí criam borregos e cultivam oliveiras e meloeiros, que em parte vendem, ficando o resto para a subsistência. "É para a gente comer, não para enriquecer", diz.


© Hugo Amaral
Há quatro anos que Francisco Farinho recebe 274 euros de reforma. Dentro de um ano, a mulher poderá reformar-se, passando a receber 300 euros. Todos os meses, conseguem juntar, "entre subsídios e outras coisas", quase 1000 euros. Por ano, o casal paga ao Estado uma renda de 1200 euros. Devido ao baixo valor das reformas, Francisco Farinho diz que não pode deixar de trabalhar. "Se desistirmos das terras passamos a receber 574 euros. Se eu tiver mais oito anos de vida, morro à fome antes do tempo."

Quando os rendeiros morrem, as terras ficam vagas e os herdeiros têm 90 dias para as reivindicar. Os agricultores não podem passar as propriedades aos filhos em vida. Este é um dos principais problemas, segundo os rendeiros, porque muitas vezes isso impede que os filhos tenham acesso aos fundos de apoio a jovens agricultores.

"Eles pensavam que chegavam ali e eram índios"

A lei da Reforma Agrária depois do 25 de abril reconhecia o direito dos proprietários expropriados a uma reserva nas suas propriedades que não podia exceder os 70 mil pontos. A atribuição dessa pontuação era feita através da conversão dos valores dos vários tipos de hectares. Em 1980, depois de Sá Carneiro ter repartido as terras pelos trabalhadores, foi concedida uma reserva de 490 hectares aos proprietários da Herdade dos Machados.

Cinco anos depois da nacionalização da exploração, a família voltou a entrar na Herdade. Jorge Tavares da Costa diz que a casa estava pintada com frases como 'Fora os fascistas' e que durante a primeira noite houve alguma agitação, com "ativistas a fazer barulho". O interior do edifício, no entanto, estava "intacto", o que, segundo o diretor da Casa Agrícola, se deveu à presença de uma funcionária nomeada pelo Estado para guardar as posses da família.

No regresso, a família não estava sozinha. "Vínhamos com receio. Não sabíamos o que íamos encontrar", diz Jorge Tavares da Costa para justificar a escolta por antigos comandos a quem a família pediu proteção.

Francisco Farinho critica a forma como os proprietários regressaram à Herdade. "Eles pensavam que chegavam ali e eram índios. Entraram aqui com seguranças e tudo. Puseram a malta a sair." O representante dos rendeiros pensa que isso "foi uma asneira" e que se tivesse existido diálogo com os trabalhadores "até podia ter nascido uma cooperativa".

"Desde que o Sá Carneiro foi para outro mundo… Quando ele morreu sentimo-nos desamparados", Francisco Patrício, rendeiro reformado
Com o tempo, os ânimos acalmaram. Mas Jorge Tavares da Costa lembra-se de um último episódio mais conturbado. Na noite em que Sá Carneiro morreu, o diretor da Casa Agrícola garante ter ouvido festejar com foguetes. Receosa, a família pediu-lhe que não dormisse na propriedade e Jorge Tavares da Costa acabou por ir para casa de um amigo.

Francisco Patrício, 75 anos, é rendeiro reformado na Herdade, onde começou a trabalhar em 1979, contratado pelo Estado, que precisava de um apicultor. Estava há cerca de um ano na propriedade quando recebeu uma parcela de terra, sendo que a mulher, Catarina Pires, teve direito a outra. Na pequena casa que usa para extrair o mel das colmeias, guarda uma fotografia onde aparece, com outros rendeiros, junto à famosa pedra. Não houve comemorações no dia da morte do antigo primeiro-ministro, diz. "Desde que o Sá Carneiro foi para outro mundo… Quando ele morreu sentimo-nos desamparados".

Francisco Patrício. CFM.
Francisco Patrício. CFM.
"Chamamos a isto acordos mas estamos a comprar o que nos foi roubado"

O contorno da Herdade dos Machados assemelha-se ligeiramente ao do continente africano. Há cerca de 40 anos que Jorge Tavares da Costa tenta pintar de azul toda a área do mapa. Apesar de o proprietário já ter conseguido reunir cerca de 4000 hectares, a exploração continua muito dividida, com as terras dos rendeiros, marcadas a branco, entaladas entre aquelas que pertencem à Casa Agrícola.

"Isto no Alentejo é do mais anti-económico possível", diz, acrescentando que a divisão da propriedade dificulta também o trabalho dos rendeiros, cujas terras recebidas não são contíguas, precisando, por isso, de se deslocar vários quilómetros.

"Foi a vida inteira para recuperar isto". O diretor da Casa Agrícola Santos Jorge gostava de conseguir recuperar a totalidade da propriedade que pertenceu à família, mas diz não estar interessado "naquela ideia antiga do latifúndio". Por isso, em 2011, a empresa fez uma parceria com uma empresa espanhola, Laboreia. Segundo o empresário, se toda a propriedade fosse recuperada, 3300 hectares seriam da Casa Agrícola, enquanto que 2600 caberiam à Laboreia.

Com a entrada dos espanhóis, tornou-se mais fácil recuperar terra. "Precisávamos de financiamento para concluir os acordos com os rendeiros", diz Jorge Tavares da Costa. Se até 2011 conseguiu passar de 490 para 1800 hectares, a partir desse ano, a Casa Agrícola aproximou-se dos 4000 hectares.


A Herdade dos Machados atualmente. A azul, os hectares que estão na posse da Casa Agrícola Santos Jorge. A branco, as terras dos rendeiros do Estado. A cinzento, propriedades em que já houve acordo.
Jorge Tavares da Costa explica que nas negociações com os rendeiros tenta garantir que estes ficam "com qualquer coisa", apesar de não querer revelar valores. "Chamamos a isto acordos mas estamos a comprar o que nos foi roubado", diz, com alguma revolta. Segundo o diretor da Casa Agrícola, se quiserem, os rendeiros podem trabalhar para a empresa. Até porque, diz, não foram eles "os culpados desta situação", assegurando que não há nenhuma animosidade entre ele e os agricultores. "Se houvesse eu estava tramado e não podia viver aqui".

Eduardo Pelica, 54 anos, chegou a acordo com a Casa Agrícola Santos Jorge há cerca de dois. Quando António Francisco Pelica morreu, o filho, Eduardo, ficou com a terra que lhe tinha sido entregue em 1980. Mas para Eduardo Pelica, queijeiro há mais de 30 anos, a agricultura esteve sempre em segundo lugar. Explorou os hectares que tinham sido do pai durante dois anos, até ter sido abordado por Jorge Tavares da Costa. "Se calhar ele sabia que eu não tinha muito vagar para explorar aquilo", diz, não querendo revelar o valor da proposta feita pelo diretor-geral da Casa Agrícola e com a qual acabou por concordar.

O "agricultor queijeiro", como ele próprio diz, admite que teve pena de dar as terras, mas percebeu que não poderia continuar a trabalhá-las. "Ou temos as coisas e tratamos delas ou deixamo-las. Se não começamos a ouvir críticas dos colegas: 'Tem aquilo abandonado…'"


Eduardo Pelica na sua queijaria em Moura
Jorge Tavares da Costa diz que se as parcelas coloridas a cinzento no mapa – que correspondem às terras em que os rendeiros já renunciaram aos contratos de arrendamento, faltando a oficialização pelo Ministério da Agricultura e do Mar – "não voltarem atrás", ficam por recuperar 1800 ou 1900 hectares. Entre esses rendeiros, há alguns "casos menos pacíficos" que, "a seu tempo", serão contactados pela Casa Agrícola, garante.

O empresário acredita que o atual Governo "quer resolver a situação da Herdade dos Machados". Até lá, diz que está a contabilizar todos os prejuízos para que um dia a empresa possa ser compensada. "Quanto mais tarde se resolver, maior prejuízo tem o Estado".

Ao Observador, o antigo ministro da Agricultura do Governo de António Guterres, Luís Capoulas Santos, disse que quis "encerrar o processo da Reforma Agrária, pagando indemnizações aos proprietários que foram expropriados e nunca tinham sido compensados". O ministério da Agricultura terá notificado a Casa Agrícola Santos Jorge, que, segundo Capoulas Santos, "fugiu sempre" de fazer uma contraproposta. "Creio que a Casa Agrícola resistiu o mais que pôde porque se aceitasse a indemnização perderia a terra definitivamente".

Ao Observador, Jorge Tavares da Costa preferiu não comentar esta informação.

O antigo ministro da Agricultura diz que foi o responsável pela regularização da situação dos rendeiros, celebrando contratos de arrendamento no final dos anos 90, depois de uma década em que os Governos de direita "fizeram alterações à lei da Reforma Agrária no sentido de beneficiar mais e mais os proprietários".

"Nos primeiros tempos assustávamo-nos com as cartas. Agora já não"

Os rendeiros queixam-se do mesmo. Ao longo dos anos, foram recebendo cartas do Ministério da Agricultura para abandonarem as terras. Aconteceu em 2003, quando o ministro da Agricultura de Durão Barroso, Sevinate Pinto, publicou um despacho em que defendia a "denúncia" dos contratos de arrendamento". Nessa altura, os rendeiros recorreram para o Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja (TAF de Beja), que lhes deu razão.

Repetiu-se em 2011, quando o atual secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural solicitou um parecer à Procuradoria-Geral da República sobre o despacho de Sevinate Pinto, relativamente ao fim dos contratos de arrendamento. A PGR determinou que o Estado estava proibido de agir contra a sentença do TAF de Beja.

Em junho deste ano, 14 dos 17 rendeiros da Herdade dos Machados que se encontram reformados receberam uma carta onde se lê que o contrato de arrendamento que têm com o Estado português cessa no dia 31 de outubro, uma vez que os reformados "não podem ser beneficiários de entrega para exploração".

Estas cartas estão a deixar os rendeiros da Herdade dos Machados nervosos e revoltados. O apicultor Francisco Patrício e a mulher, Catarina Pires, receberam as cartas e escreveram outra de volta. Já o tinham feito em 2003. "Qualquer pessoa que leia aquela carta gosta porque não ofendemos as pessoas", diz o rendeiro reformado, orgulhoso.  Na altura, Sevinate Pinto quis conhecer o casal e convidou-os a visitarem o seu gabinete em Lisboa. Nessa ocasião, o antigo ministro da Agricultura terá dito "que assinava os papéis sem ler com muita atenção", mas assegurou-lhes que podiam "ficar descansados", porque "não iriam deixar as terras".

"Eles que enchem a boca de Sá Carneiro deviam ter respeito por ele", Francisco Farinho
Quase dez anos depois, a situação repete-se. Francisco Patrício diz-se habituado. "Nos primeiros tempos assustávamo-nos com as cartas. Agora já não", diz o apicultor. Mas irrita-se. "Fizemos despesas. O que fazemos agora?". Ele conhece as regras do jogo. "Há um ditado que diz: 'a corda parte-se do lado mais fraco'. E nós somos o lado mais fraco".

Francisco Farinho, que já contactou um advogado por causa destas cartas, tenta tranquilizar o amigo. "Eles mandam a carta para assustar os velhos. Se calhar o secretário de Estado estava com um copo a mais e fez aquele trabalho". Depois, enche-se de revolta. "Aqueles que têm ali as vacas, o que lhes vão fazer? Levam-nas para o Parque Eduardo VII? Não foi isso que o Sá Carneiro disse. Eles que enchem a boca de Sá Carneiro deviam ter respeito por ele".

Do lado dos proprietários, também há queixas. "O Governo atual teoricamente tem a nossa ideologia, mas isto não se resolve.  Não há coragem para sair desta situação porque mexe com a parte social e as pessoas tremem", diz Jorge Tavares da Costa.  "Vamos continuando neste vale de Lágrimas".


Herdade dos Machados
© Hugo Amaral
No dia em que Francisco Sá Carneiro foi a Moura, Francisco Farinho "tinha mais o que fazer" e ficou em casa. Ainda assim, sabe dizer que "foi tudo à Lagardère". Para marcar a entrega das terras, Sá Carneiro deslocou-se à Herdade dos Machados com o ministro da Agricultura António Cardoso e Cunha. Mataram-se borregos e tiraram-se fotografias para a posteridade. "Foi maravilhoso o dia", diz Francisco Patrício. "Dei os parabéns ao Sá Carneiro. Fiquei todo contente. Consegui apanhar uma terra".

De Montemor, veio a pedra. Em setembro de 1980, talvez antecipando a confusão que se seguiria, Francisco Farinho não quis participar na cerimónia. "Uma pedra daquelas no meio da Reforma Agrária dos comunistas… Ai minha mãe, minha alma!". Para o rendeiro, a pedra de Sá Carneiro foi como "uma lança em África". Francisco Farinho tem uma relação ambígua com a pedra. Desmonta-lhe o simbolismo – "Ele [Sá Carneiro] quis mostrar que tinha razão"; goza com ela - "Veja aí esse Memorial do Convento"; faz troça do espalhafato – "Veio uma máquina, abriu um buraco e espetou lá a pedra". Mas acaba rendido à sua perenidade.  "Afinal de contas ainda ali está. Aquilo é testemunha. Ninguém a consegue arrancar".


Francisco Farinho junto da pedra que assinalou a entrega das terras aos agricultores em 1980
© Hugo Amaral

Mau tempo deixou as videiras do Douro doentes

VINICULTURA

14/8/2014, 15:49
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O tempo húmido originou doenças nas videiras como o oídio e míldio, que atacaram algumas zonas da região demarcada e vão provocar alguma quebra na produção de vinho.


As previsões apontam para uma quebra na produção que pode ir dos 10 aos 15% na Região Demarcada do Douro
DANIEL GIL/LUSA
Autor

lusa
Agência Lusa

O ano no Douro tem sido "atribulado" devido ao tempo húmido, que originou doenças nas videiras como o oídio e míldio, que atacaram algumas zonas da região demarcada e vão provocar alguma quebra na produção de vinho.

É um Douro heterogéneo. Enquanto no Douro Superior a Quinta de Ervamoira começou a vindima mais cedo do que em 2013, mais em baixo há locais onde as maturações estão atrasadas.

As previsões apontam para uma quebra na produção que pode ir dos 10 aos 15% na Região Demarcada do Douro, mas, por estes dias todas as atenções estão concentradas na meteorologia, porque o tempo ainda pode condicionar mais a vindima deste ano.

Carlos Pereira, chefe de divisão de vitivinicultura da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), afirmou que o "ano vitícola no Douro tem sido um pouco atribulado".

As chuvas da primavera criaram condições para o aparecimento de problemas fitossanitários, a nível do oídio e míldio, doenças que, por causa da continuação do tempo húmido, se desenvolverem, obrigando à realização de "um maior número de tratamentos relativamente ao normal".

Por exemplo, na região do Baixo Corgo foi necessário proceder à realização de quatro a cinco tratamentos. A enóloga Gabriela Canossa, da Quinta Maria Izabel, em Armamar, referiu que acabou a fase de tratamentos na vinha e que aguarda agora que a maturação se conclua, frisando que os "próximos 15 dias é que vão ditar tudo".

A especialista salientou que em termos fitossanitários este "foi um ano muito complicado" devido à chuva e humidades, intercaladas com dias de sol muito quente.

"Fizemos seis tratamentos, coisa que nunca nos tinha acontecido. Aqui a média de tratamentos é de três", salientou.

Tratamentos que implicam, na sua opinião, "custos brutais" para os produtores.

A quebra de produção no Douro não é, no entanto, apenas motivada por razões fitossanitárias, mas também devido ao desavinho, um acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto.

Apesar disso, a chuva trouxe vantagens para as zonas mais secas do Douro, que este ano não vão sofrer com o stress hídrico o que, segundo Carlos Pereira, da DRAPN, se poderá traduzir num "melhor rendimento das uvas".

O responsável salientou que o comportamento das videiras e das uvas está a ser "muito heterogéneo", com "muitas diferenças entre as várias regiões" e até mesmo entre cachos nas mesmas videiras, onde se veem bagos maduros e outros ainda em fase de pintor.

Este ano o corte das uvas da casta viosinho começou cerca de 10 dias mais cedo do que no ano passado na Quinta de Ervamoira, da empresa Ramos Pinto.

"Com o calor esperado para este fim de semana eu acho que para a semana provavelmente já vamos começar com alguns tintos", afirmou a enóloga Teresa Ameztoy. A responsável referiu que, na sua zona, onde o calor normalmente é extremo, o processo de amadurecimento foi contínuo, sem bloqueios por causa dos calores muito fortes. Este está a ser, na sua opinião, "um ano temperado".

Também Óscar Quevedo, produtor em São João da Pesqueira, prevê começar a vindima um pouco mais cedo do que no ano passado, referindo que a "maturação das uvas está dentro do normal e até "homogéneo" nesta zona.

Este produtor calcula uma quebra de produção na ordem dos 5% comparativamente com o ano passado.

Quanto à qualidade as expectativas são muito boas na região. "Este ano haverá um bom equilíbrio entre ácidos e açucares e haverá um potencial qualitativo bom", concluiu Carlos Pereira.

CVRVV Chuva no verão apanha desprevenidos produtores de vinho verde


A chuva que se fez sentir este verão "apanhou desprevenidos" alguns produtores de vinho verde que poderão sofrer este ano uma redução nas colheitas, disse à Lusa fonte da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV).
ECONOMIA Chuva no verão apanha desprevenidos produtores de vinho verde Lusa
17:42 - 14 de Agosto de 2014 | Por Lusa
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"A chuva que caiu sobretudo em julho apanhou desprevenidos alguns produtores, porque estávamos numa fase em que normalmente não costuma chover, e as pessoas por vezes atrasam os tratamentos da vinha. Esses produtores mais desatentos acabaram por sofrer alguns ataques de míldio tardio e de oídio que poderão contribuir para reduzir um pouco a produção", afirmou João Garrido.

O engenheiro agrónomo responsável pela Estação Vitivinícola Amândio Galhano em Arcos de Valdevez adiantou que se o tempo não melhor esta situação poderá provocar "alguma podridão" e ter "um efeito negativo na produção".

Segundo dados da CVRVV de 2013 a produção de vinho verde distribui-se atualmente em 20 mil hectares de vinha distribuídos por 48 concelhos do noroeste de Portugal, envolvendo mais de 22.000 produtores que produzem, em média, por ano, cerca de 80 a 90 milhões de litros de vinho verde.

Apesar destes casos em que a chuva desencadeou algumas doenças provocadas pela humanidade João Garrido diz que é prematuro, a mais de um mês do início das vindimas, saber se estas condições atmosféricas irão ou não afetar a produção desta campanha.

"A falta de calor poderá sobretudo atrasar o desenvolvimento da uva e termos uma vindima mais tardia mas tudo poderá ser compensado se agora tivermos uns dias de calor e venhamos a ter a vindima na época normal e com boa qualidade da uva", sublinhou.

O início das vindimas depende da zona do país, explicou, mas o período normal de arranque dos trabalhos é entre 15 e 20 de setembro.

Só caso do tempo não melhorar, sublinhou, a campanha poderá ser adiada para os primeiros dias de outubro.

A Estação Vitivinícola Amândio Galhano é um centro de experimentação e investigação vitivinícola criado pela CVRVV em 1984.

Localizada em Arcos de Valdevez, ocupa uma propriedade conhecida pela Quinta de Campos de Lima, na margem direita do rio Lima, com uma área de 66 hectares.

Foi criada com o objetivo de desenvolver a vitivinicultura desta região e através dos seus trabalhos pretende dar resposta aos problemas dos viticultores.

'Vinho da casa' tem os dias contados


     
15/08/2014 18:34:41 14089 Visitas   
O tradicional vinho da casa tem os dias contados Shutterstock
'Vinho da casa' tem os dias contados

O "vinho da casa" era de venda obrigatória em alguns restaurantes há mais de três décadas, mas esta obrigação legal deixou de existir, segundo a ASAE, porque não há uma tipificação clara dos estabelecimentos aos quais pode ser aplicada. 

A obrigatoriedade por parte dos estabelecimentos de restauração de ter à disposição do consumidor "o vinho da casa" deixou de existir
Os restaurantes de 2.ª e de 3.ª, os estabelecimentos de bebidas de 2.ª e de 3.ª e os estabelecimentos sem interesse para o turismo "deverão obrigatoriamente ter à disposição do consumidor o 'vinho da casa' e fazer constar o seu preço, quer da carta de vinhos quer das ementas das refeições com o respectivo preçário", lê-se numa portaria de 1984.

Em meados de 2011, por portaria do Governo, e para dar cumprimento ao licenciamento zero previsto no programa SIMPLEX, foi aprovado o regime de classificação de estabelecimentos de restauração ou de bebidas.

A nova tipologia qualificou dois grupos: os estabelecimentos de restauração (alimentação e bebidas) e os estabelecimentos de bebidas (com serviço de bebidas e de cafetaria).

"Como as várias definições não são similares torna-se impossível fazer a correspondência entre os estabelecimentos indicados" na portaria de 1984 que obriga à disponibilização do "vinho da casa" em alguns estabelecimentos, explica a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) numa nota publicada no 'site'.

A identificação dos estabelecimentos de restauração e bebidas que são considerados de 2.ª e de 3.ª é "impossível", frisa, precisando que também não existe legislação específica nesse sentido.

"Assim, sendo inexequível a aplicação da referida portaria [de 1984], por não existir uma tipificação clara dos estabelecimentos de restauração ou de bebidas a que a mesma seria aplicável, a mesma está tacitamente revogada, tendo deixado de existir", acrescenta a ASAE.

Em consequência, a obrigatoriedade por parte dos estabelecimentos de restauração e de bebidas de ter à disposição do consumidor "o vinho da casa" também deixa de existir.

Lusa/SOL

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Campanha “Vinho com moderação” da FENADEGAS segue agora para o Algarve

A primeira ação decorreu a 5 de agosto no Bombarral
 

15 de agosto, na FATACIL e 16 de agosto no colóquio "Vinho e Saúde", em Lagoa, no Algarve
 
 
Depois da sensibilização no Festival do Vinho Português no Bombarral, a Federação Nacional de Adegas Cooperativas (FENADEGAS) parte para mais duas ações com o programa "Vinho com moderação", a alertar para um consumo responsável. A próxima iniciativa decorre a 15 de agosto na Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa (FATACIL), em Lagoa, no Algarve, com a entrega de brochuras informativas que frisam a importância de um consumo regrado de álcool. A iniciativa parte depois, a 16 de agosto, para o colóquio "Vinho e Saúde", também em Lagoa, aberto ao público em geral, onde a FENADEGAS vai ter a oportunidade de conversar com os consumidores, especialmente os mais jovens, sobre a problemática do abuso de álcool e familiarizá-los com as consequências.
 
O programa "Vinho com moderação" pretende, mais uma vez, alertar para os consumos excessivos de álcool. Na FATACIL, a FENADEGAS vai estar presente no dia da abertura onde serão distribuídas brochuras informativas que promovem um consumo regrado de álcool, frisando ainda a importância do vinho como um alimento que melhora a qualidade de vida se associado a uma alimentação equilibrada. A FATACIL conta já com 35 edições e trata-se do principal certame do sul do país onde os vinhos algarvios são o centro das atenções nas várias provas da feira.
 
A FENADEGAS vai ainda marcar presença no colóquio "Vinho e Saúde", no convento de S. José, em Lagoa, pelas 10h00, onde, para além das brochuras informativas, vai promover uma sessão de sensibilização junto do público para refletir sobre os consumos excessivos de álcool em Portugal.
 
"Vinho com Moderação" é um programa internacional, levado a cabo pelo setor do vinho Europeu, que pretende sensibilizar jovens para o consumo responsável de álcool, à qual a FENADEGAS se associou em 2009.
 
Em 2014, a FENADEGAS vai para promover o "Vinho com Moderação" através de ações em escolas, universidades e politécnicos e certames ligados ao setor. No total, são sete as feiras e 21 as ações em sala em conversa com o público a decorrer este ano.
 
Sobre a Fenadegas

A Federação Nacional das Adegas Cooperativas de Portugal foi fundada em 1981, por um conjunto de 24 adegas. Atualmente conta com 56 cooperativas associadas diretamente e ainda com três Uniões – UNIDOURO, UDACA e VERCOOPE –, representando quase todas as regiões do país.

fonte: mediana

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Guerra das bananas. Brasileiros contra-atacam e oferecem 455 milhões pela Chiquita

Joseph Safra e produtora de sumo de laranja Cutrale querem comprar Chiquita


Brasileiros oferecem 13 dólares por ação
D.R.
12/08/2014 | 11:16 |  Dinheiro Vivo
Em março deste ano, a norte-americana Chiquita e a irlandesa Fyffes anunciaram a fusão, que daria origem à ChiquitaFyffes e àquela que seria a maior empresa e distribuidora de bananas do mundo.
A operação, que deveria ser concluída ainda este ano, seria feita totalmente em ações, num total de 1,07 mil milhões de dólares. Mas, agora, o Brasil entrou na guerra das bananas e duas das famílias mais ricas do país fizeram uma oferta milionária pela Chiquita, noticia esta terça-feira o Financial Times.
O milionário brasileiro Joseph Safra, banqueiro e um dos mais ricos do mundo, e a empresa familiar Cutrale, produtora de sumo de laranja, fizeram uma oferta de 610,5 milhões de dólares (455,79 milhões de euros) em dinheiro para adquirir a Chiquita. Segundo Financial Times, a Cutrale e o grupo de investimento de Safra ofereceram 13 dólares por ação aos acionistas da Chiquita e esperam que a oferta seja aceite esta semana.
Leia também: Negócio das bananas. Fusão entre Chiquita e Fyffes cria maior distribuidora mundial
Numa carta enviada ao presidente executivo e chairman da Chiquita, citada pelo mesmo jornal, a Cutrale e Joseph Safra afirmaram que seriam capazes de fechar o acordo no mesmo prazo a que se tinha comprometido a Fyffes, mas "sem o risco de execução e incerteza inerentes a essa transação".
Safra e a empresa de sumos já estavam de olho na Chiquita há algum tempo, mas estavam à espera que fosse suspensa a ação judicial que foi levantada contra a empresa norte-americana, que foi acusada, por mais de 4 mil colombianos, de ter financiado um grupo paramilitar que torturou e matou familiares seus.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Temperaturas mínimas descem esta terça-feira



Nas regiões do Minho e Douro Litoral esperam-se períodos de chuva ou aguaceiros fracos partir do início da tarde
As temperaturas mínimas descem ligeiramente esta terça-feira, em todo o continente.

Para todo o país, prevê-se céu pouco nublado ou limpo, aumentando gradualmente de nebulosidade a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela.

Nas regiões do Minho e Douro Litoral esperam-se períodos de chuva ou aguaceiros fracos partir do início da tarde, estendendo-se gradualmente ao litoral Centro.

O vento soprará fraco a moderado e as temperaturas máximas vão manter-se praticamente nos mesmos valores dos últimos dias. Lisboa deverá chegar aos 26 graus, o Porto aos 23 graus e Faro aos 31. No interior, os termómetros não deverão exceder os 33 graus, no Alentejo, e os 28, no norte transmontano.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Escândalo de venda de carne estragada obriga empresas a revelar fornecedores

   
11/08/2014 08:47:35 2408 Visitas   
No caso do McDonalds, o problema também afectou vários estabelecimentos no Japão TonyV3112/Shutterstock


Escândalo de venda de carne estragada obriga empresas a revelar fornecedores
Cinco cadeias de restauração internacional devem passar a informar a origem dos ingredientes usados nos seus menus em Xangai, depois de um escândalo de venda de carne estragada ter afectado os seus estabelecimentos na China, informou hoje o China Daily. 

O caso gerou, durante vários dias, problemas de abastecimento em muitos restaurantes
As cadeias de restauração são a McDonalds, KFC, Burger King, Dicos e Carls Jr.

As autoridades chinesas emitiram a ordem, difundida no fim-de-semana, depois da descoberta de que a fábrica Husi instalada em Xangai tinha vendido carne podre a alguns estabelecimentos destas empresas. 

Quando o escândalo veio a público, no final de Julho, as multinacionais deixaram de usar produtos fornecidos pela Husi, e vários executivos da empresa foram detidos. 

O caso gerou, durante vários dias, problemas de abastecimento em muitos restaurantes das empresas afectadas na China, com alguns estabelecimentos a deixarem de vender produtos derivados de carne. 

No caso do McDonalds, o problema também afectou vários estabelecimentos no Japão, onde parte dos panados de frango (McNuggets) vendidos continha carne procedente da fábrica da Husi em Xangai.

Lusa/SOL

A importância do conhecimento na agricultura

Opinião 
 Armando Sevinate Pinto 10/08/2014 - 13:26 


No último texto publicado neste jornal, afirmei a minha convicção de que o investimento produtivo e o conhecimento eram dois pilares nos quais se teria que basear o nosso desenvolvimento agrário. Disse, então, o que pensava sobre o investimento. Referir-me-ei agora ao conhecimento.

 Uma das poucas questões que, no domínio agrícola, não suscita opiniões divergentes, é o reconhecimento do contributo decisivo da fileira do conhecimento (investigação, ensino, formação, divulgação), para o extraordinário progresso alcançado pela agricultura europeia e mundial, ao longo das últimas décadas, depois da última guerra.

A nível europeu, nessa altura, o desafio lançado à fileira do conhecimento e à investigação em particular, foi enorme. Tratava-se de aumentar a produção de uma Europa muito fragilizada e carente de bens alimentares. A segurança alimentar, em termos quantitativos, era um objectivo claro e a Europa estava disposta a proporcionar à investigação agrária todos os meios disponíveis e a aceitar, quase sem limitações, os métodos por esta utilizados.

Seguiu-se um período de grande dinamismo, com a investigação e o ensino a orientarem-se para quatro direcções principais: o controlo dos factores limitantes da produção; o desenvolvimento da mecanização; o desenvolvimento dos fertilizantes químicos e dos produtos fitossanitários e zoossanitários; e o melhoramento das variedades vegetais e das raças animais.

O objectivo comum era o aumento da produtividade física e os resultados foram espectaculares.

Nas décadas de setenta e oitenta, sem abandonar a opção produtivista, a Europa associou-se a novos objectivos, como a luta biológica, a energia, a gestão dos solos e da água e as tecnologias de informação. Só já no fim dos anos oitenta a comunidade científica e técnica começou a dar atenção sistemática e organizada à extensificação, à qualidade, ao ambiente e, ainda, à economia (ao contrário do que aconteceu nos EUA, onde a dimensão económica do progresso técnico e científico foi bastante mais cedo tida em conta).

Muitos erros terão sido cometidos, entre os quais "o descuido" ambiental, cuja factura estamos ainda a pagar, mas também o progressivo afastamento dos homens da ciência relativamente aos homens da terra, com o aumento do seu fascínio pela distante investigação fundamental.

Entretanto, em Portugal, apesar da nossa dimensão, registámos em tempos passados, alguns exemplos notáveis, ainda que pontuais, de desenvolvimento agrário baseado no esforço da nossa investigação, ensino e formação, quer dos diferentes organismos do Estado, quer de organizações e empresas privadas que desenvolveram projectos técnicos e científicos com mérito indiscutível (pomicultura, subericultura, tomate para indústria, vinha, pastagens e forragens, etc.).

Nas últimas décadas, no entanto, assistiu-se a uma evolução negativa da investigação agrária, resultante de três situações distintas e de sinal divergente:

       - Um claro enfraquecimento das condições de investigação* e da acção concreta dos organismos do Estado, muitos dos quais foram até extintos;

       - Um alargamento e maior dinamismo das acções de investigação realizadas pelas universidades e institutos politécnicos;

       - Uma crescente integração da investigação portuguesa* em projectos europeus, financiados pelos sucessivos Programas Quadro, normalmente, em colaboração com organismos de outros Estados-membros.

O resultado da conjugação destas três tendências não tem sido famoso.

De facto, o significativo enfraquecimento da acção concreta desenvolvida pelos organismos do Estado na área agrícola, florestal e agro-industrial, não foi suficientemente compensado pelo seu alargamento nas universidades e politécnicos e pelo aumento da participação de investigadores portugueses em projectos financiados pela União Europeia que, apesar de interessantes e com alguns aspectos positivos, tem-se frequentemente desviado de interesses práticos em termos nacionais.

Assim, e embora se trate evidentemente de um assunto controverso, tal como a minha opinião também o será, considero que é na área do conhecimento, a par com os seus fracos recursos naturais, que a agricultura portuguesa tem hoje as maiores desvantagens comparativas para poder concorrer, em condições mínimas de igualdade, com os seus concorrentes, no mercado interno e externo.

A carência de conhecimento prático, adaptado às nossas necessidades específicas, não é, evidentemente, completamente generalizada. Há, entre nós, excepções pontuais e casos de sucesso e até de excelência, que deveriam ser estudados para melhor se compreender as razões da sua existência.

As carências não derivam exclusivamente da falta de produção científica, mas também de evidentes fragilidades no ensino agrário no seu conjunto (apesar de termos 14 escolas de ensino superior agrário - 6 universidades e 8 politécnicos - o seu excesso e descoordenação são dois dos seus males) e, obviamente, na ineficácia da transmissão do conhecimento, até aos seus utilizadores finais, sempre que ele está disponível na origem. Isso acontece, quer pela insuficiência de estruturas de intermediação, quer por múltiplas outras razões, até culturais, que afastam uma grande parte dos agricultores do conhecimento técnico e científico.

Infelizmente, em matéria de conhecimento técnico/científico incorporado em práticas agrícolas, florestais e agro-industriais, temo-nos vindo a afastar de muitos países da União Europeia, onde se procura, activamente, modernizar, inovar e encontrar os caminhos de uma nova agricultura, competitiva e sustentável. Uma agricultura que dê resposta aos grandes desafios, quer os do nosso tempo, quer aqueles que, não estando ainda completamente presentes, já produzem sinais de grande aproximação (como, por exemplo, as alterações climáticas).

Apesar das dificuldades, podemos e devemos ter um sector agrário multifuncional e muito mais desenvolvido do que o actual. Os portugueses podem e devem, legitimamente, aspirar a um desenvolvimento agrário que contribua, de forma mais significativa, para o nosso abastecimento alimentar, para o reequilíbrio da balança comercial e para o aumento do valor acrescentado do sector, que será, aliás, a única maneira de aumentar o rendimento do conjunto dos agricultores e assegurar a sua permanência na actividade.

Há duas maneiras para que isso possa acontecer:

- Uma primeira, através de investimentos, significativos e continuados, exclusivamente na modernização das unidades produtivas. É um caminho que teria resultados positivos no curto prazo, mas não duráveis e que, a médio prazo, se esgotaria por falta de sustentabilidade;

- Uma segunda, fazendo acompanhar esses investimentos por um grande esforço de aquisição e de transmissão de conhecimentos, articulando o ensino com a investigação e com a formação profissional, atribuindo meios, humanos e materiais, e prioridades bem definidas a estas três frentes, no âmbito de um projecto comum.

Engenheiro Agrónomo (ISA)

*Infra-estruturas, equipamentos e pessoal qualificado, em resultado de condições financeiras disponíveis muito limitadas.

 Nota final: Estava a escrever este texto quando soube, através da imprensa, que, por falta de financiamento público, poderia estar em causa a sobrevivência do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM) da Universidade de Évora. Parece que, no quadro de uma avaliação encomendada pela FCT, este instituto teria atingido, apenas, a classificação de bom e não de excelência. Fiquei de tal maneira desolado, que a única forma de terminar este texto, é dizendo que, Portugal poderia e deveria, de facto, desenvolver a sua agricultura mas, assim, é muito difícil acreditar que o consigamos fazer.

domingo, 10 de agosto de 2014

Governo dos Açores garante "acompanhamento permanente" à situação das cooperativas

Classifica de infundadas declarações de deputado do PCP. 

07 de Agosto 2014 

A Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente dos Açores assegurou esta quinta-feira que dá um "acompanhamento permanente" à situação das cooperativas na região, classificando de "totalmente infundadas" declarações do deputado do PCP sobre o setor. Em comunicado, aquele gabinete sublinha que "são totalmente infundadas as declarações do deputado do PCP sobre o relacionamento com o setor cooperativo da Região, tendo em conta que o Governo dos Açores (...) tem desenvolvido um acompanhamento permanente da situação das cooperativas, em geral, e das de lacticínios, em particular". O líder do PCP nos Açores, Aníbal Pires, desafiou na terça-feira, no final de uma visita à ilha das Flores, o Governo Regional a encontrar novas metodologias de relacionamento e responsabilização com o setor cooperativo para o ajudar a ultrapassar as dificuldades que atravessa, nomeadamente através da disponibilização de apoio técnico para a gestão comercial, económica e financeira e na tentativa de reestruturação das dívidas junto da banca.